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Trabalhadores protestam contra a reforma da Previdência e anunciam greve geral

Mariama Correia / 02/05/2019

Cauã Gomes Ribeiro é estudante e participa do diretório acadêmico da Universidade Federal de Pernambuco. Também faz parte da União da Juventude Comunista. Aposentadoria é algo muito distante do seu horizonte de jovem universitário, mas ele está preocupado. “A gente entende que se a reforma da Previdência for aprovada, as principais prejudicadas serão as futuras gerações de trabalhadores”, considerou.

A luta contra as mudanças nas aposentadorias propostas pelo Governo Federal foi o ponto de convergência dos trabalhadores brasileiros neste 1º de Maio – Dia do Trabalhador. Pelo país, centrais sindicais realizaram atos unificados para marcar a data levando a defesa da Previdência pública como principal bandeira. No Recife, sete centrais sindicais, movimentos sociais, partidos políticos e trabalhadores de vários segmentos se reuniram na praça do Derby, durante a manhã da quarta-feira (1). As entidades aproveitaram o evento para anunciar uma greve nacional no dia 14 de junho.

“Queremos barrar o texto apresentado pelo governo, que é inspirado em experiências desastrosas de outros países como o Chile, onde centenas de pessoas estão cometendo suicídio porque não conseguem sobreviver com a aposentadoria”, comentou Paulo Rocha, presidente da Central Única dos Trabalhadores em Pernambuco (CUT-PE).

Ato unificado reuniu sete centrais sindicais e trabalhadores no Recife

Rinaldo Júnior, da Força Sindical e vereador do Recife pelo PRB, considerou o 1º de maio deste ano como um marco histórico por ser o primeiro do governo de Jair Bolsonaro (PSL), que tem “desmantelado conquistas dos trabalhadores”. Ele disse que as mudanças propostas para as aposentadorias pelo Governo Federal esvaziam ainda mais os direitos. “Entre outros pontos, o texto que está em tramitação impõe 40 anos de contribuição para os trabalhadores rurais e reduz drasticamente o Benefício de Prestação Continuada (BPC) para pouco mais de R$ 400”, argumentou.

Israel Torres, presidente da Nova Central Sindical lembrou que o Governo Federal não está combatendo privilégios com a proposta, mas colocando toda a conta das aposentadorias apenas nas costas dos trabalhadores. “Ninguém fala em cobrar os mais de R$ 500 bilhões dos débitos de grandes empresas brasileiras com a Previdência”, criticou.

Em tom mais moderado, a União Geral dos Trabalhadores (UGT) participou do ato unificado se posicionando contra a reforma, mas aceitando abrir o debate sobre a proposta. É uma posição diferente de outras centrais sindicais como a CUT, por exemplo, que propõe a anulação total do texto. “Entendemos que é preciso discutir a Previdência”, considerou Gustavo Walfrido, presidente da UGT-PE.  “Mas também achamos que não é justo um juiz se aposentar ganhando R$ 35 mil e o trabalhador ter um teto de R$ 5,8 mil”, afirmou.

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A UGT, que também não defende a soltura do ex-presidente Lula, tem reunião marcada com o ministro da Economia, Paulo Guedes, para discutir a reforma da Previdência no próximo dia 23. O presidente da entidade, Ricardo Patah, conversou com o presidente Jair Bolsonaro (PSL) na semana passada, no primeiro encontro do chefe do Executivo nacional com uma liderança sindical.

O desemprego, o esvaziamento de direitos dos trabalhadores e a perda de força dos sindicatos também estiveram nos discursos dos líderes sindicais neste 1º de maio. O saldo de mais de 13 milhões de desempregados no Brasil e o aumento da informalidade são heranças de uma reforma trabalhista que não deu certo, considerou Rinaldo Júnior da Força Sindical. “A única forma de sairmos dessa crise é investir para gerar empregos”, ressaltou.

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Os sindicalistas ainda aproveitaram o ato do 1º de maio para denunciar o enfraquecimento dos sindicatos depois da edição da Medida Provisória 873, que dificultou a cobrança da contribuição sindical. Em outros estados, os atos unificados do Dia do Trabalho foram divulgados como uma estratégia tanto de aglutinação de forças, quanto de recursos financeiros, uma vez que a receita dos sindicatos teria caído depois da MP 873. “Aqui sentimos uma queda nas contribuições logo após a edição da medida, mas atualmente a questão está equilibrada. Porém, os sindicatos têm sido golpeados duramente por medidas que representam perdas de conquistas históricas como a reforma trabalhista”, considerou Paulo Rocha da CUT-PE.

Greve da educação

Presidente da Associação dos Docentes da UFRPE, Érika Survagy participou do ato do Dia do Trabalhador também para denunciar os ataques do Governo Federal à educação. “O governo cortou R$  5,8 bilhões da educação e agora anunciou contingenciamento de 30% das verbas de universidades federais. Não se pode cortar recursos de instituições que são as principais produtoras de pesquisas científicas do país”

Érika se referia ao bloqueio de 30% anunciado na última terça-feira (30) pelo Ministério da Educação.O anúncio foi feito depois que o ministro da Educação, Abraham Weintraub, mandou cortar recursos das Universidade de Brasília (UnB),  da Universidade Federal Fluminense (UFF) e da Universidade Federal da Bahia (UFBA)  por promoverem “balbúrdia” nos campus, porque manifestações públicas foram realizadas nessas instituições.

Representante do sindicato das professoras do Recife, Simpere, Marina Presbítero lembrou que as professoras serão duramente prejudicadas caso a reforma da Previdência seja aprovada. “Significa a perda do regime especial de aposentadoria e, pelo menos, mais 15 anos de trabalho. Isso para em uma realidade onde as professoras adoecem porque precisam ter mais de um emprego para conseguir um salário digno, além de cuidar da família e de submeterem a altos níveis de estresse em sala de aula”.

AUTOR
Foto Mariama Correia
Mariama Correia

Jornalista formada pela Universidade Católica de Pernambuco (Unicap) e pós-graduada pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). Foi repórter de Economia do jornal Folha de Pernambuco e assinou matérias no The Intercept Brasil, na Agência Pública, em publicações da Editora Abril e em outros veículos. Contribuiu com o projeto de Fact-Checking "Truco nos Estados" durante as eleições de 2018. É pesquisadora Nordeste do Atlas da Notícia, uma iniciativa de mapeamento do jornalismo no Brasil. Tem curso de Jornalismo de Dados pela Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji) e de Mídias Digitais, na Kings (UK).