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Como reduzir os riscos de contaminação por coronavírus durante o Enem

Raíssa Ebrahim / 13/01/2021

Cerca de 5,7 milhões de estudantes estão inscritos para as provas nos dias 17 e 24 de janeiro (crédito: Gabriel Jabur/Agência Brasília)

Mesmo em meio a pressões por um novo adiamento e à notícia da morte por complicações de Covid-19 do diretor responsável pela elaboração do exame, o ministro da Educação, Milton Ribeiro, afirmou, nesta terça-feira (12), que as datas do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) estão mantidas.

Cerca de 5,7 milhões de estudantes estão inscritos para as provas nos dias 17 e 24 de janeiro, apesar de uma votação, no ano passado, ter apontado que a maioria preferia novas datas em maio. A nova onda da pandemia, com nova variante do vírus e hospitais lotados, tornou-se uma ansiedade a mais para quem vai fazer o exame, além de um obstáculo ainda maior para quem é de baixa renda.

Doente desde dezembro, o diretor de Avaliação da Educação Básica do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), o general de reserva Carlos Roberto Pinto de Souza, morreu na segunda (11).

O jornal O Globo apurou que, além do pedido familiar de silêncio para que o assunto não fosse tratado pelo Inep, “o órgão teria optado por omitir a causa da morte por uma questão política para evitar desgastes a poucos dias do Enem”.

De acordo com Ribeiro, os pedidos pela postergação do exame são de uma “minoria barulhenta”. A declaração do ministro, junto com a garantia, segundo ele, de que as medidas de prevenção estão asseguradas, torna improvável, até o momento, uma nova postergação, mesmo com pressões de entidades científicas, estudantis – como União Nacional dos Estudantes (UNE) e União Brasileira dos Estudantes Secundaristas (UBES) -, das redes sociais e o pedido da Defensoria Pública da União (DPU) à Justiça Federal da 3ª região.

Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco), Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), Associação de Pós-Graduação e Pesquisa em Educação (Anped) e outras entidades escreveram uma carta com abaixo-assinado expressando preocupação com a realização do Enem. O Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass) também solicitou um novo adiamento.

A Marco Zero Conteúdo resolveu, então, assim como fizemos sobre as festas de fim de ano, falar de como reduzir os riscos de contaminação. Os estudantes diagnosticados com o vírus, com sintomas de Covid-19 ou de outras infecções contagiosas terão direito a segunda chamada nos dias 23 e 24 de fevereiro. Para isso, é preciso comunicar a situação ao Inep pela Página do Participante e ou pelo 0800 616161.

Especialistas têm avaliado como frágeis os protocolos do Inep e reclamado da falta de informação e da necessidade de uma campanha de comunicação mais eficaz sobre os riscos.

Como reduzir os riscos

Aqui reunimos as principais orientações do físico e engenheiro biomédico Vitor Mori, que atua no Observatório Covid-19 BR, uma iniciativa independente fruto da colaboração entre pesquisadores com a missão de disseminar informação de qualidade baseada em dados, e também indicações do próprio observatório.

Também trazemos orientações do Wearing is Caring (Vestir é Cuidar, em tradução livre), um grupo de cientistas da Universidade de Columbia que compartilham diretrizes de uso de máscara no combate à Covid-19 com base em evidências científicas.

Aproveitamos para ouvir Mori sobre como ele avalia a aplicação do Enem em meio ao aumento de casos e óbitos no Brasil neste momento:

"Eu não vejo como uma prova desse tamanho pode ser segura", diz Vitor Mori, físico e engenheiro biomédico

Levando em conta o contexto atual de alta de casos e os protocolos bastante falhos que foram propostos com pouca preocupação com ventilação do ambiente e qualidade do ar interna para evitar a transmissão do vírus, que ocorre majoritariamente pelo ar, eu não vejo como uma prova desse tamanho pode ser segura. Não há nenhum controle ou pelo menos comunicação sobre como as máscaras devem ser usadas, bem ajustadas ao rosto e sem vazamento.

Levando em conta os protocolos que estão em curso, mesmo adiando colocaríamos os estudantes em uma situação de risco enorme. Isso sem falar que não sabemos se a situação da pandemia vai estar melhor ou pior em alguns meses se adiarmos a prova. Uma alternativa seria fazer essas provas em locais bem amplos, abertos, até ao ar livre e não em pequenas salas, às vezes muito mal ventiladas e com poucas janelas.

Locais de prova

As provas ocorrerão em locais fechados, o que representa maior risco. Por isso é importante que as salas mantenham todas as portas e janelas bem abertas. O uso de ventiladores só é recomendado quando ele é posicionado perto das janelas, funcionando como exaustores.

O ideal é que, mesmo com o ar condicionado ligado, se mantenha alguma ventilação natural.

