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Crédito: Fran Silva/Divulgação
por Jeniffer Oliveira
A quarta edição do Festival Fala!, que acontece entre 21 e 23 de setembro, vai conectar cultura e comunicação com nomes importantes de diferentes ritmos da cena pernambucana como rap, hip hop, afoxé, coco de roda, frevo, cultura indígena e brega funk. O jornalismo de causas, que pauta o festival, se intersecciona com a cultura periférica e popular, trazendo debates importantes sobre direitos humanos, raça, gênero e pertencimento da periferia.
Neste ano, o homenageado será Miró da Muribeca, poeta marginal que trouxe em sua obra os retratos sociais da periferia. Nos três dias de festival, Isaar, Afoxé Omô Nilê Ogunjá, Siba Puri, Orun, Manifesto de Cultura Popular, Jornada de MCs, Som na Rural com Mãe Beth de Oxum e Rayssa Dias, estarão presentes com intervenções que dialogam com a essência do Fala!.
Com ritmos da cultura popular pernambucana, a cantora e compositora Isaar França, vai abrir o evento com composições inéditas acompanhada do cantor Vinícius Barros. A intervenção vai trazer o repertório do álbum Inverno,a ser lançado ainda neste ano, que traz letras que se relacionam com o cotidiano recifense, baseadas em notícias e vivências. “O jornalismo escolhe o que é de importância social e o artista escolhe o que a gente pode reverberar ainda mais nas causas que a gente precisa analisar com mais profundidade, de uma outra forma, inclusive, mais poética”, afirma a Issar.
Em destaque no rap pernambucano, a cantora, compositora e poetisa Bione traz em suas letras as vivências de uma jovem preta e periférica da zona oeste do Recife. Quem estiver no segundo dia do festival, vai presenciar uma performance com poesia falada e marginal e músicas do seu primeiro álbum visual chamado Ego, que aborda o poder do povo preto. “Meu rap tem essa influência direta com a história de comunicar mesmo sobre poder. Hoje em dia eu tô mais voltada para a ‘vibe’ do poder para a galera da periferia, do sentir que conseguimos, que podemos”, destaca Bione.
Com 18 anos de estrada, a Jornada de MC’s também faz parte da programação. Comandada pelo DJ BIG e apresentada pelo MC Akuka, a Jornada vai ser apresentada em edição especial, com a Batalha de MCs entre 16 artistas. ”É significativo estar em um ambiente desse, fazendo parte dessa programação, porque são poucas as mídias que se propõe a dialogar coisas para preto, para periferia, para o povo menos favorecido. Então essas mídias ainda são muito pequenas no Brasil e elas são de extrema urgência e importância. Porque é ali que o nosso povo aparece”, reforça o educador social, produtor cultural e musical DJ BIG.
No último dia, a mestra coquista, comunicadora e patrimônio vivo pernambucano, Mãe Beth de Oxum, vai trazer diretamente de Guadalupe, em Olinda, o Coco de Umbigada junto ao Som na Rural. Conhecida por suas letras que falam sobre pautas sociais, pelo resgate da ancestralidade, contra a violência de gênero, intolerância religiosa, lbgtfobia e racismo.
Para ela, “existe muita disputa de narrativa para protagonizar, principalmente, as periferias como algo perigoso, algo violento. A gente não vê as periferias como algo criativo, inovador, cultural, isso porque existe um editorial que pauta a grande mídia desse jeito. Então um festival desse é muito relevante, muito importante nessa perspectiva de trazer outras vozes, outras opiniões, democratizar a comunicação mesmo”. Além da intervenção artística, Mãe Beth também vai participar da mesa “Comunicação e ancestralidade: memória e linguagem para a transformação”.
“Esse jornalismo tem pontos em comum com o rap, com o brega, com coco de roda, que é o que está na nossa programação. A nossa programação musical traz cantores, artistas, fazedores da cultura que são pessoas que também estão construindo e fortalecendo pautas dos direitos humanos”, reforça Lenne Ferreira, jornalista, curadora e produtora do Fala! deste ano. A escolha de cada mesa e artista foi pensada para trazer o debate disruptivo, com novos olhares e linguagens do fazer jornalístico, de comunicar.
Lenne enxerga que “quando a gente coloca o Manifesto de Cultura Popular, que é um coletivo de São Lourenço da Mata, por exemplo, que traz todo um resgate das danças e manifestações que tem influência indigena e africana, eles tão fazendo comunicação, eles estão usando a arte e a dança para comunicar, pra educar a população, para dizer: isso aqui existe, isso aqui é importante, isso aqui tem história, que representa a gente. Podem não estar fazendo com um texto de jornalismo, mas estão fazendo com o corpo, porque corpo também é uma forma de comunicar”.
Quem são as atrações:
Isaar França – Integrou a banda Comadre Fulozinha, com quem gravou dois discos, fez parceria com António Carlos Nóbrega, com Naná Vasconcelos. também participou das aulas espetáculos de Ariano Suassuna e de peças de José Celso Martinez. Em 2006, lançou o álbum Azul Claro, muito bem recebido pela crítica. Em 2010 ganhou o prêmio Pixinguinha. Logo depois vieram os discos “Copo de Espuma” e “Todo Calor”. Em 2016, cantou no show de encerramento das Olimpíadas do Rio de Janeiro. Em 2022, faz sua primeira turnê em continente africano visitando África do Sul e Moçambique. Isaar está na produção do seu próximo álbum que será lançado ainda em 2023.
Bione – Aos 21 anos, os versos da cantora, compositora e poetisa Bione, sintetizam a percepção do olhar de uma menina atenta ao mundo em que vive. Racismo, violência urbana, machismo, misoginia e amor são assuntos constantes em suas linhas que ela tece do quarto onde na Zona Oeste da capital pernambucana.Em 2019, lançou seu primeiro livro, Furtiva. Em 2022, Bione lançou o seu primeiro álbum profissional, EGO, que conta com participações especiais de nomes como Rayssa Dias e Mãe Beth de Oxum.
DJ BIG – E educador social, produtor cultural e musical e curador de eventos. Um dos seus projetos mais inspiradores é o “Festival Jornada De MCs”, que há 18 anos tem dado voz e oportunidades a talentosos artistas das comunidades, impulsionando especialmente a cultura hip hop. Ele também colaborou na política cultural do Compaz Eduardo Campos e atualmente é um dos representantes do estado em uma iniciativa nacional em parceria com o Governo Federal para promover o hip hop. Com sua visão e expertise, ele tem inspirado gerações e deixado um impacto social nas periferias de Pernambuco.
Mãe Beth de Oxum – Mãe Beth de Oxum é Iyalorixá do Ilê Axé Oxum Karê, mestra coquista e comunicadora pernambucana, com mais de 30 anos de atuação em Olinda. Há 25 anos, fundou a sambada de Coco no bairro do Guadalupe junto com seus filhos e seu companheiro, o músico Quinho Caetés. Sempre atuando na luta contra o racismo, contra o preconceito religioso de matriz africana e pela democratização da comunicação. Em 2015, Mãe Beth recebeu a comenda da Ordem do Mérito Cultural do Ministério da Cultura. Em 2017, realizou uma turnê internacional, Tá na hora do pau comer, que passou por Berlim, Viena, Frankfurt, Berna e Zurique. Em 2021 foi a primeira ialorixá reconhecida como Patrimônio Vivo de Pernambuco. No ano seguinte, recebeu o Título de Notório Saber em Cultura Popular pela UPE.
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