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Turistas brasileiros em Lisboa não conseguem voltar para casa

Inácio França / 18/03/2020

Centenas de brasileiros, a maioria nordestinos que chegaram a Portugal sábado a bordo do navio Soberano, estão retidos em Lisboa sem conseguir voltar para o Brasil. Ao todo, são quase 1.800 turistas que tiveram os voos de volta cancelados pela companhia aérea portuguesa TAP. Organizados em grupos, tentam encontrar alguma solução junto às empresas aéreas, agências de turismo ou à embaixada brasileira em Portugal.

Nas primeiras horas desta
quarta-feira, 18 de março, parentes e amigos começaram a receber pelo whatsapp os
pedidos de ajuda e as denúncias contra as empresas e o corpo diplomático brasileiro.
Numa dessas mensagens, o músico e compositor pernambucano Celino Melo apelou ao
governador do estado: “Precisamos do Governador para exigir que os voos de
Lisboa Recife não (sic) sejam mais cancelados (…)Por favor..urgente… intercedam
por nós pernambucanos .. Enfim ..
Brasileiros que apenas querem voltar pra casa..”

Por áudio no zap, Celino contou que está abrigado na casa de amigos em Lisboa. “Algumas pessoas pagaram muito caro e conseguiram ir imediatamente para o Brasil. Eu e minha esposa tínhamos voo marcado para hoje pela TAP, mas foi cancelado. Com ajuda do meu irmão, na agência da TAP no aeroporto do Recife, consegui remarcar para sábado, mas não temos certeza alguma se iremos viajar mesmo”.

Celino alertou que nem todos estão na mesma situação, pois alguns sequer conseguiram a remarcação da viagem e há casos até de turistas que decidiram esperar em casa de parentes. Também há aqueles que já fizeram check-in e viveram por algumas horas a expectativa de retornar hoje pela Cabo Verde Airlines, porém seus voos foram cancelados quando já estavam na fila para o embarque.

Vídeo na embaixada

Quem não conseguiu obter resposta das empresas aéreas, passou a pedir ajuda à embaixada e ao consulado-geral do Brasil em Lisboa. Até agora, a tática não deu resultado. Num vídeo gravado pela manhã, uma mulher que se identifica como Ariza, de Salvador, e um rapaz chamado Maicon afirmam que os diplomatas informaram que a embaixada não conta com dinheiro ou estrutura para ajudar os turistas brasileiros.

Por áudio, uma pernambucana que se identificou como Aline Paes Torres de Almeida, confirmou que, na terça-feira, a embaixada recusou-se a receber o grupo e descreveu a caótica situação do aeroporto lisboeta, onde ela estava há sete horas aguardado em vão a confirmação de um voo.

O advogado Ary Percínio, outro pernambucano retido na capital portuguesa, afirma não conhecer o casal do vídeo, mas os viu durante a mobilização para buscar ajuda. Ele conta que as companhias abusaram da má-fé e se aproveitaram da situação cobrando valores extorsivos para viabilizar passagens de volta. Pior: cobraram “valores impagáveis” e cancelaram os voos depois por e-mail. Foi o caso da TAP e da Cabo Verde Airlines.

Com passagem marcada para domingo, ele não tem certeza do retorno, principalmente por causa do caos generalizado no aeroporto de Lisboa.

Cruzeiro atribulado

O navio Soberano zarpou do Recife
no dia 4 de março já com a incerteza a bordo: logo no início, os turistas
ficaram sabendo que uma das paradas previstas – o roteiro incluía o porto de
Mindelo, em Cabo Verde, e a espanhola Tenerife, capital das Ilhas Canárias –
seria cancelada, pois Tenerife estava em quarentena. O destino seria trocado
por Funchal, capital da ilha da Madeira, território português.

No meio do caminho, o capitão
informou que Funchal estava fechado para desembarque, mas Tenerife havia sido
reaberta. Foi a única parada, pois o governo cabo-verdiano fechou seus portos
para cruzeiros turísticos.

Na véspera da chegada em Lisboa, más notícias: só o porto de Cádiz, no extremo sudoeste espanhol, aceitou receber o navio. O desembarque não obedeceu aos padrões do turismo internacional: depois de seis horas de espera, as bagagens de 1.800 pessoas foram amontoadas no chão do terminal e eles mesmo tiveram de separá-las antes de entrarem no comboio de ônibus que levou seis horas para chegar em Lisboa.

A posição da embaixada

“A Embaixada do Brasil em Lisboa está em estreita coordenação com o Consulado-Geral do Brasil com vistas a fazer frente à emergência gerada pela epidemia causada pelo coronavírus COVID-19. Entre esses problemas, a Embaixada trata como especial prioridade a situação dos brasileiros retidos em Portugal por cancelamento de voos e problemas correlatos.

Com vistas a dar uma satisfação preliminar aos pedidos que tem recebido, a Embaixada esclarece que lhe compete manter interlocução política com o Governo português sobre o tema.

Isso posto, a Embaixada informa que todos os postos da rede diplomática e consular estão em contato direto com o Ministério das Relações Exteriores, em Brasília, para mantê-lo a par da situação e buscar construir soluções que atendam a todos os brasileiros em necessidade. O Consulado-Geral já foi instruído a fornecer estimativa do número de nacionais nessa situação, com vistas a facilitar a pronta tomada de decisões a respeito.

Pede-se a compreensão da comunidade quanto à gravidade da situação, que em muito ultrapassa a capacidade humana e material dos postos em reagir nos prazos e condições habituais.”

AUTOR
Foto Inácio França
Inácio França

Jornalista e escritor. É o diretor de Conteúdo da MZ.