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No debate desta quinta-feira da TV Globo pela primeira vez os dois candidatos mais bem posicionados nas pesquisas de intenção de votos a prefeito do Recife vão confrontar suas ideias e propostas. Há muito a ser discutido sobre o processo, como por exemplo o convite para apenas quatro dos oito postulantes. Mas o que chama mesmo a atenção é a ausência de outros debates entre os candidatos majoritários da capital pernambucana nas TVs abertas e nas principais emissoras de rádio com programação jornalística durante toda a campanha.
Esse silêncio rompe uma tradição na história política de Pernambuco. As TVs Tribuna, Clube e Jornal, e mais recentemente a Rede TV, ao longo dos anos, promoveram debates no primeiro e segundo turnos das eleições para prefeito do Recife e governador do Estado. Algumas delas, desta vez, optaram apenas por entrevistar os candidatos em estúdio, e só. Outras, nem isso.
No caso das rádios, uma situação emblemática. A Rádio Jornal realizou debates com os candidatos a prefeito de Olinda, Jaboatão, Limoeiro, Pesqueira, Caruaru e Petrolina. Em Recife, a decisão foi a de fazer entrevistas em separado com os concorrentes. O mesmo aconteceu na Rádio Folha.
Os programas eleitorais de rádios e TV e as redes sociais dos candidatos cumprem um papel importante nas campanhas ao municiar os eleitores de informações por meio da comunicação direta. Há quem ache que os programas não deveriam existir. Mas quanto mais informação o eleitor tiver à sua disposição, melhor. Temos que reconhecer, no entanto, que a diferença gritante entre os tempos de cada candidato compromete abordagens mais aprofundadas. Mais um tema para discussão, afinal.
O certo é que o jornalismo ainda tem um papel importante a cumprir na mediação de parte (e não de todo) o diálogo entre a política profissional e a sociedade civil. Ou melhor, entre os candidatos e os eleitores. O debate ao vivo entre os candidatos mediado por jornalistas é um modelo que ganhou o mundo e fez história. Vejamos a repercussão internacional do primeiro grande momento frente a frente entre Hillary Clinton e Donald Trump, no início desta semana, assistido pela TV por 87 milhões de americanos.
Tivemos na Marco Zero Conteúdo uma pequena amostragem do descompasso da campanha eleitoral no Recife em relação a outras grandes cidades brasileiras. Estamos há 40 dias envolvidos no projeto Truco Eleições 2016, da Agência Pública, checando as declarações dos candidatos a prefeito da cidade. Outros jornalistas estão realizando a mesma tarefa em São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte e Belém. Ao todo, eles já cobriram 12 debates: dois em Belém (Record e Band), cinco em São Paulo (Record, SBT, TV Gazeta, Rede TV e Band), dois no Rio (Record e Band) e três em BH (Rede TV, Band e Record). Nós, nenhum.
O debate da TV Globo nesta quinta-feira à noite é apenas mais um e o último do primeiro turno para essas cidades. Aqui, no Recife, será o primeiro e único produzido pela TV aberta.
É até compreensível, mas não salutar, que os candidatos que estão à frente nas pesquisas evitem se expor em confrontos abertos com seus adversários. E os debates transmitidos ao vivo por rádios e TVs são o palco mais instigante para isso. O que não é compreensível (e soa estranho) é que as empresas de jornalismo não se mobilizem para garantir os encontros cara a cara entre os prefeituráveis. Repito, uma tradição que se firmou ao longo dos anos nas TVs Regionais abertas, inclusive aqui no Recife.
Mas não foi assim este ano.
Diante do silêncio, fica uma pergunta no ar: a quem interessa uma campanha sem debate?
Co-autor do livro e da série de TV Vulneráveis e dos documentários Bora Ocupar e Território Suape, foi editor de política do Diário de Pernambuco, assessor de comunicação do Ministério da Saúde e secretário-adjunto de imprensa da Presidência da República