Manuseio da máscara

Antes de mais nada, é importante reforçar as vias de transmissão do SARS-CoV 2. Apesar do grande enfoque na transmissão por superfícies de objetos no começo da pandemia, essa via é muito menos prevalente do que a transmissão pelo ar.

Nas salas, que o Inep afirma que estarão com bancas distanciadas, a máscara é obrigatória e só poderá ser retirada na hora da identificação do participante, para beber e comer. É preciso o máximo de atenção para evitar tocar na parte frontal do Equipamento de Proteção Individual (EPI), higienizando sempre as mãos, antes e depois, com álcool próprio que o candidato pode levar ou fornecido por quem estiver aplicando a prova. O mesmo vale para ir ao banheiro.

A máscara PFF2/N95

Dê preferência à máscara PFF2, que pode ser reutilizada. Se tiver sobrando, forneça a um colega. No começo da pandemia, as máscaras de pano foram uma alternativa já que as PFF2 e cirúrgicas estavam em escassez (mais na frente falamos sobre as de tecido para quem não pode ou não conseguiu comprar). Agora está mais fácil encontrá-las. Fizemos uma pequena pesquisa no Recife e vimos que custam, em média, até R$ 8.

Use a máscara corretamente, ela tem que ficar bem vedada. Se tiver dúvidas, procure tutoriais no Youtube.

A função da máscara é vedar bem a entrada de ar e fazer com que o ar que entra passe pela manta filtrante. Se a vedação está boa e a manta está íntegra, dá pra reusar. Se o elástico estragar, dá para trocar e aumentar a vida útil da máscara.

Passe alguns momentos em algum dia antes da prova usando a PFF2 para acostumar. Ela pode ser incômoda nas primeiras vezes, mas acostuma fácil.

Tenha pelo menos uma máscara reserva para o dia da prova caso aconteça um imprevisto e você precise trocar.

Veja mais dicas sobre a PFF2 ao final da lista.

Não posso comprar ou não consegui a PFF2/N95

Composição ideal de tecidos para máscaras caseiras, segundo a OMS (crédito: TelessaúdeRS-UFRGS adaptado de OMS)

Caso não seja possível obter uma PFF2, foque na qualidade da máscara de pano. Ela pode reduzir a carga viral na exposição e potencialmente levar a um caso mais leve da Covid-19 se exposto.

A máscara de pano funciona principalmente como controle da fonte, ou seja, reduz a emissão de partículas potencialmente contaminadas por parte de quem a está usando. Ela também protege, em certo grau, quem está usando, mas isso depende de uma série de fatores. O mais importante deles é a capacidade de vedação da máscara, ou seja, de não inalarmos uma grande quantidade de ar que entra pelos vãos nas laterais ou por cima.

Máscaras faciais são uma das ferramentas mais importantes no combate à pandemia e uma enorme variedade de estilos e modelos de máscaras de pano estão disponíveis no mercado. Como avaliar a qualidade de uma máscara?

Antes de mais nada, o ponto mais importante é o ajuste da máscara ao rosto. A máscara deve estar bem presa no rosto, minimizando a quantidade de vazamentos, especialmente pelos lados e por cima.

Ela também deve ser confortável de forma que não seja necessário ficar mexendo nela constantemente. Além disso, o ideal é que ela não se mova nem saia do rosto quando falamos.

Apesar de mais fáceis de colocar e tirar, máscaras que prendem na orelha se tornam bastante desconfortáveis quando aplicamos uma tensão maior para deixá-las mais ajustadas, o que pode tornar seu uso desconfortável.

Uma sugestão são máscaras que prendem na cabeça em vez das orelhas. Outra sugestão são máscaras que têm um arame na região do nariz, o que permite um melhor ajuste.

Cada pessoa tem um rosto diferente, então não existe uma máscara que funcione para todos. O ideal é que, após a aquisição da máscara, teste-se o ajuste dela ao rosto e verifique-se se não há vazamentos. Também é recomendável que se aplique esparadrapos para cobrir possíveis vãos.

Com relação a qualidade da máscara, é importante que ela tenha ao menos duas camadas, mas idealmente três ou mais. Podemos seguir três regras práticas para verificar a qualidade do meio filtrante.

A primeira é olhar a máscara contra a luz. Se for possível observar a passagem da luz por entre a malha, é sinal de que a qualidade da máscara não é adequada.

A segunda é tentar apagar uma vela ou um fósforo usando a máscara como barreira. Se você conseguir apagar com grande facilidade, é sinal de que a máscara pode não oferece proteção adequada.

Por último, você pode borrifar um spray de água através da máscara e verificar a quantidade de gotículas que passam pela máscara. Se ela conseguir reter a maioria, é sinal de que ela é de boa qualidade.

Vale ressaltar que o bom ajuste da máscara ao rosto é o ponto mais importante. Mesmo uma máscara de altíssima qualidade perde muito de sua eficiência se não estiver corretamente ajustada ao rosto.

