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Com operação “Amazônia Azul”, capacitação da Marinha chega ao Nordeste com 70 dias de atraso

Raíssa Ebrahim / 07/11/2019

Crédito: Inês Campelo/MZ Conteúdo

Somente nesta quinta-feira (7), quase 70 dias depois de as primeiras manchas de óleo chegarem ao Nordeste,os municípios atingidos pelo maior desastre ambiental em extensão da região começaram a receber treinamentos da Marinha para a limpeza das praias. Nos mais de dois meses em que o Governo Federal negligenciou a situação, o óleo atingiu 353 localidades, milhares de voluntários, pescadores e marisqueiras se expuseram ao material altamente tóxico e os nove estados nordestinos recolheram 4,3 mil toneladas de resíduos, com o trabalho fundamental da sociedade civil.

O curso,conduzido pela Petrobras, vai ensinar o uso adequado de Equipamentos de Proteção Individual (EPIs) e os processos para coleta de resíduos. O cronograma consta numa apresentação do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) que mostra ações da segunda etapa da chamada Operação “Amazônia Azul – Mar Limpo é Vida”, criada pelo governo federal para conter o avanço do óleo.O curso, que passará por nove cidades, começou por Ilhéus (BA) etermina em Fortaleza (CE) no dia 15. O Recife recebe o treinamento do dia 11. A operação acontece enquanto partes das florestas amazônicas pegam fogo, povos originais estão sendo assassinados e o governo sinaliza para a liberação de plantio de cana-de-açúcar e da mineração em terras indígenas.

A ação de capacitação acontece depois de momentos críticos em que mutirões foram formados para limpar as praias. A omissão do Governo Federal afetou a saúde de milhares de pessoas, que, sem EPIs adequados, relataram sintomas como dores de cabeça, náuseas, tonturas, ardor nos olhos, dermatites, insônia, problemas respiratórios e queimaduras. Em outros grandes desastres, os responsáveis pela limpeza parecem tão protegidos quanto astronautas: eles trabalham cobertos da cabeça aos pés, com luvas e botas resistentes, máscaras de carvão ativado e óculos de proteção. A comparação das imagens é chocante e aponta novamente para o lado mais perverso da negligência do governo Bolsonaro com o Nordeste.

ESPANHA - ITAPUAMA

A Marinha, com informações do Grupo de Acompanhamento e Avaliação (GAA), confirmou à reportagem que a iniciativa é a primeira do tipo desde o início do desastre. O GAA é formado por Marinha, Agência Nacional de Petróleo (ANP) e Ibama. O grupo foi uma das poucas coisas que restaram do Plano Nacional de Contingência para Incidentes de Poluição por Óleo (PNC) depois que Bolsonaro extinguiu, no primeiro semestre, os dois principais comitês: o Executivo e o de Suporte. Os dois comitês deveriam ser os responsáveis pelas medidas práticas a serem adotadas, numa atuação em rede envolvendo ministérios do Meio Ambiente e de Minas e Energia, Ibama, Marinha e ANP, entre outros órgãos. O que o governo está fazendo atualmente é colocar em ação um PNC esvaziado.

A reportagem procurou a Marinha também para saber detalhes sobre os cursos, a exemplo de quantidade de vagas, público-alvo e ementa, mas, para essa informações,a assessoria de comunicação disse ser necessário entrar em contato com o setor de emergências ambientais do Ibama. A Marco Zero Conteúdo, porém, não teve retorno do setor até o fechamento desta matéria.

Em conversa por telefone com uma servidora do Estado de Alagoas, fomos informados que lá serão ofertadas 30 vagas ao todo, parapessoas do Exército, da Marinha, do Ibama, da Defesa Civil, da Secretaria de Meio Ambiente e Recursos Hídricos, do Instituto de Meio Ambiente de Alagoas edoInstituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade(ICMBio). Quem participar da capacitação será responsável por disseminar as informações nos municípios.

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Foto Raíssa Ebrahim
Raíssa Ebrahim

Vencedora do Prêmio Cristina Tavares com a cobertura do vazamento do petróleo, é jornalista profissional há 12 anos, com foco nos temas de economia, direitos humanos e questões socioambientais. Formada pela UFPE, foi trainee no Estadão, repórter no Jornal do Commercio e editora do PorAqui (startup de jornalismo hiperlocal do Porto Digital). Também foi fellowship da Thomson Reuters Foundation e bolsista do Instituto ClimaInfo. Já colaborou com Agência Pública, Le Monde Diplomatique Brasil, Gênero e Número e Trovão Mídia (podcast). Vamos conversar? raissa.ebrahim@gmail.com