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Protetores e protetoras independentes de animais estiveram na manhã desta quarta-feira (16), em frente à Prefeitura do Recife para reivindicar uma política pública efetiva para os animais abandonados da capital pernambucana. São muitos os pontos de abandono e poucos os movimentos da gestão municipal para ajudar. Como dedicam tempo, investem dinheiro, gastam energia e garantem espaço para tentar minimizar o sofrimento de cães e gatos, os protetores entenderam que chegou a hora de protestar e exigir atenção do poder público.
O protesto foi realizado pelo Fórum de Bem Estar Animal PE (Febema). Segundo Alexandre Moura, ambientalista e protetor de animais, “o principal foco do ato foi a falta de diálogo com a gestão municipal, a altura das necessidades dos protetores, cobrando políticas públicas voltadas à proteção e defesa dos animais”.
O Hospital Veterinário é o foco das principais queixas, pois a administração municipal havia prometido que ele funcionaria 24 horas, promessa feita no ano passado junto com a ampliação das instalações e do número de atendimentos. A falta de especialidades como ortopedia, oncologia e oftalmologia, além da valorização dos profissionais que trabalham no hospital também estavam na pauta do protesto. Outro ponto, foi o cumprimento da lei de tração animal, iniciativa que partiu da própria prefeitura.
Uma comissão de seis pessoas com representantes da Febema, do Sindicato dos Médicos Veterinários de Pernambuco e do Conselho Regional de Medicina Veterinária, foram recebidos pelo secretário executivo de Articulação Política e Social, Henrique Leite, e pelo secretário executivo dos Direitos dos Animais, Luís dos Anjos. Como encaminhamento, foi reestabelecida a Comissão Municipal de Bem-estar e Direitos Animais como um canal de diálogo entre o poder público e a sociedade civil relacionado com a proteçãoanimal.
Mercados públicos, parques, praças, universidades públicas e até hospitais viraram pontos de abandono. Um deles, entre o bairro da Madalena e da Torre, recebeu mais de 1200 gatos abandonados entre novembro de 2021 e março de 2025. Deste número, 433 foram adotados e 162 morreram. Esses dados foram coletados pela protetora Laura Atanásio, advogada da organização não governamental Gatinhos Urbanos.
Assim como outros ativistas pela causa animal, Laura tem dedicado anos da sua vida para promover o mínimo de bem estar para esses animais, sobretudo dos gatos que são as maiores vítimas do abandono. Segundo Laura, naquele local específico, uma senhora de 70 anos conhecida como dona Eunice assumiu a tarefa de monitorar, limpar e alimentar os gatos diariamente.
Pelo menos 1.200 gatos foram deixados na Torre. 162 morreram.
Crédito: Arnaldo Sete/Marco Zero“Ela está aqui há mais de dez anos, mas está exausta. Porque se ela não vier, não vem ninguém, eles não comem. Ela já participou para todas as audiências que a gente conseguiu articular, mas diz que não adiantou nada, pois a Prefeitura segue sem fazer coisa alguma. Aí você imagina a situação de todos os outros pontos que tem na cidade, que não tem essa visibilidade, esse apoio, essa ajuda”, desabafa a protetora.
As queixas são diversas: falta vacina anti rábica, falta uma política de castração efetiva, falta apoio para os protetores comprarem ração. Também falta disposição da prefeitura para construir uma política efetiva com diálogo.
Um das raras conquistas foi o compromisso assumido pela prefeitura de realizar a castração dos animais abandonados na Torre, se comprometendo também a realizar o pré e pós operatório.
No entanto, isso só aconteceu depois do Ministério Público de Pernambuco ser acionado. Mas isso só vale para esse local. Nos outros pontos de abandono, dezenas de homens e mulheres que cuidam dos animais seguem sem apoio. Mesmo com os serviços gratuitos do Hospital Veterinário do Recife, por exemplo, não são fáceis de acessar, pois a maioria dos protetores não tem condições de custear sequer o transporte.
