Ajude a MZ com um PIX de qualquer valor para a MZ: chave CNPJ 28.660.021/0001-52
Crédito: Arnaldo Sete/MZ Conteúdo
por André Frej Hazineh*
Desde o início da punição coletiva imposta pelo estado sionista de Israel à população civil de Gaza, assistimos a uma mudança no sentimento da comunidade internacional à medida que avança a ofensiva terrestre no enclave palestino.
Primeiramente, registre-se, a narrativa hegemônica dos meios de comunicação do ocidente protagonizou uma espécie de genocídio midiático, quando as vozes palestinas foram absolutamente silenciadas na cobertura da ação da resistência assumida pelo Hamas no próprio dia 7 de outubro.
No Brasil, um outro fenômeno agravou a situação para o lado palestino: nas redes sociais, as milícias digitais bolsonaristas sufocaram quem tentava furar o bloqueio midiático, denunciando postagens de ativistas, cancelando contas e promovendo o linchamento virtual de quem ousava se contrapor ao mainstream; nas igrejas evangélicas pentecostais e neopentecostais se propagava um discurso de ódio e intolerância – xenofobia, islamofobia e palestinofobia, tudo junto e misturado.
Nesse cenário, prevalecia o entendimento de que existiria um conflito restrito ao Hamas e o Estado teocrático judeu, que teria o direito de se defender dos ataques, superdimensionados por notícias falsas oriundas das forças de ocupação e publicadas sem a devida checagem da informação.
A cobertura ostensiva durante a primeira semana da efeméride armou uma arapuca para a própria mídia hegemônica, visto que foi obrigada a dar continuidade ao noticiário do conflito quando o exército de Israel passou a bombardear alvos civis indiscriminadamente, atingindo escolas, hospitais, abrigos e até escritórios da Organização das Nações Unidas.
Àquela altura, era evidente uma variação no temperamento da opinião pública mundial, estarrecida com a carnificina em curso na Faixa de Gaza (incluindo o deslocamento forçado de populações) e, ao mesmo tempo, ciente de que o ataque do Hamas não deveria ter sido tratado como evento episódico em função de a raiz do conflito ser a intenção do projeto colonial sionista de promover a limpeza étnica na Palestina.
Em todo o planeta, multidões tomaram as ruas para protestar contra o primeiro genocídio televisionado da história da humanidade ao passo que o conglomerado de comunicação, numa atitude absolutamente previsível, puxou o freio de mão na cobertura do conflito, pois era preciso sufocar os movimentos de solidariedade.
Aqui abro um parêntese apenas para pontuar a falência do modelo de governança global diante de tamanha catástrofe vivida pelo povo palestino (uma segunda Nakba), a partir do desprezo cínico aos apelos por pausas humanitárias por parte do Estado de Israel e do veto às resoluções propostas no Conselho de Segurança da ONU por parte dos Estados Unidos.
Uma observação mais acurada evidencia atualmente a estratégia de secundarizar o noticiário do conflito (com mais de 13.000 mortes – a maioria mulheres e crianças – o fato tenderia a contrapor o discurso oficial) ou desviar o foco para as narrativas paralelas como a estapafúrdia cantilena de associar quaisquer justas críticas ao sionismo e ao Estado de Israel a um pretenso antissemitismo.
Evidentemente, despiciendo revelar o desespero do governo israelense e mídia aliada com a derrota moral do ente sionista, que responderá nos Tribunais Penais Internacionais sobre os crimes de guerra e lesa humanidade cometidos.
Por outro lado, essa redução proposital na cobertura jornalística tem por objetivo arrefecer a indignação coletiva, minar as forças dos movimentos de solidariedade e, em última análise, esvaziar os atos que têm levado multidões às ruas no mundo inteiro.
Uma consequência, ao menos, já identificamos: o silenciamento das vozes palestinas, o “apagamento” das notícias, o controle das redes sociais nos faz testemunhar uma indiferença na maioria da população, mesmo diante de uma tragédia que expõe a fragilidade e crueldade da natureza humana.
Corpos carbonizados, crianças órfãs, famílias destruídas, a desumanização de uma população colonizada e vitimada pela necropolítica sionista não mais sensibiliza; diante desse novo cenário normal de ruína das almas, as pessoas indiferentes nos atordoam diariamente.
Sequer visualizamos bandeirinhas da Palestina em perfis das redes sociais, como vimos as da Ucrânia recentemente ou da França quando a redação do tabloide Charlie Hebdo foi atacada.
O que eu tenho a ver com a situação do povo palestino ? questionaria alguém a simbolizar a essência do pensamento de quem presentemente promoveu a necropolítica nas bandas de cá.
Aí reside a minha dor, eu tenho minha dor, é minha, não é de mais ninguém, ou melhor, não estou sozinho, muita gente sofrendo com essa indiferença, essa solidariedade seletiva.
Na próxima quarta-feira, 29 de Novembro, Dia Internacional de Solidariedade ao Povo Palestino, haverá atos no mundo inteiro.
No Recife, a concentração será às 17 horas na Praça do Derby.
Será um dia decisivo para a história da humanidade. Multidões ocuparão as ruas contra a ocupação e o genocídio sionistas ? Ou renomearemos o 29 de Novembro com o Dia Internacional dessa tal Solidariedade Seletiva?
A resposta revelará o senso de humanidade de cada qual.
*André Frej Hazineh é jornalista e integrante do Coletivo Aliança Palestina Recife
Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados. Este texto não reflete, necessariamente, a opinião da Marco Zero
Uma questão importante!
Se você chegou até aqui, já deve saber que colocar em prática um projeto jornalístico ousado custa caro. Precisamos do apoio das nossas leitoras e leitores para realizar tudo que planejamos com um mínimo de tranquilidade. Doe para a Marco Zero. É muito fácil. Você pode acessar nossa página de doação ou, se preferir, usar nosso PIX (CNPJ: 28.660.021/0001-52).
Apoie o jornalismo que está do seu lado
É um coletivo de jornalismo investigativo que aposta em matérias aprofundadas, independentes e de interesse público.