É preciso sempre prestar atenção para ter certeza que a máscara não está úmida. Máscaras de pano precisam ser trocadas sempre que estiverem úmidas. Já a lavagem pode ser feita de forma tradicional só com água e sabão.

A melhor forma de beber água

Uma garrafa com canudinho ajuda a tomar água só levantando a máscara por baixo. Dá para tirá-la rapidamente só para tomar água.

Evite comer

Tente ir bem alimentado, é melhor evitar comer ou sair da sala para isso.

Depois que tirar a máscara para beber ou comer, ajuste-a bem novamente, mantenha-a bem vedada ao rosto.

Transporte público

Já vá com a PFF2, se você tiver.

Nem sempre é possível, mas, se o ônibus, estiver mais livres, busque sentar ou ficar perto da janela e mantenha a janela aberta, garantindo que ar fresco exterior esteja constantemente entrando no ônibus.

Também evite ficar próximo de pessoas sem máscara e que estejam falando alto dentro do transporte público.

Contaminação pelos olhos

É possível se contaminar pelos olhos, mas a principal pergunta que temos que fazer é o quão provável isso é. Apesar de ainda termos poucas evidências, elas indicam que essa não é uma rota tão prevalente

Isso faz bastante sentido físico. Inspiramos ar pelo nariz e pela boca, ou seja, estamos ativamente movendo o ar para dentro do corpo e trazendo partículas potencialmente contaminadas.

Levando em consideração que a principal via de transmissão é por aerossóis, a contaminação pelo olho aconteceria apenas com a deposição de aerossóis nos olhos, que é bem menor do que a quantidade que inspiramos quando estamos sem máscara.

Para pessoas que trabalham em ambiente hospitalar, na linha de frente, com alta exposição a esses aerossóis, é válido usar óculos de proteção. Para uso cotidiano, talvez seja um pouco de exagero.

Pensando na contaminação pela deposição de aerossóis nos olhos, óculos normal e face shield já ajudariam, mas ainda não parece ser algo tão crítico assim.

De qualquer forma, mal não faz, então, se quiser usar óculos de proteção ou face shield, sem problema desde que você também esteja usando uma máscara.

Dicas sobre a PFF2

Não pode passar álcool nesse tipo de máscara, ele interfere na capacidade de filtração. Também não é indicado lavar com água e sabão. Se molhar, é só colocar para secar que dá para reusar quando seca.

Para uso fora do ambiente hospitalar, o melhor é deixá-la descansando três dias e reusar. Deixe em local seguro. Saco de papel também é uma boa. Por quanto tempo da pra usar a mesma máscara?

Quantas vezes posso reutilizar? Depende. Dá para usar tranquilo por um turno de trabalho (cerca de 8h), mas alguns pontos devem ser observados. O principal é troque se estiver úmida. Então talvez num dia quente que você transpire muito, melhor usar duas. Num uso mais de boa, dá para ficar mais tempo.

Após o uso, como higienizar? Diferente da máscara de pano, a PFF2 não pode ser lavada. Também não pode passar álcool.

Há alguns métodos possíveis de higienização, mas para uso cotidiano, o melhor é só deixar pendurada por um tempo, em local seguro e arejado, sem incidência direta de sol. O vírus, se presente na máscara, é desativado com o passar do tempo.

E por quanto tempo deixo pendurada? Depende muito. Quanto maior a carga viral na máscara, maior o tempo que ela tem que descansar. Então se você só saiu para ir ao mercado e voltou rapidinho, dá para usar no dia seguinte.

Se você ficou em contato próximo e prolongado com alguém com Covid-19 confirmada, pelo menos de 5 a 7 dias. Mas em geral, para uso cotidiano (transporte público e trabalho), três dias parece de bom tamanho. Mas aí vai de você. Por exemplo, o CDC americano recomenda cinco dias. Quanto mais tempo ela descansar menor o risco de ter coronavírus viáveis na máscara.

Quantas vezes dá para reutilizar? Depende muito. Alguns lugares falam em validade de 30 dias após o primeiro uso, mas não tem muito consenso.

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AUTOR
Foto Raíssa Ebrahim
Raíssa Ebrahim

Vencedora do Prêmio Cristina Tavares com a cobertura do vazamento do petróleo, é jornalista profissional há 12 anos, com foco nos temas de economia, direitos humanos e questões socioambientais. Formada pela UFPE, foi trainee no Estadão, repórter no Jornal do Commercio e editora do PorAqui (startup de jornalismo hiperlocal do Porto Digital). Também foi fellowship da Thomson Reuters Foundation e bolsista do Instituto ClimaInfo. Já colaborou com Agência Pública, Le Monde Diplomatique Brasil, Gênero e Número e Trovão Mídia (podcast). Vamos conversar? raissa.ebrahim@gmail.com