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O problema do “Lula Livre!” ser o protagonista de todo protesto

Maria Carolina Santos / 14/08/2019

Crédito: Inês Campelo/MZ Conteúdo

No protesto a favor da educação, “Lula Livre!”.

Na Marcha das Margaridas, “Lula Livre!”.

Protestos contra a Reforma da Previdência? Mais e mais “Lula Livre!”.

O ano é 2019, o Brasil vive seu momento político mais sombrio desde os anos de chumbo da ditadura militar. É um cenário que tende a se agravar quando os efeitos das perdas de direitos se tornarem ainda mais agudos.

Qual, então, a proposta da esquerda brasileira para a educação? Qual a proposta para as mulheres do campo? Para a previdência social? Com certeza, são muitas. Dezenas, quiçá centenas. Mas entre as bandeiras mais visíveis, estampado em camisetas e bandeiras está lá o onipresente Lula, o ex-presidente símbolo de épocas mais ternas, preso há 16 meses em Curitiba.

Não há porque desmerecer o grito “Lula Livre!”. Os vazamentos das conversas entre procuradores do Ministério Público Federal, Deltan Dallagnol à frente, e o então juiz Sérgio Moro deixam claro que o ex-presidente não recebeu um julgamento limpo. Lula é hoje um preso político, arrancado da liberdade às vésperas de uma eleição que jogou o País no obscurantismo. É fato gravíssimo.

O problema é quando Lula Livre é a principal bandeira para tudo. E aqui não vou falar sobre como isso afasta um cidadão brasileiro que não nutre grandes simpatias por Lula — e está em todo seu direito — , mas é a favor da educação pública e gratuita de qualidade, a favor da pesquisa científica brasileira, da agroecologia e de uma previdência mais solidária. Ninguém aqui é bobinho para ignorar isso.

Repito: o problema é quando Lula Livre é a principal bandeira para tudo. Parece que há uma incessante venda da ideia de que quando Lula for solto haverá, como se por mágica, o (r)estabelecimento da democracia plena no Brasil. Que é a soltura de Lula que vai proporcionar mudanças na educação, nas tensões no campo, na economia e até na luta das mulheres.

É o oposto. A luta pela democracia deve ser ampla e aguerrida. As pautas por educação têm que ser o ponto chave dos protestos contra os cortes do Ministério da Educação. Na Marcha das Margaridas, as mulheres do campo têm que ser ouvidas em suas reivindicações no tom mais alto. O grito que mais precisa ser ouvido não é sempre o de “Lula Livre!”.

Não há, nunca houve, um salvador.

O estrago que o governo Temer fez e o governo Bolsonaro está ampliando não vai ser resolvido pela soltura de Lula. Eventualmente, esperamos, Lula vai ser solto.

Mas é preciso oferecer uma opção ao abismo do bolsonarismo. É com bandeiras sólidas, com propostas que verdadeiramente cheguem às pessoas, que a democracia brasileira pode conseguir superar essa fase. Não é Lula que precisa ser solto para a democracia prosperar. É a democracia e suas instituições que precisam ser fortalecidas para que Lula — aqui a ideia, e não tanto o homem — possa, enfim, ser livre.

AUTOR
Foto Maria Carolina Santos
Maria Carolina Santos

Jornalista pela UFPE. Fez carreira no Diario de Pernambuco, onde foi de estagiária a editora do site, com passagem pelo caderno de cultura. Contribuiu para veículos como Correio Braziliense, O Globo e Revista Continente. Ávida leitora de romances, gosta de escrever sobre tecnologia, política e cultura. Contato: carolsantos@gmail.com