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Esquerda quer participação de outros partidos para investigar Moro

Marco Zero Conteúdo / 10/06/2019

Por Maria Carolina Santos (colaboraram Inácio França e Laércio Portela)

Em um dia sem sessões, o vazamento das conversas entre o procurador Deltan Dallagnol e o então juiz Sérgio Moro, hoje Ministro da Justiça, dominou Brasília. Enquanto os políticos começam a voltar para a capital federal, os pedidos de investigações sobre a conduta da Lava Jato tendem a incluir não só os partidos de esquerda, mas também os do chamado Centrão. Há quem defenda uma convocação para Moro prestar esclarecimentos no Congresso ou até mesmo uma CPI sobre o caso.

Nesta terça-feira (11), presidentes e lideranças de partidos de esquerda – PT, PCdoB, PDT, PSB e PSOL – se reunirão no Congresso para analisar os próximos passos a serem dados. Além de avaliar a possibilidade da instalação de uma CPI e da convocação do ministro, também estará em pauta pedidos de afastamento de Moro e dos procuradores de suas funções públicas.

Leia mais: Vazamentos mostram parcialidade da Lava Jato, dizem juristas pernambucanos

Uma decisão já foi tomada nesta segunda-feira: obstrução total às votações de matérias de interesse do governo Jair Bolsonaro na Câmara e no Senado. Foi o que disseram em entrevista coletiva em Brasília a deputada Jandira Feghali (PCdoB-RJ) e os deputados Paulo Pimenta (PT-RS) e Ivan Valente (PSOL-SP).

A ideia geral, porém, é que o caso não vire mais um embate entre Bolsonaristas x Esquerda, de acordo com uma dezena de políticos ouvidos pela Marco Zero. Para o senador pernambucano Humberto Costa (PT), é preciso construir uma articulação “para que outros partidos, inclusive partidos de centro e centro-direita, participem desse processo. Assim, a investigação tomará uma dimensão ainda mais significativa”, acredita, afirmando que as denúncias vão além do caso de Lula. “O mais importante agora é apurar o que esses procuradores e esse juiz fizeram com o estado democrático de direito. A Lava Jato agora é um problema da democracia brasileira: a imagem do MP e do Poder Judiciário estão em jogo”.

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A presidente nacional do PT, a deputada federal Gleisi Hoffmann (PR), afirmou à Marco Zero que “o PT não vai tomar decisões sozinho, tudo será discutido entre os demais partidos de esquerda. E também queremos ampliar esse diálogo com outros partidos do Congresso, os movimentos sociais e a sociedade”, explicou. Para ela, a situação de Sérgio Moro à frente do Ministério da Justiça é insustentável. “Ele não pode ser o comandante da Polícia Federal. E se a Polícia Federal precisar abrir uma investigação contra o próprio Moro e os procuradores?”, argumentou.

Ela criticou as postagens e declarações de Eduardo, Carlos e Flávio Bolsonaro – filhos do presidente Jair Bolsonaro – e do vice-presidente Hamilton Morão. “Querem minimizar o vazamento, mas não conseguirão. O caso é gravíssimo e tem que gerar a anulação do processo contra Lula”. Segundo Gleisi, os advogados do ex-presidente estão analisando quais serão os encaminhamentos jurídicos, a partir dos vazamentos, para garantir a liberdade do ex-presidente.

Pelo Twitter, o governador Paulo Câmara (PSB) afirmou que as denúncias são graves e precisam ser apuradas com agilidade. “Apenas assim é possível se fazer Justiça, com a isenção e o equilíbrio inerentes a uma verdadeira democracia”. O Partido Socialista Brasileiro (PSB) soltou uma nota em que classifica as trocas de mensagens como “ilegais, imperdoáveis e precisam ser apuradas com o devido rigor”.

O deputado federal Danilo Cabral (PSB) considera pacificado o entendimento de que Moro deve ir responder aos questionamentos dos parlamentares. “O fundamento da democracia é uma justiça que preserve o caráter essencial de sua imparcialidade. Temos que abstrair esse debate da política para que o cidadão se veja naquela condição. O Estado tem o dever de prestar a Justiça. Esse papel não pode tomar lado. E a conduta mostrada lá (nas mensagens) é claramente uma conduta tem quem tomou um lado, quando era para ter se preservado distante, para fazer seu julgamento com elementos que chegassem de ambas as partes”, disse.

Líder do Solidariedade na Câmara, um dos partidos do chamado Centrão, o deputado Augusto Coutinho também rotula o conteúdo do vazamento como fatos graves. “É um conteúdo entre quem acusa e quem julga, de uma relação que não deveria existir. Não podem ser minimizados”, mas acrescenta que “temos que ter cuidado para isso não contaminar o parlamento que tem tantas matérias importantes para serem avaliadas”.

Outra divergência em relação a deputados de esquerda é sobre os mecanismos que devem ser usados pelo Congresso. “CPI é o extremo de uma investigação. Não vejo motivo para CPI. Agora, uma convocação de um ministro para a Câmara, para prestar explicação é algo legítimo e uma prerrogativa do parlamento. Certamente isto vai acontecer, não sei se em caráter de convocação ou de em caráter de convite. Melhor seria por convite. Não somos de oposição, e minha opinião é que devemos acompanhar os fatos, não cabe a nós essas ações (de convocação do ministro)”, diz.

Sem radicalização

A deputada federal Marília Arraes (PT) vê o vazamento como uma tragédia anunciada. “Essas mensagens vieram só provar o que nós já dizíamos. O que não podemos deixar é que continuem flexibilizando a ética em nome de um “salvacionismo” como vinham fazendo com as atitudes criminosas de Sérgio Moro, como o vazamento das conversas da presidenta. Moro impediu Lula de ser candidato e hoje integra esse governo que ele ajudou a colocar no poder. Nos sentimos muito ameaçados quando uma pessoa como essa está no maior cargo da Justiça do País”, afirmou.

O deputado Carlos Veras, também petista, tem a expectativa de que quase todos os partidos da Casa devem pedir a investigação sobre Moro. “É importante ressaltar que a própria nota do MPF não desmente nada do que foi publicado”, disse.

Deputado federal mais votado em Pernambuco, João Campos (PSB) defendeu em nota a isenção da Justiça, a apuração dos fatos e questionou se Moro “tem por princípio seguir a máxima de Maquiavel, onde os fins justificam os meios?”.

Para a vice-governadora Luciana Santos, presidenta nacional do PCdoB, o clima de terceiro turno e de radicalização só interessa ao próprio Bolsonaro. “A gente tem que sair desse imprensado, não pode cair nessa armadilha. Teria mais eficácia se as iniciativas fossem tomadas pelas instituições, ou seja, pela presidência do Congresso, pelo STF, não pelos partidos de esquerda. O problema é que, em meio a um escândalo desses, muita gente quer assumir o protagonismo. Precisamos conter esse sentimento, pois há o risco de queimar a largada e, como aprendi no atletismo, quando você queima a largada, já perdeu a corrida”, avalia.

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