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Pressão contra Ministro do Trabalho pode derrubar Paul Singer, da Senaes

Joel Santos Guimarães / 16/07/2015

Por Vasconcelo Quadros e Joel Santos Guimarães

Brasília e São Paulo – Uma reunião entre a direção nacional do PDT e as bancadas do partido na Câmara e no Senado, na manhã de terça-feira, em Brasília, pode ter selado o destino do ministro Manoel Dias e dos principais secretários do ministério do Trabalho e Emprego.

Paul Singer. Agência PT/Divulgação

Paul Singer. Agência PT/Divulgação

Além da substituição de Dias, o PDT exige ainda a saída de Paul Singer da Secretaria Nacional de Economia Solidária (Senaes) e de Messias Nascimento, de Relações do Trabalho, que são indicações do PT. Uma eventual saída de Singer, como provável vítima de uma bala perdida na guerra interna que o PDT trava para afastar Dias, pode comprometer a política de economia solidária que o economista pilota desde o governo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Na reunião, os parlamentares pedetistas deixaram claro que além da substituição de Manoel Dias por um deputado ou um senador do partido, querem o controle absoluto do MTE. Ou seja, porteira fechada e ônus e bônus do que vier pela frente.

– Eles não querem apenas os principais cargos de direção do ministério. Querem também o direito de preencher todos os cargos do MTE nos estados como, por exemplo, as delegacias regionais e outras funções de segundo e terceiro escalão-, revelou à Marco Zero um dos vice-presidentes da Frente Nacional de Prefeitos (FNP), que também é prefeito de um município do interior de São Paulo.

Bancada Drácula

Essa sede dos parlamentares pedetistas pelos cargos do MTE foi revelada ao prefeito pelo próprio secretário geral do MTE, Francisco José Pontes Ibiapina, com quem esteve reunido na semana passada.

Na ocasião, segundo este prefeito, Ibiapina teria dito que no dia anterior o expediente no MTE havia terminado com informações de que a bancada do PDT se articulava para exigir a substituição de Paul Singer por um nome indicado pelos deputados e senadores pedetistas e que no outro dia ele começou a trabalhar já com a certeza de que as bancadas do PDT “queriam também a cabeça do Manoel”.

A fonte compara o comportamento dos deputados e senadores do PDT ao conde Drácula:

“Drácula tinha sede de sangue e a grande maioria da bancada do PDT no Congresso tem sede de cargos. Ou seja, são vampiros do poder”, afirmou o dirigente da FNP.

Em seu entender, os pedetistas não devem ter muitas dificuldades para convencer a presidente Dilma Rousseff a demitir Manoel Dias colocando em seu lugar um nome indicado pelas bancadas do partido.

“A dificuldade maior será como defenestrar o Paul Singer”, prevê

Caindo “para cima”

De fato, a parte mais delicada da empreitada pedetista é mesmo a situação de Singer: a bancada pedirá que Dilma o derrube “para cima”, oferecendo a ele um cargo mais importante em algum organismo internacional relacionado ao tema da economia solidária.

A estratégia tem por objetivo evitar uma ação mais ostensiva do PDT, onde ninguém quer o ônus de provocar a demissão de um secretário que, na avaliação do próprio partido, é uma espécie de reserva moral da esquerda e principal responsável pelos avanços na economia solidária e dos movimentos sociais correlatos.

Premiado e homenageado internacionalmente pelo trabalho que desenvolve desde 2003, Singer é um dos últimos “moicanos”: fez parte do grupo de intelectuais que participou da fundação do PT, manteve-se fiel à esquerda e nunca abriu mão das ações sociais, mesmo num ministério que guarda apenas uma pálida lembrança de interação com o trabalhismo socialista.
O fato, no entanto, é que Singer está com a cabeça “a prêmio” e pode, sim, ser rifado com a provável queda de Manoel Dias.

A decisão, segundo uma fonte do PDT, deve ser tomada depois do recesso parlamentar, no início de agosto, e deve ser assumida por Dilma.

Vale lembrar que a presidente, diante do atual momento político, não pode prescindir do apoio do PDT no Congresso, ainda que para isso tenha que enfrentar uma corrosão ainda mais forte nos movimentos sociais que a elegeram.

Ou seja, a fragilidade de Dilma diante da escalada conspiratória da oposição é, a rigor, um prato cheio para as bancadas do PDT dominar o MTE. O PDT foi o único partido da base que votou unanimemente contra todas as medidas do ajuste, um gesto de rebeldia que pode ter sinalizado um possível rompimento com o governo. Se não forem atendidas, as bancadas podem forçar o PDT a desembarcar do governo num momento em que Dilma está no meio da tempestade.

Dias, o adereço

Pelo PDT da Câmara, dois nomes cintilam como prováveis substitutos de Dias: Afonso Motta (RS) e Weverton Rocha (MA), ambos comprometidos com os pleitos da bancada pedetista que, além dos cargos, quer recuperar o prestígio do ministério, esvaziado nos últimos anos.

Por mais contraditório que pareça, Manoel Dias é querido na bancada, mas não tem apoio político para permanecer.

Os deputados e senadores o consideram um simples adereço, uma figura decorativa ou uma espécie de Rainha da Inglaterra. Ele não é avisado e nem participa das decisões importantes de governo. Soube pelo noticiário, por exemplo, as medidas do ajuste fiscal e depois ainda foi escalado para dar entrevistas.

Embora seja trabalhista histórico, ligadíssimo ao brizolismo, falta a ele, segundo essa fonte, disposição para a luta interna no governo. O PDT considera que, com dois anos no MTE, já deu a ele todas as oportunidades e agora o cargo de volta, mas para a bancada, que conta hoje com 20 deputados e seis senadores.

Reação

Os movimentos sociais ligados à economia solidária já se mobilizam para pressionar a presidente Dilma a não aceitar o que eles classificam de “chantagem política” do PDT e prometem, se for preciso, ir às ruas para defender a permanência de Paul Singer e sua equipe na Senaes.

O Fórum Brasileiro de Economia Solidária (FBES) reafirma em carta a população que a Senaes é uma conquista histórica do Movimento de Economia Solidária e avisa que lutará contra retrocessos: “Não aceitamos nem um passo de recuo que prejudique a construção de uma Política Transversal. Reiteramos a importância de ampliação dessa política articulada com a pauta de outros movimentos sociais, em espaço estratégico no governo”.

Para o FBES “é preciso defender uma economia que esteja na mão de todas as pessoas e não de uma minoria, uma economia que gere vida em qualidade para todos e não somente alguns, uma economia que garanta um meio ambiente saudável e alimentos livres de agrotóxicos e transgênicos para a população de nosso país”.

AUTOR
Foto Joel Santos Guimarães
Joel Santos Guimarães

Jornalista especializado em economia solidária, agricultura familiar, política e políticas públicas. Trabalhou na "Folha de Londrina" e "O Globo", onde esteve por mais de 20 anos exercendo diversas funções, entre elas a de chefe de redação da sucursal de São Paulo. Em 2003, fundou a Agência Meios e a Agência de Notícias Brasil-Árabe (ANBA), com Paula Quental. Foi coordenador do projeto por dez anos. Sob sua gestão, a agência conquistou 11 prêmios de jornalismo web e alcançou 1,2 milhão de acessos mensais.