Desde quando começou a trabalhar em um mercado público da zona norte do Recife, o comerciante Ângelo José Gabriele, de 60 anos, ajuda gatos abandonados. São 30 anos, metade de sua vida, alimentando, cuidando e buscando pessoas que possam adotar os animais que são deixados à própria sorte quase todos os dias no local. Atualmente, existem em média 70 gatos nesse mercado.
“São cinco a seis quilos de ração por dia. Tem um cliente nosso que é ‘Deus no céu e ele na terra’, porque doa 12 sacas de dez quilos todo mês. Aqui a gente gasta uma saca para cada dois dias. Se não fosse isso esses gatinhos morreriam todos de fome”, afirma.
O comerciante afirma que nesse tempo já viu de tudo e que sente o descaso, se não fossem os parceiros doadores seria difícil de manter. Lá no mercado, cada um ajuda como pode. Além dos clientes que fazem doação de rações, remédios e até castrações, há também uma protetora que realiza tratamentos nos gatos doentes e veterinários que fazem um preço social para animais resgatados. Além da força tarefa para cuidar dos gatos do mercado, Ângelo possui outros 20 felinos em casa. Em dois bares próximos, os proprietários também cuidam de mais 20 animais cada.
“O problema maior são os gatos do telhado: vão procriando e não conseguimos pegar eles, porque são muito assustados. Se a prefeitura ajudasse ao invés de atrapalhar, porque poderiam pegar para castrar, mas ficam perseguindo a gente dizendo que não é para colocar ração, mas podiam ser aliados, uma parceria seria bom pra todo mudo aqui”, relata. “A gente ainda doa muito gato e castra também para não aumentar. Se a gente não tivesse aqui ia ficar de um jeito que ninguém ia suportar”, completa.
A construção do Parque da Tamarineira rendeu uma grande repercussão entre os protetores de animais, pois lá havia mais de 200 gatos cuidados por dona Adeílda, que cuidava dos bichos há 20 anos. O gatil foi instalado em um galpão nos fundos do Hospital Ulisses Pernambucano, cedido pela diretoria da instituição. Após uma série de denúncias e reivindicações, os protetores conseguiram que a prefeitura assumisse a responsabilidade pelos cuidados dos animais.
De fato, o local que dona Adeílda estruturou para os cuidados dos animais foi cercado e, hoje, eles estão sob cuidados da prefeitura, acompanhados pelo Centro de Vigilância Ambiental (CVA). No entanto, Laura Atanásio afirma que a protetora foi afastada do local.
“Eles construíram com sucatas, fecharam a parte que já estava lá e não botaram nada novo. Tudo que está lá, do chão às prateleiras, foi Adeílda que colocou e a prefeitura aproveitou. Nem compraram potes novos para comida”, questiona a protetora. Segundo ela, em apenas um mês nove gatos morreram, pois não houve uma triagem adequada quando foram colocados no gatil.
Entramos em contato com a prefeitura para entender se existem políticas públicas para atender às demandas apresentadas. Desde o começo da gestão do prefeito João Campos (PSB), a secretaria executiva de defesa dos animais (SEDA), tem lançado alguns programas direcionados a esse público, mas que, a julgar pelo protesto desta quarta-feira, parecem não contemplar os cuidadores.
Em 2023, a secretaria lançou o programa Meu Amigo Protetor, que promete promover ações para apoiar protetores independentes e organizações não governamentais que atuam na causa animal. A prefeitura destacou o Dia do Meu Amigo Protetor, realizado no Hospital Veterinário do Recife, em que duas vezes ao mês, os protetores beneficiados – limitado a dez por quinzena – podem levar até cinco animais para realizar a castração, totalizando 100 procedimentos mensais. No entanto, ao ser questionada quais outras ações são realizadas pelo programa, a SEDA não respondeu.
