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Dani ou Túlio? Federação PSOL-Rede vive disputa interna com foco na eleição de 2024 no Recife

Marco Zero Conteúdo / 26/05/2023
Mão de pessoa branca, aparentemente de mulher, levanta crachá branca com círculo vermelho com desenho de um sol amarelo e as palavras unidade socialista em cor branca.

Crédito: Flickr/PSOL

por Jorge Cavalcanti*

A deputada estadual Dani Portela (PSOL) ou o deputado federal Túlio Gadelha (Rede), qual das duas figuras públicas emprestará nome, rosto e número à candidatura da Federação PSOL-Rede Sustentabilidade à prefeitura do Recife em 2024? A resposta a esta pergunta passa por um evento que vai acontecer daqui a cinco meses, mas cujos preparativos está sendo disputado com intensidade nos bastidores pelos agrupamentos internos de uma das legendas: o 8º congresso do Partido Socialismo e Liberdade, cuja realização já está na fase preliminar.

Diferentemente de uma coligação partidária, que tem efeitos apenas no período eleitoral, a federação acontece entre siglas com alguma afinidade programática e é mais duradoura, mantendo-as unidas por quatro anos, no mínimo. Na Federação PSOL-Rede, que completou o primeiro ano de existência neste mês de maio, o partido cujo símbolo é um sol tem maioria em Pernambuco. Portanto, o grupo que ganhar a disputa do congresso estadual psolista, marcado para outubro próximo, terá também prevalência na decisão sobre candidatura majoritária própria – hoje consenso nas duas legendas – e de quem será o nome da federação.

No PSOL, há duas forças conhecidas como Revolução Solidária e Primavera Socialista. Elas atuam juntas nacionalmente, formando um bloco chamado PSOL Popular, liderado por Guilherme Boulos, deputado federal por São Paulo, e Juliano Medeiros, presidente nacional da sigla. Em Pernambuco, porém, elas medem forças e vão disputar internamente para saber qual grupo foi capaz de filiar mais pessoas ao partido.

Cada filiado(a) tem direito a um voto no congresso estadual, desde que esteja presente fisicamente à plenária da sua região. É o total de votos de cada grupo que define quem terá a maioria na executiva estadual, instância decisória. Movimento Esquerda Socialista (MES), LSR (Liberdade, Socialismo e Revolução) e Semente, do vereador do Recife Ivan Moraes, são outras tendências do PSOL que se organizam e apresentam tese no Congresso estadual da legenda.

PSOL à esquerda, PT com PSB

O presidente estadual da sigla, Tiago Paraíba, avalia que o Partido dos Trabalhadores apoiará a candidatura à reeleição do prefeito João Campos (PSB), o que abre espaço para um nome do PSOL no campo das esquerdas. Um cenário parecido com o de 2018, quando o PT apoiou a reeleição do governador Paulo Câmara (à época no PSB) e Dani Portela estreou nas urnas com quase 200 mil votos no Estado e cerca de 10% dos válidos no Recife. Dois anos depois, Dani foi eleita vereadora do Recife como a mais votada da cidade. Ela é hoje a maior figura pública da Revolução Solidária em Pernambuco, deputada estadual e líder da bancada de oposição ao governo Raquel Lyra (PSDB).

“Não vivemos o fantasma do bolsonarismo no Recife a ponto de justificar um apoio ao PSB logo no primeiro turno. Apresentaremos uma candidatura própria com condições de fazer o debate das necessidades da população da cidade e mostrar o PSOL como uma opção de esquerda”, comenta o dirigente partidário, também integrante da Revolução Solidária. Ele foi indicado presidente em setembro de 2021 por transitar bem entre as segmentações da tendência.

Na eleição municipal de 2020, o PSOL se coligou com o PT, indicando o nome do advogado João Arnaldo para a vice na chapa com Marília Arraes. Foi a primeira vez que a legenda não teve candidatura própria na capital. Dois anos depois, o PSOL lançou o mesmo João Arnaldo como candidato a governador. O resultado foi aquém do esperado, com o psolista em sétimo entre dez candidaturas, atrás de Jones Manoel (PCB), que, por conta da legislação eleitoral, concorreu sem estrutura de campanha, de fora dos debates de TV e da mídia convencional.

Frustração eleitoral abala relações

O péssimo resultado do PSOL nas urnas em 2022 em Pernambuco, com o partido sem conseguir ampliar a presença na Assembleia Legislativa, gerou fissuras, distanciamento e um certo clima de desconfiança entre lideranças e dirigentes dos dois partidos federados. O clima piorou depois que Túlio gravou um vídeo ao lado da então candidata a governadora Raquel Lyra (PSDB) para anunciar quem apoiaria no segundo turno, enquanto a federação partidária decidiu pela indicação do voto em Marília Arraes (Solidariedade).

Crédito: Instagram Túlio Gadelha

Em reserva, setores do partido especulam uma aproximação de João Arnaldo, principal referência da tendência Primavera Socialista, com Túlio Gadelha, que controla a Rede no estado e teria todo interesse em fortalecer Arnaldo na mobilização para a disputa do congresso do PSOL. Há o receio de que um apoio direto de Túlio à Primavera Socialista de bastidores possa ajudá-lo a conseguir a maioria e, portanto, o controle do partido.

João Arnaldo destaca a “maturidade política” da sua corrente, que defendeu o apoio já no primeiro turno à candidatura de Lula a presidente. E acrescenta outros nomes do PSOL à lista de possíveis candidaturas à prefeitura do Recife. “Temos muito bons nomes. Túlio aparece bem nas pesquisas, Dani faz um importante trabalho na Assembleia, mas temos também Ivan Moraes e Robyonce Lima”, cita ele.

Rob, como Robeyonce também é chamada, teve uma votação histórica para deputada federal em 2022, com 80.732 sufrágios, mas não foi eleita por conta da legislação eleitoral vigente, mesmo com votação maior do que seis deputados eleitos (Coronel Meira, Felipe Carreras, Mendonça Filho, Luciano Bivar e Fernando Rodolfo). Túlio Gadelha, com 134.391 votos, ficou com a vaga na Câmara conquistada pela Federação PSOL-Rede no Estado.

Hora das mulheres

Desde que entrou na vida pública, em 2018, Dani tem desenvolvido atuação política ascendente e trajetória vitoriosa. Para 2024, ela põe o nome à disposição para a candidatura majoritária. “Politicamente, Túlio se inviabilizou como candidato a prefeito do Recife pela Federação PSOL-Rede quando descumpriu a orientação dessa mesma federação na eleição para o governo.”

Dani ressalta a conjuntura do momento e lembra que, no ano passado, pela primeira vez na história, Pernambuco elegeu uma mulher para o Senado e uma chapa de mulheres para o governo. “É importante que a gente entenda os ventos que estão soprando e apresente uma candidatura qualificada, que não seja mais do mesmo”, avalia ela.

A reportagem procurou o deputado Túlio Gadelha por meio da assessoria de imprensa e telefone funcional do parlamentar, mas não obteve retorno.

Resultados eleitorais das mulheres do PSOL pesa a favor de Dani Portela. Crédito: Instagram PSOL-PE

*Jornalista com 19 anos de atuação profissional e especial interesse na política e em narrativas de garantia, defesa e promoção de Direitos Humanos e Segurança Cidadã.

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