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Salles evita debate e ministro da Defesa é evasivo sobre óleo nas praias do NE

Mariama Correia / 22/10/2019

Embora o óleo esteja literalmente passeando pelo litoral nordestino há quase dois meses, apenas na segunda-feira (21) passada o Governo Federal determinou que o Exército entrasse no reforço das ações para minimizar o desastre ambiental.A ajuda não chegou antes porque “não julgávamos ser necessário”, soltou o ministro da Defesa, Fernando Azevedo, durante visita a Pernambuco no começo da tarde desta terça-feira (22), quando questionado sobre a demora no acionamento dos militares.

“Quando precisou nós empregamos. Há imprevisibilidade dos locais onde aparecem as manchas…Estamos combatendo um fato inusitado e inédito”, justificou. A verdade é que foi preciso uma determinação da Justiça, exigindo a aplicação do Plano Nacional de Contenção (PNC) do óleo para que o Governo Federal reagisse. Azevedo disse que a decisão judicial “foi derrubada” e garantiu que o PNC está sendo aplicado.

O plano, que deveria ter sido acionado desde o começo da tragédia, ao foi sancionado pelo ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, 41 dias depois dos primeiros registros do desastre. No comeco do ano o presidente Jair Bolsonaro (PSL) extinguiu o comitê responsável pelas ações do PNC. Entre outras questões, como ações articuladas de vários órgãos governamentais, o plano prevê treinamento, distribuição de equipamentos e de logística para os que atuam na limpeza. Voluntários e entidades de proteção ambiental, o exército real que, efetivamente, tem trabalhado na limpeza das praias até agora, dizem que faltam EPIs e estrutura.

O ministro disse que desde as primeiras ocorrências das manchas, a Marinha – com um efetivo de 15 navios e 1,5 mil homens – e a Força Aérea estão atuando nas ações, sem dizer quanto têm sido destinado para as atividades. Até agora, contudo, a atuação desse contingente não tem sido efetivo para prevenir a chegada do óleo nas praias ou mesmo para responder a origem do material, que permanece desconhecida. Até agora, 900 toneladas do óleo já foram retiradas do Nordeste.

“Não é somente uma responsabilidade das Forças Armadas. É um esforço conjunto”, amenizou o ministro, que foi evasivo nas respostas dadas à imprensa em sua visita a Pernambuco. Antes de falar com os jornalistas, oministro fez um sobrevoo pelas praias afetadas pelo óleo. Foi de Boa Viagem até Suape. Depois se reuniu com o governador Paulo Câmara na Capitania dos Portos, no Recife.

O ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, também viu o litoral pernambucano de cima nesta terça-feira (22). Ele desceu do helicóptero por apenas dez minutos na praia de Itapuama, no Litoral Sul, a única que ainda amanheceu com manchas de óleo. A limpeza das praiasé mérito, em maior parte, dos esforços dos mutirões de voluntários que, na falta de estrutura adequada, removeram o petróleo bruto com as próprias mãos.

Na passagem relâmpago por Pernambuco, o ministro Salles foi confrontado por alguns desses voluntários, que reclamaram da demora nas ações do Governo Federal. Salles não trouxe as respostas que os voluntários e todos nordestinos esperam sobre desastre. À imprensa reafirmou apenas que o “óleo é venezuelano”, mas que ainda não sabe dizer como o material chegou à costa brasileira.

Na segunda passada, o governador Paulo Câmara disse que o Governo Federal age de “improviso” no caso do óleo. Nesta terça, adotou tom mais ameno diante do ministro da Defesa, Fernando Azevedo. Câmara comemorou o reforço do Exército e a presença do ministro no estado, como um indicativo de compromisso do Governo Federal com as ações que precisam ser tomadas. O ministro refutou a afirmação de Câmara de que houve falta de planejamento. “Desde o início de setembro a Marinha está debruçada nisso, com o efetivo possível. Em seguida foi lançado o Plano Nacional de Contingência (PNC), que está sendo seguindo”, reafirmou.

O Governo do Estado, entretanto, já anunciou que não vaimais esperar pela ajuda do governo de Jair Bolsonaro (PSL), que por sinal está em visita ao Japão. Desde o final de semana, os gestores informaram estar comprando equipamentos de proteção para distribuir aos que estão trabalhando na limpeza das praias. Também adiantou que convocou uma reunião com os prefeitos de municípios afetados e dos que ainda não foram impactados, como forma de planejar “prevenção e ação”. Câmara ainda garantiu que os resíduos retirados das praias estão sendo enviados a cimenteiras para aproveitamento, “sem nenhum risco à população”.

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Mariama Correia

Jornalista formada pela Universidade Católica de Pernambuco (Unicap) e pós-graduada pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). Foi repórter de Economia do jornal Folha de Pernambuco e assinou matérias no The Intercept Brasil, na Agência Pública, em publicações da Editora Abril e em outros veículos. Contribuiu com o projeto de Fact-Checking "Truco nos Estados" durante as eleições de 2018. É pesquisadora Nordeste do Atlas da Notícia, uma iniciativa de mapeamento do jornalismo no Brasil. Tem curso de Jornalismo de Dados pela Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji) e de Mídias Digitais, na Kings (UK).