Apoie o jornalismo independente de Pernambuco

Ajude a MZ com um PIX de qualquer valor para a MZ: chave CNPJ 28.660.021/0001-52

PT-PDT: fim do ciclo pode ser em agosto

Marco Zero Conteúdo / 20/07/2015

por Vasconcelo Quadros (Brasília)

O rompimento com o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ) não é a única demanda da presidente Dilma Rousseff que ficará em “banho-maria” durante o recesso. Agosto, o mês maldito para a política brasileira (suicídio de Getúlio Vargas, renúncia de Jânio Quadros e morte de Juscelino Kubistschek, para ficar nos principais) promete vir com o perigoso desfecho de mais uma litigiosa separação: o PDT, partido que Dilma e o ex-companheiro de guerrilha e ex-marido, Carlos Araújo, ajudaram a fundar, em 1979, dá claros sinais de que está desembarcando da Esplanada depois de 13 anos na base governista.

Seria também o fim de uma aliança com o PT iniciada na campanha presidencial de 1998, quando Leonel Brizola saiu como vice na chapa encabeçada pelo então candidato Luiz Inácio Lula da Silva.
“É só uma questão de encontrar o ‘timing’. E pode ser em agosto”, anuncia o deputado gaúcho Pompeu de Mattos, defensor do rompimento. Não é só a sede por cargos ou a pífia participação numa coalização que, aparentemente, já cumpriu seu ciclo.

Rumo ao precipício

A maioria dos parlamentares federais (70% de uma bancada de 20 na Câmara e três dos seis no Senado) acha que o projeto trabalhista do PDT afundou definitivamente com a crise moral e econômica, e avalia que o governo caminha célere rumo ao precipício. Descer do barco, na avaliação de Pompeo de Mattos é, também, a estas alturas, uma questão de sobrevivência política.
“Por mim o PDT já teria saído há muito tempo. O Ministério (ocupado por Manoel Dias) não tem mais interação com o trabalhador e perdeu o protagonismo. Somos hoje um mero apêndice do governo”, afirma.

Atribuições como os programas de qualificação do trabalhador, segundo o deputado, foram transferidas para o Ministério da Educação. “Nem a carta sindical o MTE emite mais”, alfineta. Para agravar a situação do PDT, as principais secretarias (Senaes e Relações do Trabalho) estão sob o domínio do PT.
Refém e órfã

Os descontentamentos não se restringem ao esvaziamento do ministério. Pompeo de Mattos diz que é contra o afastamento de Dilma – a menos que surjam provas na Lava Jato que a vinculem com a corrupção -, mas faz uma previsão catastrófica para o futuro do governo: refém e, ao mesmo tempo, órfã da base de apoio, a presidente seria abandonada diante da impotência de Lula que, segundo ele, já não tem mais o controle sobre seu próprio partido. “O PT vai descartá-la para se salvar”, afirma.

Quem defende a permanência no governo, segundo o deputado, o faz a contragosto, consciente de que o ministro Manoel Dias cumpre o papel decorativo num ministério oco. Ele acha que o retorno dos parlamentares a suas bases durante o recesso vai provocar “um choque de realidade”, mostrando que o governo está afundando e que o desembarque se tornará imperativo pela soma de problemas. “O governo não tem respeito pelo PDT”, acusa o deputado.

Porteira fechada

No início de agosto, numa reunião ainda a ser agendada, a pendenga deverá ser decidida no voto. A condição imposta pelos que são a favor da permanência é a substituição do ministro Manoel Dias por um deputado e a entrega da pasta “de porteira fechada” ao PDT. Pompeo de Mattos diz que é contra essa proposta.

Caso a posição da maioria parlamentar se confirme, o PDT pode ser o primeiro partido a abandonar o base governista, decisão que pode abrir caminho para outras dissidências, como o PMDB cuja relação com o governo, tumultuada por Cunha e pelo presidente do Senado, Renan Calheiros (AL), também está por um fio.

A diferença é que embora avalie que o mandato da presidente Dilma esteja seriamente ameaçado, o PDT não pretende ir para oposição. Quer independência para evitar o contagio de um governo mergulhado numa crise que parece interminável.

Folclórico

Pedetista histórico, com quatro mandatos na Câmara, dois na Assembleia do Rio Grande do Sul, um como vereador e outro como Prefeito (Santo Augusto), atualmente presidente do partido no Rio Grande do Sul, Pompeo é visto pelos próprios colegas como um parlamentar folclórico (com frequência vai ao plenário trajando a indumentária gaúcha, formada pela bota, bombacha, colete e o lenço vermelho, símbolo dos maragatos _ revolucionários cuja história está no DNA do brizolismo) e um conservador que frequentemente se alinha as teses de segurança da direita. Sua relação com Dilma e com o PT é de tapas e beijos.

Pouca gente lembra, mas foi chefe da presidente na Assembleia do Rio Grande do Sul _ ela assessora e ele líder da bancada. Distanciou-se quando Dilma e o então marido, Carlos Araújo, trocaram o PDT pelo PT para apoiar a campanha do ex-ministro e ex-governador Tarso Genro a Prefeitura de Porto Alegre, em 2000.
No governo Dilma, que o considera alinhado à direita no PDT, foi tratado a pão e água e discriminado pela ala palaciana que integrou a esquerda armada.

DNA do guerrilheiro

O troco, por ironia da história, ele daria em 2010, apresentando um laudo pericial que obrigou o governo a fazer o exame de DNA de uma ossada que “dormia” havia uma década num armário da Secretaria Especial de Direitos Humanos.

O resultado confirmou as suspeitas do deputado: os restos mortais eram mesmo do ex-guerrilheiro Bergson Gurjão Farias, linha de frente do movimento rebelde, o primeiro militante do PC do B executado na Guerrilha do Araguaia e o segundo militante identificado em 43 anos.
Governo, PT e remanescentes da esquerda armada fizeram um estardalhaço com a identificação e tentaram ignorar que o autor do pedido de investigação era o pedetista. Pompeo saboreou discretamente uma vitória conquistada, em boa parte, graças a negligência da esquerda com sua própria história.

O limão e a limonada

Ao trocar de partido, em 2000, Dilma pavimentou o caminho que a levou ao Planalto, mas a conta política, segundo o deputado, chegou agora. “Ela comprou o boi inteiro, mas ficou com as carnes de garrão e de pescoço que terá de engolir”, cutuca o deputado, para quem o filé mignon e a picanha sumiram nas mãos dos correligionários petistas. Carlos Araújo, o ex-marido e conselheiro a quem Dilma recorre nos bastidores, fez o contrário: depois de uma década na companhia dos petistas gaúchos, voltou para o PDT.

Já para a presidente, essa via está fechada, mas há atalhos, entre eles fazer do limão uma limonada através de uma ação rotunda, que resgate o espírito das esquecidas reformas de base e desinfete o poder. Fora isso, terá de conviver com o risco da cassação ou, no máximo, uma sangria que dará em mais três anos e meio de pasmaceira.

AUTOR
Foto Marco Zero Conteúdo
Marco Zero Conteúdo

É um coletivo de jornalismo investigativo que aposta em matérias aprofundadas, independentes e de interesse público.