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OAB condena fala do presidente da Federação Pernambucana de futebol

Mariama Correia / 04/02/2020

Evandro Carvalho defendeu a prática do extermínio pela Polícia Militar

Em um país onde absurdos estão virando regra, o presidente da Federação Pernambucana de Futebol (Federação Pernambucana de Futebol),
representante máximo do esporte no estado, não teve pudor em defender –
ao vivo em uma rádio – a pena de morte e a prática de extermínio por
parte da polícia. Na manhã desta terça-feira (4), Evandro Carvalho
disse, em entrevista à Rádio Jornal,
lamentar que a PM “só tenha atirado para cima” durante o tumulto na
festa de aniversário do Santa Cruz, na última segunda, causado por
torcedores organizados do time adversário, o Sport.

A declaração
não é apenas imoral, mas também é ilegal e inconstitucional, de acordo
com a Ordem dos Advogados de Pernambuco (OAB-PE). “É algo completamente
reprovável um dirigente esportivo propor pena de morte de forma sumária e
fazer apologia à violência. São atitudes contra a lei e contra a
Constituição”, considerou o presidente da Comissão de Direitos Humanos
da OAB-PE, Cláudio Ferreira. “Espero que ele seja denunciado
formalmente”, completou.

Durante a entrevista, Evandro Carvalho
defendeu a pena de morte e chamou os torcedores que causaram a confusão
na festa do Santa Cruz de animais. “ Infelizmente, nós temos esta
defasagem, que o presidente Bolsonaro ainda não conseguiu fazer, que é
nós termos pena de morte . Seria muito adequado para este tipo de
gente.(…)Este tipo de gente não é gente, são animais que têm que ser
executados”, disse. “Infelizmente, a Polícia Militar não pode nem bater,
porque se não vai processar tudo que é policial (…) Na verdade, nós
temos que tratar eles com cafezinho e água, e respeitar esses pseudos
direitos humanos que eles têm”.

A Constituição Federal não admite
a pena de morte, lembrou Cláudio Ferreira da OAB-PE. “É cláusula pétrea
(que não pode ser modificada) e está entre os direitos fundamentais”,
esclareceu. Ele lembrou que “o direito à vida jamais é pseudo direito
humano, como avaliou o presidente da FPF. O Código Penal Brasileiro
também condena “apologia de fato criminoso ou de autor de crime”, no seu
artigo 287. A pena é de detenção de três a seis meses ou multa.

Apesar das críticas da OAB-PE, o dirigente da Federação Pernambucana de
Futebol só sofrerá algum tipo de penalidade jurídica se for denunciado
formalmente. É tanto que o Ministério Público de Pernambuco se negou a
comentar o caso, porque ainda não há uma denúncia registrada.

Reação

Presidente do @OficialSantaCruzFC, Constantino Júnior, reprovou a fala
do presidente da FPF. “Não compactuo. No nosso país não existe pena de
morte. Violência só gera violência”, argumentou. Na opinião do
dirigente, a polícia tem inteligência para combater o crime. “Existe uma
série de medidas preventivas e punitivas que podem coibir ações
violentas como a que infelizmente ocorreu na festa promovida por
torcedores.”

A Torcida Jovem do Sport
não comentou a fala de Evandro Carvalho, mas emitiu uma nota condenando
os atos violentos praticados pela “Jovem do Sport”, que agrediu
torcedores do Santa Cruz durante o evento em comemoração ao aniversário
do clube. Havia crianças, mulheres e idosos no momento do ataque e pelo
menos três pessoas ficaram feridas. A Torcida Jovem do Sport garantiu
que não teve participação no ato.

A reportagem procurou a
Confederação Brasileira de Futebol, entidade máxima do futebol
brasileiro, para saber se a atitude do dirigente da FPF pode render
sanções ou até o afastamento do cargo, mas não recebeu retorno até a
publicação deste texto. Também tentamos contato com Evandro Carvalho,
mas fomos informados pela Assessoria de Imprensa da Federação
Pernambucana de Futebol que ele está viajando. A entidade enviou uma
nota onde repudia os atos violentos praticados na última segunda,
durante a festa do Santa e se solidariza com as vítimas, mas não
comentou a declaração do seu dirigente.

AUTOR
Foto Mariama Correia
Mariama Correia

Jornalista formada pela Universidade Católica de Pernambuco (Unicap) e pós-graduada pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). Foi repórter de Economia do jornal Folha de Pernambuco e assinou matérias no The Intercept Brasil, na Agência Pública, em publicações da Editora Abril e em outros veículos. Contribuiu com o projeto de Fact-Checking "Truco nos Estados" durante as eleições de 2018. É pesquisadora Nordeste do Atlas da Notícia, uma iniciativa de mapeamento do jornalismo no Brasil. Tem curso de Jornalismo de Dados pela Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji) e de Mídias Digitais, na Kings (UK).