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O número de acidentes com a rede elétrica caiu no Brasil entre 2023 e 2024. Porém, o número de mortes aumentou. No ano passado, 257 pessoas foram vítimas de acidentes fatais, sete a mais que em 2023.
O aumento de óbitos vai na contramão do total de acidentes, que diminuiu: foram 685 casos em 2024 (o menor índice desde 2017, início da série histórica), contra 782 em 2023. Os dados são do novo relatório da Associação Brasileira de Distribuidores de Energia Elétrica (Abradee), divulgado na quinta-feira, 22 de maio.
No Recife e na Região Metropolitana, ao menos cinco pessoas morreram em decorrência de choque elétrico em dias de fortes chuvas somente este ano, em fevereiro e maio.
De acordo com a Neoenergia, nenhum dos casos foi de responsabilidade da concessionária, pois não envolvia poste ou fio da distribuidora, tendo as ocorrências sido provocadas por problemas em instalações particulares ou ligações clandestinas.
Com o aumento da frequência de eventos climáticos extremos num contexto complexo de responsabilização, fiscalização e gestão urbana, a população tem ficado cada vez mais exposta ao risco de choques em dias de muita chuva. Essa é a análise do doutor em engenharia elétrica Jeydson Lopes, professor no Departamento de Engenharia Elétrica da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE).
“A população fica refém porque tem que ir trabalhar, tem que botar o pé na lama e na água e não sabe se ali tem um poste ou um muro com ligação irregular”, comenta o especialista. “Apesar de a frequência dos acidentes ter caído de forma geral, os eventos que estão ocorrendo, em média, são mais graves ou letais”, analisa.
“Grande parte desses problemas poderia ser evitada com a responsabilização adequada dos órgãos competentes, mas também associados com a educação e a conscientização da população, em termos de construções adequadas, furto, gambiarra, adequação da instalação”, diz Jeydson.
“Infelizmente, a gente está tendo problemas recorrentes no Brasil e no Recife”, alerta. Na avaliação dele, se o cenário não mudar, alagamentos continuarão a ser seguidos de mortes por choques elétricos.
“Isso porque geralmente a fiscalização é inadequada e não existe uma penalização adequada dos culpados. Você não vê uma campanha de conscientização apropriada, existem algumas ações pontuais, mas elas ainda são insuficientes para a realidade do problema”, acredita o professor.
Maior parte dos acidentes teria ocorrido em instalações particulares ou ligações clandestinas
Crédito: Getty ImagesAinda segundo o relatório da Abradee, o Nordeste foi a segunda região com o maior número de acidentes com a rede elétrica no país, totalizando 193 ocorrências, com 67 mortes e 55 casos de lesões graves. As principais causas foram atividades de construção ou manutenção predial (61 casos), cabos energizados e atropelamentos com batida em poste ou rede. Também se destacam os acidentes relacionados a furtos de condutores e ligações clandestinas, que seguem sendo um grave problema de segurança pública.
Na RMR, desde 2023, segundo a Neoenergia, já ocorreram 20 acidentes fatais relacionados à rede elétrica, sendo a maioria deles motivados por reforma e construção civil, tentativas de furto de fios e ligações clandestinas.
Especificamente sobre as quatro ocorrências deste ano que têm ligação com a redenaneoenergia, todas foram motivadas por tentativas de furtos de cabos e cerca energizada, esclareceu a empresa.
Em nota, a empresa afirmou que “atua permanentemente na orientação sobre o uso seguro da energia e no combate às ligações clandestinas, que é crime previsto em lei com pena de reclusão de até quatro anos”.
Encontrar o responsável muitas vezes pode ser uma tarefa complexa, detalha o professor Jeydson. Se o choque elétrico for causado por um poste, seja por um fio exposto, uma queda, um curto ou uma descarga, a responsabilidade pode cair sobre diferentes agentes, dependendo da origem do problema e da manutenção, por exemplo.
Em algumas situações, há ainda o compartilhamento do poste com cabos de internet. No caso de furto e ligação irregular, o cidadão tem que ser responsabilizado.
“Se por acaso houver uma ligação clandestina no poste e essa foi a causa do acidente, a concessionária pode alegar o mau uso, mas, caso fique comprovado que a empresa já tinha ciência da irregularidade e não tomou nenhuma providência, ela também pode ser responsável por omissão”, exemplifica o especialista.
“Se o acidente foi causado por um poste de iluminação pública mal localizado em uma área de risco, por exemplo, pode haver também a responsabilização da prefeitura”, complementa, lembrando que, no Recife, há diversas áreas que antes não alagavam e hoje estão alagando bastante.
Vencedora do Prêmio Cristina Tavares com a cobertura do vazamento do petróleo, é jornalista profissional há 12 anos, com foco nos temas de economia, direitos humanos e questões socioambientais. Formada pela UFPE, foi trainee no Estadão, repórter no Jornal do Commercio e editora do PorAqui (startup de jornais de bairro do Porto Digital). Também foi fellowship da Thomson Reuters Foundation e bolsista do Instituto ClimaInfo. Já colaborou com Agência Pública, Le Monde Diplomatique Brasil, Gênero e Número e Trovão Mídia (podcast). Vamos conversar? raissa.ebrahim@gmail.com