Também foi criada a plataforma AdotaPet, que deveria servir para ligar animais cadastrados às pessoas que se interessam em adotá-los. Contudo, cada cidadão pode cadastrar apenas dois animais, número bem inferior ao total de bichos acompanhados pelos protetores. Laura Atanásio comenta que o “AdotaPet foi um avanço, mas não contempla os animais de rua e os protetores, porque, esse cadastro não contou com a participação dos protetores”.
A protetora também alerta que as ações de adoção promovidas dentro de outros eventos da prefeitura não têm planejamento. O ideal, segundo ela, seria um evento específico para adoção. “As pessoas não vão nem saber que tá tendo um animal para adoção lá. Não há cuidado, não há quem se disponha a conversar com os possíveis interessados, para identificar, naquele momento, se aquela pessoa vai conseguir ser responsável por aquele animal resgatado”, avalia.
“Por meio do Gabinete de Proteção e Defesa dos Animais, tem intensificado as ações de fiscalização e combate aos maus-tratos, atuando de forma sistemática na promoção de políticas públicas voltadas à causa animal. Em 2024, foi implantada a plataforma SOS Animal, que está disponível 24 horas por dia no Conecta Recife, permitindo à população registrar denúncias com agilidade. Também é possível fazer denúncias pelo telefone (81) 3355-1670 ou através da Ouvidoria do município – 0800 281 0040. A colaboração da sociedade é essencial para o fortalecimento das ações de proteção animal.
Para apoiar protetores independentes e organizações não governamentais que atuam na causa animal, a Prefeitura instituiu, em 2023, o Meu Amigo Protetor. Entre as ações promovidas pelo programa, destaca-se o Dia do Meu Amigo Protetor, realizado no Hospital Veterinário do Recife. Duas vezes ao mês, os protetores beneficiados – limitado a 10 por quinzena – poderão levar até cinco animais para realizar a castração, totalizando 100 procedimentos mensais.
Em relação ao ponto de abandono da Torre (a reportagem retirou o nome da rua, para evitar novos abandonos no local), a Prefeitura do Recife informa que, semanalmente, em parceria com uma protetora local, animais são recolhidos e encaminhados para castração no Hospital Veterinário. O local também recebeu totens informativos com orientações sobre como denunciar casos de maus-tratos. Além disso, durante a campanha anual de vacinação antirrábica, profissionais da Secretaria de Saúde realizam a imunização dos animais diretamente na área. Uma nova etapa da ação está prevista para o segundo semestre, conforme o cronograma vacinal.
Além do atendimento fixo no Hospital Veterinário — que oferece castrações, consultas, exames, cirurgias, vacinação e atendimentos de urgência —, os serviços gratuitos também são levados à população por meio de eventos descentralizados, como o CãoPaz, realizado mensalmente nos Centros Comunitários da Paz (Compaz), e nas edições dos programas Viva o Centro e Viva Guararapes.
Sobre o espaço que abriga gatos entre o Hospital Ulysses Pernambucano e o Parque da Tamarineira, a gestão do local está sob responsabilidade do Centro de Vigilância Ambiental (CVA), da Secretaria de Saúde do Recife, por determinação do Ministério Público. O CVA possui equipe técnica capacitada para garantir o cuidado e o bem-estar dos animais. Já o Gabinete de Proteção e Defesa dos Animais atua com a castração dos felinos abrigados, que estão disponíveis para adoção por meio da plataforma AdotaPet.”
Existem diversas páginas do instagram e grupos que se movimentam para conseguir um lar para os gatinhos que estão em situação de vulnerabilidade nas ruas ou nos abrigos superlotados. Os protetores costumam fazer uma espécie de entrevista para saber aquela pessoa interessada tem realmente condições de adotar um animal e evitar um novo abandono.
No Recife, as páginas Gatinhos Urbanos e S.O.S Amigos dos Animais são dois projetos independentes que costumam divulgar os animais que estão precisando de ajuda. A Marco Zero foi até os pontos dois pontos de abandono e registrou alguns dos animais que podem receber ajuda. Confira a galeria:
Jornalista formada pelo Centro Universitário Aeso Barros Melo – UNIAESO. Contato: jeniffer@marcozero.org.