O poeta guardião dos discos

Por Géssica Amorim

Fotos: Géssica Amorim/MZ

Personagens do agreste

Ciron Lopes, 65, abriu a sua loja de discos de vinil no início da década de 90.  “O canto da música” foi montada nos cômodos da sua casa, onde recebe a visita de amigos e clientes.

Ele e a sua mãe, Ilda Lopes, 95, vivem rodeados pelos discos há mais de trinta anos.

Cercado por grandes nomes da música nacional e internacional, ele afirma nunca ter havido sequer um dia em que não realizou uma venda, desde que entrou para o ramo.

“Todo dia entra gente aqui e leva alguma coisa. Não são muitas pessoas, mas todo dia vem alguém. Parece que quem vive de arte, de cultura, sempre acha uma saída. É como se fosse um milagre”.

Segundo Ciron, em sua casa estão guardados, e à venda, cerca de 4 mil discos. Eles podem custar de R$30 a R$200, ou até mesmo chegar a R $500. Tudo depende do seu estado de conservação e raridade.

Viu a tecnologia transformar os meios e os modos de se ouvir e consumir música, mas nunca deixou os discos de vinil de lado. Ciron não tem interesse em acompanhar os avanços tecnológicos.

Enquanto conta histórias sobre o seu trabalho com a venda de discos, Ciron fala da sua relação com a poesia. Em 1988, ele escreveu e lançou “Por trás dos olhos”, pequeno livro de poemas e pensamentos.

Ciron diz que cada poema, acompanhado de um pensamento, levou um ano para ser escrito. O que sugere que a obra, de 20 páginas, teria levado pelo menos dez anos para ser finalizada e lançada.

“Eu tinha poesias tristes e toquei fogo. Quero fazer coisas que sejam elevadas, alegres.”

"Óleo sobre a tela Uma lua pré-histórica Embrenha-se num pé de jaca"

Ciron Lopes

Distribuiu exemplares do seu livro entre amigos, familiares, e ainda guarda uma grande parte deles. Não lucrou com a obra, mas a considera uma das melhores escritas até hoje, em todo o mundo.

“Eu não tomei uma cerveja com a venda desse livro. Ninguém comprou. Mas ele é uma coisa importantíssima, os críticos é que vão sacar. Os grandes gênios são descobertos depois de cem, duzentos anos.”

Gosta do nosso conteúdo? Fortaleça o jornalismo que te representa.