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Pernambuco é o estado do Nordeste com maior número de famílias sob ameaça de despejo

Kleber Nunes / 27/08/2021

Crédito: MLB/Divulgação

Nadja Maria Barreto, morou por 21 do seus 48 anos com nove filhos em uma casa alugada, no bairro de Candeias, em Jaboatão dos Guararapes. A mudança forçada veio em 2017, quando o aluguel de R$ 510 se equiparou ao que a inquilina ganhava por mês trabalhando de maneira informal com serviços gerais.

Entre comer e morar em um imóvel regularizado, Nadja escolheu fugir da fome e com o apoio do Movimento de Luta nos Bairros, Vilas e Favelas (MLB) ocupou um terreno ocioso, no bairro Dom Hélder, também em Jaboatão. Ela conta que na Ocupação Selma Bandeira vivem 200 famílias sem saneamento básico, atendimento em saúde, assistência social ou qualquer ação de política pública.

“Convivemos com ratos, baratas, cobras e até jacarés. Não temos direito ao atendimento no posto de saúde próximo porque dizem que estamos em uma área que não tem cobertura. Com a pandemia a situação ficou ainda pior, tem muita gente passando fome”, conta Nadja.

Se o presente é dramático o suficiente para qualquer família, o futuro para quem vive em ocupações é ainda pior com o iminente risco de despejo. No caso de Nadja e seus vizinhos há uma decisão judicial, segundo ela, para que todos deixem a área até o próximo dia 8 de setembro.

Essa realidade não é exclusividade das pessoas que vivem na Ocupação Selma Bandeira. Na verdade, Pernambuco é líder no Nordeste e terceiro estado do Brasil onde existem mais famílias vivendo sob a ameaça de serem expulsas da casa onde moram. São 9.299 nessa situação aqui no estado, enquanto que em São Paulo são 26.993 e no Amazonas 19.173.

Duas mil famílias foram despejadas em Pernambuco na pandemia. Crédito: Inês Campelo/MZ Conteúdo

Os dados são do levantamento da Campanha Despejo Zero, articulação nacional que reúne mais de 140 organizações, entidades, movimentos sociais e coletivos. O estudo mostra ainda que, nos últimos 12 meses, pelo menos 2.000 famílias foram despejadas em Pernambuco.

A diretora executiva da Habitat Brasil, Socorro Leite, afirma que os números preocupantes mostram o reflexo do aumento da pobreza e da falta de prioridade dos governos em relação às políticas públicas voltadas para suprir o déficit habitacional.

“Se formarmos o perfil dos mais afetados com essa violação do direito à moradia teremos em sua maioria uma população feminina, negra e desempregada. É uma situação de vulnerabilidade preocupante que mostra que as políticas públicas, do jeito que estão, não conseguem dar conta”, avalia.

Aprovado no último dia 19, o Projeto de Lei 1010/2021, de autoria das Juntas Codeputadas, é a esperança para que pelo menos o sono das quase 10 mil famílias, que vivem sob o iminente risco de despejo, seja um pouco mais tranquilo. A matéria proíbe que sejam concedidas ordens de despejo durante a pandemia do coronavírus.

“É muito importante que o Governo de Pernambuco sancione o mais rápido possível esse projeto de lei aprovado pelos deputados. É preciso lembrar que também há ameaças de despejos feitas pelo estado”, destaca Socorro.

Esta reportagem é uma produção do Programa de Diversidade nas Redações, realizado pela Énois – Laboratório de Jornalismo Representativo, com o apoio do Google News Initiative”.

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AUTOR
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Kleber Nunes

Jornalista formado pela Unicap e mestrando em jornalismo pela UFPB. Atuou como repórter no Diario de Pernambuco e Folha de Pernambuco. Foi trainee e correspondente da Folha de S.Paulo, correspondente do Estadão, colaborador do UOL e da Veja, além de assessor de imprensa. Vamos contar novas histórias? Manda a tua para klebernunes.marcozero@gmail.com