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Foto de bar no bairro da Madalena no sábado 7 de novembro. Crédito: Inês Campelo/MZ Conteúdo
Lá vem mais um domingo de gente junta e misturada para animar a festa do vírus que escolhi adjetivá-lo de inclusivo e presunçoso. Inclusivo não precisa da explicação. Presunçoso porque se ele tivesse mesmo personalidade se apresentaria como o melhor, o mais capaz de matar. Domingo é dia de votar para prefeita ou prefeito, vereadora ou vereador e uma grande chance de aglomerar. Mas não é sobre eleições que vou escrever, é sobre prudência.
Há umas três semanas começaram novamente os boatos sobre a “volta” da Covid-19 no Recife. Oi??? Em que planeta estamos? A pandemia nunca acabou, pelo menos para mim que no auge dos meus privilégios de mulher branca e classe média permaneço trabalhando de casa e evitando, ao máximo, saídas desnecessárias. É bem verdade que para muitos conhecidos, um monte de gente montada na grana, o clima está bem diferente. Os feriadões “bonbani” nas praias, festinhas, barzinhos e eu caretona aqui vou só criticar os rolês das amizades.
Que não tem política pública de testagem para todo mundo já se sabe. Falta de leitos em hospitais é o grande pavor e nossos percentuais de ocupação, mesmo nos períodos de maior calmaria, eram suficientes para provocar um lockdown em qualquer país da Europa. Vale lembrar que não existe remédio com comprovação científica para curar a Covid-19. A reabertura de tudo, inclusive das escolas, é o absurdo comentado nos quatro cantos da cidade. Mas, na boa: o que você cidadã e cidadão de bem vem fazendo para se proteger e proteger quem está perto de você? Tais aí na farra do fim de semana esperando que o “Gov” libere mais teste na segunda e abra mais leito para continuar jogando o bingo do corona?
A imprudência e a intolerância matam. A Covid-19 está matando mais que a violência. De acordo com o Anuário Brasileiro de Segurança Pública, durante o 1º semestre deste ano, 25.712 pessoas perderam suas vidas por mortes violentas. Em pouco mais de oito meses, 163 mil brasileiros morreram de insuficiência respiratória aguda, muitas delas em casa, sufocadas.
Honestamente, a atitude de muita gente me parece bem violenta nos últimos meses… Quando alguém resolve juntar os amigos, a família para uma farrinha casual, uma viagem ou uma comemoração qualquer está sendo imprudente. São atitudes como essas que estão matando os meus e os teus amigos, os meus e os teus parentes, pessoas que até muitas vezes assumiram o risco comprando a cartela do bingo. Até aí tá quase tudo certo, quem não sabe brincar não desce pro play!
O que choca mesmo é que são essas mesmas pessoas da jogatina que estão matando as trabalhadoras domésticas, os porteiros, os trabalhadores dos serviços essenciais que precisam de fato estar no trabalho e que não tiveram sequer um grão de feijão para marcar o bingo, quem dirá uma cartela do jogo.
Só essa semana teve hospital referência com centenas de atendimentos na emergência, UPAs lotadas. Faltam ambulâncias para transportar pacientes. As unidades de saúde estão novamente ampliando o número de leitos de enfermarias e UTIs. Isso só está acontecendo porque a necessidade de relaxar aloprando é a melhor chance que podemos dar ao vírus.
Quando um avião cai e mata 100 pessoas choca, se contam histórias daqueles que perderam a vida, nada mais justo. Quando se trata de corona essas vidas viram apenas estatística. Naturalizamos cada vez mais as mortes causadas por essa doença. São nomes, são pais, mães, irmãos, tios, são pessoas, são vidas que estamos perdendo para intolerância.
Sei que o ser humano nasceu para viver em sociedade, entendo que a saudade e a vontade de relaxar bateram com força, mas é sério mesmo que você não é capaz de ser mais paciente e evitar aglomerações? É sério que usar uma máscara é tão insuportável que você prefere arriscar a vida (sua e a dos outros)? Para e pensa qual é o teu papel nesse jogo. A prudência é a única coisa que pode salvar a tua vida.
Formada em Jornalismo pela Unicap. Apaixonada pela fotografia, campo que atua profissionalmente desde 1999. Atualmente é freelancer e editora de imagens do Marco Zero.