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Empresa Camil destrói plantações de moradores do Engenho Serraria

Maria Carolina Santos / 16/01/2019

Foto: Rafael Izidoro/Cortesia

Atualizada no dia 17/01/2019

Moradores do Engenho Serraria, no Cabo de Santo Agostinho, foram surpreendidos na manhã desta quarta-feira por funcionários da empresa alimentícia Camil que chegaram com motosserras e começaram a destruir plantações. De acordo com o autônomo Rafael Izidoro, de 25 anos, que mora com a família no local, cerca de sete funcionários entraram no terreno por volta das 9h e permaneceram no local até por volta das 13hdestruindo plantações de feijão, mangueiras e cajueiros.

Parte do terreno do Engenho Serraria é ocupado por dez casas, que foram doadas pela antiga empresa Santo Inácio. “Quando a empresa fechou, não tinha como pagar aos funcionários. Então, deram essas casinhas, com documentação e tudo. Meu pai, de 76 anos, nasceu e foi criado aqui. Mas quando Suape chegou, disseram que todos deveríamos sair, mas nunca pagaram a indenização”, conta Rafael.


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De acordo com o morador, um representante da Camil, que não se identificou, chegou ao local afirmando que a empresa havia comprado o terreno por R$ 120 mil de Suape e que os moradores deveriam sair do local. “Não apresentaram nenhum mandado, nenhum documento, nada”, conta Izidoro. Ao deixar o local, o representante da Camil falou que iria calcular um valor para pagar ás famílias pelas plantações destruídas, afirmou Refael.

Por nota, o Complexo Industrial Portuário de Suape afirmou que no dia 28 de junho de 2018, “a família do Sr. Rafael Izidoro, acompanhada do líder comunitário Edvaldo Bezerra (União das Associações do Cabo e de Ipojuca), foi recebida pela Diretoria de Gestão Fundiária e Patrimônio de Suape para uma reunião. No encontro, foi explicado que o terreno onde a família estava realizando plantações no Engenho Serraria pertence à empresa Camil, cujas licenças operacional e ambiental foram emitidas pelos órgãos competentes e encontram-se vigentes”.

De acordo com a nota, a Camil também possui a escritura do terreno, lavrada em cartório, “informação que também foi repassada aos presentes na reunião. Dessa forma, a família não teria direito à indenização por parte de Suape, visto que estava realizando plantações em área privada”. ACamil comprou o terreno junto à LPP III Empreendimentos e Participações S.A.

O Fórum Suape, organização que acompanha os conflitos na região, orientou a família de Rafael a chamar a polícia, que não chegou a ir ao local. “Depois vamos acionar o Ministério Público de Pernambuco. Essas famílias tiram o sustento do sítio, não se pode chegar no local e destruir o que elas plantam e vendem”, afirma a advogada do Fórum, Mariana Vidal.

De acordo com ela, a crise em Suape está dando espaço para uma nova modalidade de atuação contra os moradores da área. “Antes, Suape indenizava e retirava as famílias de acordo com a chegada das indústrias. Agora, Suape arrenda as terras e as empresas ficam responsáveis pela retirada dos posseiros”, conta.

As táticas de intimidação, porém, foram mantidas. “O que a Camil está fazendo hoje não é diferente do que Suape fazia antes, de entrar nos terrenos sem aviso, de cortar plantações. Alguns moradores voltavam de viagem e encontravam a casa destruída. Mas agora fica mais difícil cobrar uma resposta, pois fica descentralizado, já que Suape está se omitindo e repassando a negociação da retirada dos moradores para as empresas”, afirma Mariana.

A Marco Zero entrou em contatocom a Camil, que preferiu não se pronunciar sobre o caso.

AUTOR
Foto Maria Carolina Santos
Maria Carolina Santos

Jornalista pela UFPE. Fez carreira no Diario de Pernambuco, onde foi de estagiária a editora do site, com passagem pelo caderno de cultura. Contribuiu para veículos como Correio Braziliense, O Globo e Revista Continente. Ávida leitora de romances, gosta de escrever sobre tecnologia, política e cultura. Contato: carolsantos@gmail.com