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Fotos: Guita Kozmhinsky
Mesmo em meio ao cenário político hostil, está prestes a surgir mais um partido de esquerda. A Unidade Popular pelo Socialismo, ou simplesmente Unidade Popular (UP), entrou na fase final para obter o registro definitivo junto ao Tribunal Superior Eleitoral e formalizar sua fundação.
Longe da mídia e das disputas eleitorais, seus militantes conseguiram ultrapassar a meta de obter 491 mil assinaturas (0,5% do total de votos da última eleição para a Câmara dos Deputados) de apoiadores. Foram 1,2 milhão de assinaturas entregues ao TSE em setembro do ano passado. Desde então o tribunal vem verificando os dados para validar os apoios, o que deverá ser concluído nos próximos dias.
A celebração será na próxima quinta-feira (7 de fevereiro) , no plenarinho da Câmara Municipal do Recife, às 19h, quando os dirigentes locais irão fazer a apresentação da UP ao público.
O espectro político da militância da UP apresenta várias tonalidades de vermelho, apesar da cor não estampar sua bandeira. A primeira campanha de filiação e de coleta de apoios atraiu gente que já passou pelo PT, PDT, pelo clandestino PCR (Partido Comunista Revolucionário) e até militantes que estavam sem filiação partidária desde que o então deputado federal Roberto Freire e seus aliados transformaram parte do PCB em PPS. Outra parte, de militantes mais jovens, vem do sindicalismo e do movimento de bairros e de luta por moradia.
Dessa parcela, vieram tanto o presidente da legenda em Pernambuco, o advogado Thiago Santos, de 33 anos, quanto o presidente nacional, o mineiro Leonardo Péricles Vieira, de 37 anos, coordenador do Movimento de Luta nos Bairros, Vilas e Favelas (MLB).
Thiago rebate a tese de que o surgimento de um novo partido dividirá ainda mais a esquerda: “O surgimento da UP fortalece as esquerdas, pois oferece uma alternativa de atuação política para milhares de pessoas que não se sentem representados pelas legendas existentes. Se a UP não fosse criada, esses militantes continuariam dispersos”, explica o presidente do partido.
Esse é o caso de Miguel Correia, de 57 anos, ex-presidente do Sindicato dos Bancários. “Há muitos anos tento discutir no âmbito da esquerda a crítica à própria esquerda. Me parece que há espaço na UP para o enfrentamento ao caciquismo que dominou outros partidos de nosso campo. A UP terá uma organização leninista, com bases por local de trabalho, moradia e estudo, mas resgataremos a democracia interna, com o velho princípio de uma pessoa, um voto”.
Luta de classe versus pautas identitárias
De acordo com Thiago, a UP nasce do pressuposto que a “contradição central da sociedade é a exploração do trabalhador pelo capital”, porém o partido tem a missão de abrigar aquilo que chama de “contradições correlatas ou colaterais”, o que inclui as pautas dos movimentos feministas, LGBT+ e as questões étnico-raciais.
“Cinquenta por cento dos delegados ao nosso Congresso Nacional será de mulheres. O estatuto prevê isso, assim como a cota de 30% de delegados negros ou negras. Os diretórios regionais estão orientados a assegurar ampla participação indígena entre os delegados”, explica Thiago. O primeiro congresso nacional acontecerá nos dias 23 e 24 de março.
Para Guita Marly Kozmhinsky, de 62 anos, que coordena as discussões e as atividades das políticas feministas do novo partido, nenhum partido de esquerda pode fugir às demandas de gênero “porque, hoje, as mulheres são a metade da classe trabalhadora. Essa é a razão do protagonismo feminino e a importância da luta feminista”. Guita usa outro argumento para justificar a incorporação da temática LGBT+: “É praticamente impossível uma mulher transexual conseguir emprego. Quem vai lutar ao lado dessa mulher?”.
Jornalista e escritor. É o diretor de Conteúdo da MZ.