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Vídeo mostra policial militar atirando em jovem que fazia protesto pacífico em Itambé (PE)

Marco Zero Conteúdo / 18/03/2017

As imagens do vídeo abaixo, além de chocantes e absurdas, são bastante claras: a Polícia Militar de Pernambuco trata quem realiza protestos como criminosos.

Sexta-feira, 17 de março de 2017. Edvaldo Alves da Silva, junto com outros moradores do município, participava de um protesto pacífico em Itambé (PE) contra os frequentes assaltos na região. Pediam mais segurança.

Uma viatura da Polícia Militar de Pernambuco chegou ao local para acabar com a manifestação. Começa o bate-boca. Um dos policiais, friamente, fala dirigindo-se a Edvaldo:

“Esse vai levar um tiro primeiro? É tu que vai levar o tiro?”

Segundos depois, o disparo. Edvaldo cai sangrando.

Mas a truculência não para por aí. Edvaldo é arrastado até a viatura e jogado na caçamba do veículo e depois socorrido para o Hospital Miguel Arraes.

Em nota, a Secretaria de Defesa Social (SDS) informou que determinou abertura de inquérito policial e procedimento administrativo para apurar a ocorrência e que a delegacia local está acompanhando o caso, assim como a Corregedoria da SDS instaurou procedimento disciplinar com o objetivo de investigar a conduta dos policiais.

A deputada estadual Teresa Leitão (PT) informou à reportagem da Marco Zero Conteúdo que vai solicitar uma audiência com o secretario de Defesa Social, Angelo Fernandes Gioia, para cobrar a apuração rápida e exemplar dos fatos. “O que aconteceu foi um absurdo. Um ato pacífico reivindicando maior presença da polícia na cidade e que acaba sendo reprimido brutalmente por esta mesma polícia. Ao invés de proteger, o Estado chega para reprimir violentamente os manifestantes”.

Teresa Leitão irá protocolar uma denúncia no Conselho Estadual de Direitos Humanos e fará pronunciamento na tribuna da Assembleia Legislativa na segunda-feira (20). Segundo a deputada, a atual prefeita do município de Itambé, Maria das Graças Carrazonni (PDT), acabou com a Secretaria Municipal de Segurança e a cidade não tem contado com o policiamento regular da Polícia Militar. “Não existe uma presença mínima do Estado na área de segurança em Itambé. Para se ter uma ideia, têm se tornado frequentes os assaltos a ônibus escolares”.

Arbitrariedade e violência

A intervenção no protesto de Itambé é o terceiro caso recente de ação arbitrária e violenta da Polícia Militar de Pernambuco para conter os movimentos sociais. O primeiro caso aconteceu no dia 21 de fevereiro quando policiais militarem prenderam dez integrantes do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST) durante ato em frente à Companhia de Habitação e Obras de Pernambuco (Cehab).

Segundo os manifestantes, que reivindicavam a regularização de 981 famílias que ocupam o acampamento Carolina de Jesus, no Barro, em Recife, os policiais se negaram a dialogar e chegaram atirando, inclusive, com balas letais. Entre os detidos estava o advogado Caio Moura, do Centro Popular de Direitos Humanos (CPDH), atingido na perna por uma bala de borracha, numa clara violação do exercício da advocacia em defesa dos movimentos sociais. No dia seguinte ao protesto, a Justiça ordenou a soltura dos presos por falta de provas de seu envolvimento em supostos atos de vandalismo.

Outro caso recente que repercutiu fortemente nas redes sociais foi a apreensão arbitrária pela Polícia Militar de adereços e fantasias da Troça Empatando a Tua Vista, no sábado de Carnaval, quando seus integrantes se preparavam para desfilar no Galo da Madrugada em protesto contra a especulação imobiliária, o prefeito Geraldo Julio e o governador Paulo Câmara, ambos do PSB. A Corregedoria da Secretaria de Defesa Social iniciou uma investigação sobre o caso, mas até o momento ainda não respondeu à pergunta óbvia: de quem, afinal, partiu a ordem para a apreensão das fantasias?

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Foto Marco Zero Conteúdo
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