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Cúpula do Exército tem responsabilidade nos ataques de 8 de janeiro, diz coronel da reserva

Inácio França / 12/01/2023
No alto de um palaque, dezenas de homens fardados perfilados, tendo ao centro Jair Bolsonaro. Abaixo do palanque, estão jovens, rapazes e moças, usando uniformes de gala com calças vermelhas e blusões brancos.

Crédito: Antônio Cruz/Agência Brasil

No rescaldo das violentas invasões e ataques de 8 de janeiro, o foco das investigações que buscam encontrar os conspiradores e financiadores da tentativa de tomar o poder por meio da força se concentra no governo do Distrito Federal, nas pessoas do entorno do ex-presidente Jair Bolsonaro e nas centenas de pessoas presas no acampamento bolsonarista em Brasília. No entanto, o coronel do Exército na reserva Marcelo Pimentel Jorge de Souza alerta para o outro alvo que estaria no centro da complô: o Alto Comando do Exército brasileiro.

Pouco antes de Bolsonaro vencer a eleição presidencial de 2018, Pimentel começou a se tornar um personagem notório nas redes sociais por ser, provavelmente, o único oficial das Forças Armadas a posicionar-se publicamente contra a politização do Exército, Aeronáutica e Marinha. Foi ele quem criou a expressão “partido militar” para definir a atuação coesa e articulada de generais e coronéis para voltar ao poder e ocupar espaços na vida política do país.

Em seu perfil no Twitter, ele afirma taxativamente que os generais que compõem a maior instância de comando do Exército estimulou e está diretamente relacionada às ações que tiveram como desfecho as depredações nas sedes dos três poderes. Em um longo fio com 24 tuítes, Pimentel diz que “foi a ação protagonista de cúpulas hierárquicas das Forças Armadas, do Exército Brasileiro em particular, em diversos papéis, que fez civis se mobilizarem nos quartéis para pedir que os quartéis rompam a Constituição – de uma forma que nem eles sabem – em nome da ‘liberdade’.”

Para o oficial da reserva, o papel dos generais no esforço para ignorar os resultados das urnas ficou claro no dia 11 de novembro, quando o Alto Comando publicou a nota intitulada “Ao povo e às instituições”. A nota legitimou aquilo que, até então, parecia ser apenas manifestações de inconformados com a vitória de Lula, porém ele aponta que as “manifestações eram estranhamente sincronizadas (planejadas por quem?), já (…) ocupando áreas militares defronte a quartéis”. Logo depois da nota, “houve um incremento enorme nas aglomerações, que adquiriram caráter ‘permanente’.”

Como desdobramento da nota, generais da ativa fizeram discursos “para suas tropas fazendo juízo de valor sobre a validade das manifestações políticas e declarando, literalmente, que ‘protegeria’ os manifestantes ‘ainda que houvesse ‘ordem de outros poderes’ em sentido contrário”.

Generais ao megafone

Por telefone, Marcelo Pimentel, que é pernambucano e voltou a morar no Recife após deixar o serviço ativo, não só confirmou o teor das postagens, como acrescentou outros comentários: “os coronéis, generais da reserva e capitães da Marinha só apareceram para o público em geral nos vídeos gravados no domingo, mas esses militares estiveram todo esse tempo nos acampamentos na frente dos quartéis”.

Tal comportamento seria, na ótica militar detalhada pelo oficial, “muito grave, pois até outro dia eles estavam do lado de dentro do quartel, comandando, então ainda exercem influência sobre seus antigos subordinados”.

Militares na reserva e seus parentes lotaram acampamento em frente ao QG em Brasília. Crédito: Valter Campanato/Agência Brasil

Seu perfil no Twitter, também aborda esse aspecto, descrevendo cenas em que “generais na reserva tuitaram e foram pra calçada de quartel, de megafone em punho, incentivar as manifestações”. Um deles [sem citar o nome, ele se refere ao general Eduardo Villas Bôas, que era comandante do Exército quando postou tuítes pressionando o STF a não libertar Lula, em abril de 2018], citou a própria nota de 11 de novembro, se referindo a ela como aval para as manifestações.

A partir de então, parentes de militares passaram a gravar vídeos para WhatsApp e Instagram direto de locais nevrálgicos do setor militar em Brasília: “frente do QG e das sedes do BGP (Batalhão da Guarda Presidencial) e do BPEB (Batalhão de Polícia do Exército de Brasília), responsáveis, respectivamente, pela segurança do Palácio do Planalto (…) ao lado das residências oficiais dos generais de Exército (os do Alto Comando q residem em Brasília) e do Centro de Inteligência do Exército (CIEx), que assessora diretamente o Comandante como órgão central do sistema de inteligência do Exército”.

Bolsominions ou legalistas?

Entre os vídeos gravados pelos militares durante as ações golpistas de 8 de janeiro, um deles viralizou. Na filmagem, o coronel Adriano Camargo Testoni chama diversas vezes de filho da puta e manda tomar no cu seus colegas de turma que chegaram ao generalato e ao Alto Comando. E cita alguns nomes: Ridauto, Pontual e Pinto Sampaio são alguns deles.

Então, seriam esses homens livres da influência de Bolsonaro ou do general Augusto Heleno? “Nada disso, pelo contrário. General Ridauto [Ridauto Lúcio Fernandes] foi o braço-direito de Pazuello no Ministério da Saúde durante a pandemia, citado na CPI da covid e tudo mais. Os outros também não. Eu os conheço bem”. Pontual e Pinto Sampaio são os generais-de-visão Carlos Duarte Pontual, secretário-geral do Exército, e Adriano Pinto Sampaio.

Então, surge a pergunta óbvia? Há algum general que não seja bolsonarista no Exército brasileiro? “Se você conhecer algum, por favor me apresente”, brinca Pimentel, que explica conhecer todos, tanto de churrascos e festas de aniversário, quanto na vida na caserna ou em grupos de WhatsApp. “Eles são mais do que bolsonaristas, são bolsominions mesmo, porém todos muito competentes no que fazem, excelentes líderes e, por incrível que pareça, legalistas”. Como assim? “Sim, não são pessoas interessadas em dar golpes de Estado, mas em atuar politicamente. É o partido militar”.

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AUTOR
Foto Inácio França
Inácio França

Jornalista e escritor. É o diretor de Conteúdo da MZ.