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Declaração Universal dos Direitos Humanos é ilustrada por 30 artistas

Maria Carolina Santos / 05/12/2018

Declaração completa 70 anos. Imagem: Felipe Vaz/ Simone Mendes/ Guilherme Moraes

Em 1948, com o mundo se recuperando da Segunda Guerra Mundial, a então recém-criada Organizações das Nações Unidas lançou um documento em prol da dignidade. Em 30 artigos, a Declaração Universal dos Direitos Humanos expunha o que a guerra e as desigualdades arrancavam de tantos povos: o direito a terra, o direito de ser livre, o direito de ter uma nação. Setenta anos depois, o Brasil viveu uma campanha eleitoral em que os direitos humanos foram colocados como vilões. E o candidato que defendia essa vilanização foi o escolhido pela maior parte dos eleitores.

É, então, com um sentimento de reafirmação que o coletivo de arte urbana Mutirão lança nesta quinta-feira (7) no espaço Apolo 235 uma exposição com uma versão ilustrada dos 30 artigos da DUDH. Foram convidados 30 artistas – 15 homens, 15 mulheres – para colocar em imagem o que diz cada um dos artigos. (confira no site www.direitoshumanos70anos.com todos os 30 artigos e ilustrações)

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“Este contexto político foi bem complexo. O primeiro ponto é que a gente está reinterpretando um documento de 70 anos. Não são mensagens novas e a carta já passou por diversas ondas políticas, tanto nacionalmente como pelo mundo”, comenta Celso Filho, um dos idealizadores do projeto, ao lado de Raul Souza.

A Declaração Universal dos Direitos Humanos (DUDH) foi elaborada por representantes de diferentes origens jurídicas e culturais, de várias regiões do mundo, capitaneados pelo jurista canadense John Peters Humphrey, responsável pelo primeiro rascunho da declaração. A DUDH foi proclamada pela Assembleia Geral das Nações Unidas em Paris em 10 de dezembro de 1948, como uma norma a ser alcançada por todos os povos e nações. Desde sua adoção, a DUDH foi traduzida em mais de 500 idiomas – o documento mais traduzido do mundo.

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“Mas hoje a Declaração tem um peso forte por conta dessa onda reacionária, ela é um alvo. Outra coisa interessante é que o período de produção dos ilustradores foi exatamente do primeiro até o segundo turno. Foi uma experiência bem confusa, mexeu muito os ânimos. Estava todo mundo atordoado e tivemos que nos unir e trazer uma mensagem positiva”, conta.

Os artistas ficaram livres para escolher como retratar cada um dos artigos – a escolha artigo-artista foi feita por sorteio. Filha do ator e dramaturgo João Denys, Hana Luzia recorreu a uma memória de infância, uma foto de uma peça de Augusto Boal em que o pai dela atuou. “Fiquei com o artigo 9º, que trata tanto sobre não ser preso arbitrariamente, como não ser exilado. Pensei em como retratar prisão e exílio numa mesma imagem e foi aí que me veio a lembrança da peça Murro em ponto de faca, de 1980, dirigida por Marcus Siqueira, que trata exatamente sobre esses temas”.

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Na foto, o personagem, interpretado por João Denys, está sendo preso em uma mala. “E isso capturou bem o espírito do artigo. A prisão, forçada, e a mala, que é um símbolo de viagem”, conta a artista.

Antes mesmo de saber que artigo iria ilustrar, a cearense Biarritzzz já sabia que iria abordar a questão indígena. “Lá no Ceará se tem uma noção mais próxima de que somos todos indígenas. Aqui em Pernambuco é algo muito casa grande X senzala, de brancos e negros, e os índios são esquecidos. Se debate tanto raça, mas há uma invisibilidade da questão indígena”, comenta.

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O artigo que caiu nas mãos dela foi perfeito para o tema: o 17º, que trata sobre o direito à propriedade. Além de retratar a questão indígena, Biarritzzz colocou referências ao movimento Ocupe Estelita, com excertos da maquete do projeto Novo Recife (que pretende construir um complexo de edifícios na área do Cais Estelita) e frase de deboche sobre a construtora responsável pelo projeto.

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Lambe-lambes e encarte

Além da exposição desta quinta-feira, as ilustrações e seus respectivos artigos irão se transformar em lambe-lambes que irão ocupar paredes e tapumes do centro e da periferia do Grande Recife.

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O projeto também conta com uma publicação impressa, com três mil cópias, viabilizada por meio de uma parceria com a Revista Continente. É no formato do Suplemento Pernambuco, próximo do A3. Metade dos exemplares será distribuídos na exposição desta quinta e com os artistas participantes. A outra metade irá encartada na revista do mês de dezembro.

O projeto todo foi voluntário e, além da revista Continente, teve apoio do Ministério dos Direitos Humanos, responsável por providenciar as ampliações da exposição física.

Serviço
Edição Ilustrada – Direitos Humanos 70 anos
Quando: Quinta-feira (06), a partir das 19h
Onde: Apolo 235 (Rua do Apolo, 235, Recife Antigo)
Mais informações: www.direitoshumanos70anos.com

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AUTOR
Foto Maria Carolina Santos
Maria Carolina Santos

Jornalista pela UFPE. Fez carreira no Diario de Pernambuco, onde foi de estagiária a editora do site, com passagem pelo caderno de cultura. Contribuiu para veículos como Correio Braziliense, O Globo e Revista Continente. Ávida leitora de romances, gosta de escrever sobre tecnologia, política e cultura. Contato: carolsantos@gmail.com