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Geraldo nem lançou programa de governo novo, nem cumpriu integralmente o de 2012

Laércio Portela / 14/10/2016

naoebemassimSite“Nós fizemos um programa. Apresentamos à população. A população votou, nos elegeu. Durante o governo nós cumprimos esse programa. E além de cumprir esse programa, nós trouxemos ideias novas, projetos novos para dentro dele. E, agora, durante a campanha, a gente está trazendo mais ainda. Então já existe um programa”, Geraldo Julio no Jornal do Commercio de 13 de outubro.

Poucos simbolismos são tão fortes na política quanto o cumprimento da palavra empenhada. Numa candidatura à reeleição esse é o mote principal para a “renovação de votos” entre o mandatário e o eleitor: ter cumprido o roteiro traçado quatro anos antes para o mandato. Consciente sobre o aspecto central dessa mensagem, o prefeito Geraldo Julio afirmou em recente entrevista aos principais veículos de comunicação pernambucanos que cumpriu o seu programa de governo e, ao contrário do que questionou a imprensa, ele tem sim um novo leque de propostas para os próximos quatro anos.

OTruco Eleições 2016– projeto defact-checkingdaAgência Públicaem parceria com aMarco Zero Conteúdoem Recife – checou a declaração de Geraldo Julio e concluiu que o prefeito não cumpriu integralmente o programa projetado em 2012, deixando mesmo de tirar do papel itens centrais da carta compromisso fechada com o eleitor. Se é verdade que o candidato tem lançado novas propostas, por outro lado, elas não ganharam o mesmo status e detalhamento de quatro anos atrás. Por isso, Geraldo recebe a carta “Não é bem assim”.

Em 2012, o candidato a prefeito Geraldo Julio registrou em cartório o seu programa de governo. Um documento de 56 páginas com cinco grandes eixos de ações e 24 áreas com dezenas de propostas. Algumas delas bastante detalhadas, como foi o caso, por exemplo, do Hospital da Mulher. Neste ano, o primeiro turno se encerrou sem que o candidato tenha apresentado formalmente um novo programa. As novas propostas foram lançadas diretamente nos programas de rádio e de TV e nas redes sociais do candidato socialista numa quantidade bem inferior do que há quatro anos.

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Uma página no site oficial de Geraldo Julio, no entanto, sugere que havia a ideia de lançar um documento no modelo de 2012 durante a campanha à reeleição. O texto, no ar desde agosto, diz que as propostas para a próxima gestão estão sendo discutidas com a sociedade e que, “em breve”, estarão disponíveis na íntegra para todos poderem consultá-las. Mas, ao final da segunda semana do segundo turno, a seção “programa de governo” do site do candidato psebista continua vazia.

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As promessas que estão sendo apresentadas nos programas de rádio e TV são pontuais e não chegam nem perto do arcabouço propositivo de quatro anos atrás. Agora, pontualmente, foram lançadas as propostas deconstrução do Hospital do Idoso(sem o mesmo nível de detalhamento do Hospital da Mulher), abertura de mais 1.500 vagas de creches, requalificação da Conde da Boa Vista “para consertar os erros do PT”, intervenções (sem detalhar) nas Avenidas Norte e Agamenon Magalhães, ampliação dos corredores exclusivos para ônibus (sem quantificar) e ciclofaixas (também sem quantificar), ações nos morros, como a implantação de geomantas, iluminação, corrimões e contenção de encostas. Na educação, a novidade é o projetoDo Recife para o Mundo, que pretende levar alunos do 9oano para intercâmbios fora do país.

Mas do que projetar as ações futuras, a campanha de Geraldo tem se apegado ao lema de que agora a gestão faz bem feito: sob a administração socialista teria se implantado um novo padrão de qualidade nas obras e ações que saíram do papel.

Quanto ao cumprimento do programa de 2012, a afirmativa do prefeito de que ele foi cumprido é bastante questionável. O Marco Zero Conteúdo levantou algumas das propostas que não atingiram as metas traçadas em 2012 nas áreas de saúde, segurança, educação, mobilidade, esportes e gestão financeira.

Na educação básica o prefeito não só não cumpriu a promessa de construir 42 Centros Municipais de Educação Infantil (creches-escolas) com a abertura estimada de 5 mil vagas (só dez saíram do papel), como reduziu a meta para os próximos quatro anos para 1.500 vagas. Lançamos umdesafio público ao prefeitopara que ele explicasse o não cumprimento da promessa, mas sua assessoria não respondeu os questionamento enviados peloTruco Eleições 2016.

Outra promessa na educação ficou bem aquém da meta traçada em 2012: o ProUni Recife. Das 4.100 bolsas integrais e parciais prometidas para que os alunos e professores pudessem estudar em universidades privadas foram ofertadas até o momento 735. Embora o prefeito tenha dito que antes do seu projeto os jovens de classes sociais mais baixas não tinham acesso à universidade, oTrucomostrou que isso não é verdade. Oprefeito tem omitido o impacto muito maior do ProUni federal na capital pernambucana.

Na mobilidade, o prefeito também ficou devendo. Dos 76 quilômetros de ciclovias e ciclofaixas prometidos “nos principais corredores viários da cidade”,apenas 17,7 foram implantados, menos de um terço. Na segurança, dos cinco Compaz (Centros Comunitário da Paz) anunciados em 2012, até o momento apenas o do Alto Santa Terezinha foi entregue e mais um (Cordeiro) vai ficar pronto ainda em 2016.

O ginásio do Geraldão, que aparece no programa de 2012 com a promessa de se tornar “o principal centro de excelência esportiva municipal”,permanece fechado depois de recorrentes atrasos nas obras de reforma. Em entrevista no primeiro turno à TV Globo, o prefeito previu a reinauguração do ginásio para o final deste ano. Mas, numa pesquisa ao Diário Oficial do Município, o Truco descobriu que a Prefeitura e a Cinzel Engenharia LTDA, empresa responsável pela reforma, assinaram um aditivo ao contrato com validade até outubro de 2017. Questionada peloTrucosobre um possível novo adiamento, a assessoria de imprensa da Prefeitura do Recifenão se manifestou.

Na saúde, das 20 Upinhas prometidas, metade foi entregue à população e outras duas estão em obras. Na gestão financeira, a promessa de ampliar a capacidade de investimento da Prefeitura funcionou nos dois primeiros anos da administração e, embora o prefeito continue afirmando que dobrou a capacidade de investir da administração municipal,levantamento feito pelo Trucocomprovou o maior comprometimento da receita com pagamento de pessoal e encargos e a redução efetiva dos investimentos no segundo biênio do governo psebista.

(Laércio Portela · Thayná Campos)

AUTOR
Foto Laércio Portela
Laércio Portela

Co-autor do livro e da série de TV Vulneráveis e dos documentários Bora Ocupar e Território Suape, foi editor de política do Diário de Pernambuco, assessor de comunicação do Ministério da Saúde e secretário-adjunto de imprensa da Presidência da República