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O lançamento de um e-book de poesia foi atacado por bolsonaristas na noite de quinta-feira, 3 de setembro. O cyber ataque aconteceu no início do lançamento, transmitido pelo canal da poetisa pernambucana Cida Pedrosa no YouTube, que havia divulgado em suas redes sociais o link da live na plataforma Google Meet.
O livro Estesia inclui 40 haicais clássicos (gênero poético japonês composto de três versos) e 40 fotografias feitas pela própria poeta em suas andanças no bairro onde mora, em Recife, durante a pandemia. De acordo com Cida, que tem outros nove livros lançados, os poemas foram inspirados na contemplação da natureza e da cidade, com toques de humor. Mas não foi por isso que a milícia digital de extrema-direita escolheu esse evento digital para o ataque.
Seriam dois os motivos da escolha: Cida Pedrosa é pré-candidata a vereadora pelo PCdoB e os recursos arrecadados com a venda do e-book na Amazon serão destinados a uma organização feminista que está promovendo uma campanha de doação de alimentos para mulheres em situação de vulnerabilidade social.
O ataque surpreendeu os participantes tanto pela violência quanto pela sofisticação. Os invasores conseguiram desativar os microfones da anfitriã enquanto transmitiam áudios de som de disparos de metralhadora, do hino do Exército e postavam ameaças contra comunistas e frases de apoio a Jair Bolsonaro.
Todas as tentativas de retomar o controle da apresentação foram impedidas pelos invasores. Depois de alguns minutos, a poetisa desistiu, criou outro link e repassou para os interessados por whatsapp. Aí, sim, o lançamento pôde acontecer.
Por conta do conteúdo anticomunista do ataque, a presidente nacional do PCdoB e vice-governadora de Pernambuco, Luciana Santos, acabou participando do encerramento do lançamento falando da importância da literatura e da poesia para vencer o fascismo. “Não é por acaso que o lançamento de um livro de poesia tenha sido atacado”, afirmou . No final, Cida Pedrosa comentou que “precisamos estar atentos e fortes para responder aos ataques fascistas com amor, politização e com a certeza que eles passarão e nós, passarinhos”.
Após o ataque, o jornalista Aquiles Lopes, com experiência em consultoria de comunicação para campanhas eleitorais, lembrou que essa estratégia não nasceu aqui, pois “nesse momento, já está sendo muito usada por Donald Trump nos Estados Unidos. Nos eventos online e debates dos antirracistas do movimento Black Lives Matter, acontecem ataques sistemáticos para irritar, criar confusão e provocar as pessoas de esquerda para, depois, chamá-las de intolerantes”.
Para Aquiles, “esses ataques são planejados e sistemáticos. É uma tática do bolsonarismo para essas eleições. Vão usar em todos os ambientes e é preciso torná-los públicos para que as pessoas possam entender isso”.
Na véspera, outro ciberataque da extrema-direita já havia ocorrido um ataque ao evento Redação Aberta, promovido pela agência de jornalismo independente Énóis, de São Paulo. Redação Aberta é um espaço de oficinas onde jornalistas e cidadãos se reúnem para discutir questões, compartilhar recursos e conhecimento e aprender a relatar e investigar histórias em seus territórios.
No ataque de quarta-feira, dia 2, os bolsonaristas chegaram a derrubar o link, obrigando os organizadores a migrarem para a plataforma Zoom. O Énóis havia tomado precauções de segurança ausentes do lançamento de Cida Pedrosa, como a pré-inscrição dos interessados.
Jornalista e escritor. É o diretor de Conteúdo da MZ.