Apoie o jornalismo independente de Pernambuco

Ajude a MZ com um PIX de qualquer valor para a MZ: chave CNPJ 28.660.021/0001-52

Homenagem a Carlos Sandroni reforça luta em defesa da cultura tradicional nordestina

Marco Zero Conteúdo / 18/08/2025
A imagem mostra um homem, com cabelos e pele branca, sorrindo enquanto toca um violão marrom.

Foto: Divulgação

No dia 21 de agosto de 2025, das 14h às 17h, o Auditório da Associação dos Docentes da UFPE (Adufepe) vai receber o evento “Salvaguarda do Patrimônio dos Detentores da Cultura Tradicional Nordestina: uma homenagem ao Professor Carlos Sandroni”. A iniciativa, fruto de uma ação coletiva entre estudantes, Mestres e pesquisadores, busca reconhecer as conquistas em políticas e territórios culturais, além de reforçar uma reivindicação histórica: o devido reconhecimento aos guardiões e guardiãs da cultura tradicional nordestina.

Musicista, cientista político e social, com especialização em etnomusicologia, Sandroni é referência nacional e internacional no processo de patrimonialização da cultura popular. Sua trajetória se destaca pela mediação entre Mestres e Mestras e as políticas culturais, garantindo a esses protagonistas não apenas visibilidade, mas também voz ativa nas decisões sobre a preservação de seus saberes. Um marco de seu trabalho foi revisitar as Missões de Pesquisas Folclóricas de Mário de Andrade (1938), levando registros originais de rituais a povos indígenas do sertão pernambucano.

Fundador da Associação Respeita Januário (ARJ), ao lado de docentes e discentes da UFPE, Sandroni consolidou um espaço de articulação entre universidades, comunidades e políticas culturais. A ARJ é reconhecida por projetos como Musicalização com Mestres do Sertão de Pernambuco (Tacaratu, Arcoverde e Pedra, 2005–2006), premiado pelo programa Rumos do Itaú Cultural, e Viva Pareia! (Condado, 2007–2008). No cenário urbano, destacou-se a ação Ocupe – Oficinas Culturais de Pernambuco (Olinda, 2017) e a pesquisa que resultou no CD duplo Responde à Roda Outra Vez (2003–2004), preservando repertórios da tradição oral brasileira.

Entre 2011 e 2021, a ARJ foi responsável por inventários e dossiês que levaram o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) a reconhecer bens culturais como o Cavalo-Marinho, os Caboclinhos de Pernambuco, a Ciranda e as Matrizes Tradicionais do Forró. O dossiê do Reisado, já concluído, aguarda oficialização. Atualmente, a associação inventaria as Bandas de Pífanos do Nordeste e de Minas Gerais, os Circos de Tradição Familiar do Brasil (Iphan) e o Pastoril de Pernambuco (Funcultura).

A homenagem também é um chamado para fortalecer instituições e políticas que protejam a memória e o “bem viver” dos detentores de saberes tradicionais, muitos deles em vulnerabilidade social. O recado é claro: mais do que patrimonializar, é preciso garantir governança própria e reconhecimento comunitário, assegurando que os protagonistas da cultura popular tenham as condições e os meios para dar continuidade a suas tradições.

Com impacto que extrapola fronteiras acadêmicas, a atuação de Carlos Sandroni mostra como pesquisa, articulação comunitária e políticas públicas podem caminhar juntas. O evento na UFPE pretende não apenas celebrar um legado, mas inspirar novas alianças em defesa da cultura nordestina que é viva, resistente e enraizada em seus territórios.

AUTOR
Foto Marco Zero Conteúdo
Marco Zero Conteúdo

É um coletivo de jornalismo investigativo que aposta em matérias aprofundadas, independentes e de interesse público.