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Crime ambiental provoca morte de animais e suspende consumo de pescados em Goiana

A suspeita é de despejo irregular de resíduos industriais (vinhoto) no rio Goiana por usinas de açúcar.

Raíssa Ebrahim / 26/04/2024
A imagem consiste em duas fotos distintas: Na foto superior, há um peixe com escamas coloridas flutuando na água. A água reflete a luz do sol e parece escura. O peixe tem tons de rosa e azul em suas escamas. Na foto inferior, um camarão morto está parcialmente enterrado em uma superfície de lama marrom enrugada. Há também uma folha verde próxima ao camarão.

Crédito: Pastoral da Pesca

Pescadores e pescadoras artesanais da Reserva Extrativista (Resex) Acaú-Goiana, na divisa entre Pernambuco e Paraíba, estão impedidos de pescar por causa de um crime ambiental. O consumo de peixes e crustáceos foi suspenso pela prefeitura de Goiana até que se saiba a causa do problema. No último domingo (21), após fortes chuvas, diversos animais apareceram mortos por contaminação e o ar foi tomado por um mau cheiro bastante forte. A suspeita, segundo o Conselho Pastoral dos Pescadores (CPP), é de despejo irregular de resíduos industriais ao longo do rio Goiana por usinas de açúcar e álcool etanol. Ao todo, 1,3 mil famílias de seis comunidades são beneficiárias diretas da Resex.

O secretário executivo da pastoral, Severino dos Santos, denuncia que o problema é recorrente entre os meses de abril e maio na bacia dos rios Capibaribe-Mirim e Tracunhaém, que deságuam no rio Goiana. Nessa época, as usinas aproveitam o período chuvoso para descartar rejeitos da produção, conhecidos como “vinhaça” ou “vinhoto”. “Todos os anos nesse período acontece esse crime ambiental”, afirma, ressaltando a persistência do problema, muito embora as agroindústrias da região possuam sistemas de tratamento e aproveitamento desses rejeitos.

O período coincide com o da desova do camarão de água doce, um produto de maior valor e pescado pelas mulheres, que dependem do animal para a subsistência. “Com a morte desses crustáceos, não haverá produção”, alerta Severino. É forte o indício de poluente industrial por causa do cheiro e do comportamento do meio ambiente, reforça Lula Wagner, fiscal da Resex Acaú-Goiana. Ele calcula que, por conta da rápida dispersão, o problema se espalhou por mais de 30 quilômetros.

“Não estamos mais suportando o odor, o cheiro está muito forte. Os pescadores não estão mais querendo ir para a maré com medo, nem consumir os alimentos também”, reforça o pescador Teixeira, presidente da Associação dos Catadores de Caranguejo de Caaporã (Acac). Ele detalhe que o problema está afetando comunidades ribeirinhas e alcançando também áreas costeiras.

A Agência Estadual de Meio Ambiente (CPRH) informou, através de nota enviada à Marco Zero, que uma equipe do laboratório da agência esteve no local na última terça-feira (23) e realizou coleta de material para análise após solicitação da gestão da Área de Proteção Ambiental (APA) de Santa Cruz. Os resultados estão previstos para sair até o dia 8 de maio. Segundo os pescadores, equipes do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), responsável pela gestão da Resex Acaú-Goiana, também estiveram no local.

A Prefeitura de Goiana suspendeu o consumo e a comercialização de peixes e crustáceos capturados vivos ou mortos, além de contato com a água, até que as causas do problema sejam definidas.

Nota completa da Secretaria Municipal de Agricultura, Pesca e Meio Ambiente

Recebemos uma denúncia, ontem 22/04/24, referente ao aparecimento de grande número de peixes mortos no trecho do Rio Goiana. Nossa equipe técnica foi imediatamente ao local e fez uma navegação até as três bocas, avaliando toda a situação, foram coletados alguns exemplares de animais mortos para análise, bem como amostras da água. Acionamos a CPRH já que outros municípios também foram afetados. Até que seja identificada a causa da morte dos animais, solicitamos que não consumam nem comercializem os capturados vivos ou mortos, bem como evitem contato com a água deste corpo hídrico. Estamos tomando todas as providências no tocante às questões sociais e ambientais.

AUTOR
Foto Raíssa Ebrahim
Raíssa Ebrahim

Vencedora do Prêmio Cristina Tavares com a cobertura do vazamento do petróleo, é jornalista profissional há 12 anos, com foco nos temas de economia, direitos humanos e questões socioambientais. Formada pela UFPE, foi trainee no Estadão, repórter no Jornal do Commercio e editora do PorAqui (startup de jornalismo hiperlocal do Porto Digital). Também foi fellowship da Thomson Reuters Foundation e bolsista do Instituto ClimaInfo. Já colaborou com Agência Pública, Le Monde Diplomatique Brasil, Gênero e Número e Trovão Mídia (podcast). Vamos conversar? raissa.ebrahim@gmail.com