Mangue e ilha de águas claras podem virar terminal de minérios em PE 

Por Inácio França

Crédito: Oyama Bastos

As areias brancas, as águas claras e o manguezal da ilha de Cocaia, no litoral de Pernambuco, podem estar com seus dias contados. O Governo Federal quer transformá-la num porto de minérios.

Se isso acontecer, vai destruir o último reduto das 300 famílias que vivem da pesca e coleta de mariscos e caranguejos na área do complexo portuário de Suape.

Para isso, será preciso privatizar a ilha e retirá-la da jurisdição federal do porto de Suape. O Ministério da Infraestrutura deu início ao processo em dezembro de 2021.

A beneficiada seria a empresa Bemisa, que pretende construir uma ferrovia de 717 quilômetros ligando as minas de minério de ferro em Curral Novo, no Piauí, até o litoral de Pernambuco.

O projeto do terminal de exportação de minérios não foi apresentado publicamente. Pescadores, pescadoras e as entidades que representam a comunidade pesqueira não foram informadas.

“O que a empresa Suape quer mais dos pescadores? Estão querendo matar nossa alma, nosso corpo, nosso espírito. A gente não aceita isso não. Ali era tudo mangue”, desespera-se uma pescadora de 61 anos.

“Suape acha pouco o que já fez? Acabou com o manguezal, depois que acabaram com tudo, Cocaia é a única coisa que a gente tem pra tirar nosso alimento”, queixa-se outro pescador, de 57 anos.

A possível transformação da ilha em ponto final de uma ferrovia, irá se juntar a outro grave problema ambiental que afeta diretamente pescadores e pescadoras: as sucessivas dragagens na baía de Suape.

As dragagens são feitas para garantir a profundidade adequada para as manobras e atracação dos navios. A lista dos problemas causadas pelas dragagens é extensa.

A cada dragagem, metais pesados e pouentes voltam à tona e provocam mortes de peixes e doenças em humanos; a lama soterra corais, moluscos e crustáceos, além cobrir as raízes do mangue.

A questão é tão séria que, em novembro de 2021, a Colônia de Pescadores recorreu ao Superior Tribunal Federal (STF) para os prejuízos ambientais causados pelas dragagens sejam reconhecidos pela Justiça.

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