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Em clima de incerteza, jornalistas do Diario de Pernambuco suspendem greve

Helena Dias / 24/01/2019

Após reunião com o sindicato, os jornalistas do Diario de Pernambuco decidiram suspender a greve que aconteceria nesta sexta-feira (25). O motivo da suspensão não foi um acordo entre a categoria e a empresa, mas sim as incertezas que se fizeram ainda mais presentes depois dos proprietários do Diario, os irmãos Alexandre e Maurício Rands, apresentarem duas “opções” para os trabalhadores: fechar o jornal ou tentar mante-lô por meio de uma cooperativa dos jornalistas.

A proposta patronal foi apresentada ainda na segunda-feira à noite, logo após o anúncio da paralisação dos profissionais. Além disso, parte dos salários atrasados foi paga com recursos repassados pelo Governo do Estado ao jornal, seguindo uma determinação do Ministério Público do Trabalho (MPT-PE) de que 70% dos recursos públicos recebidos pelo Diario teriam que ser destinados ao pagamento de pessoal. As parcelas do décimo terceiro continuam pendentes. INSS e FGTS seguem da mesma forma. A Prefeitura do Recife, segundo informações obtidas pelo sindicato, deverá fazer um repasse de R$ 300 mil até esta sexta-feira, o que garantiria apenas outra parte dos vencimentos atrasados dos funcionários e prestadores de serviço.

Sem nem o básico garantido, o sentimento na redação do Diario é de que as opções dadas são tentativas dos donos da empresa de se livrar da responsabilidade com as dívidas trabalhistas. As propostas foram encaradas pelos jornalistas como algo que não solucionaria a questão da garantia dos direitos trabalhistas, já que, caso a cooperativa fosse formada seguindo o modelo proposto pelos Rands, os trabalhadores poderiam passar a ser os responsáveis não só pelos jornais e o patrimônio da empresa, mas também pelas dívidas do Diario de Pernambuco. Também a opção de fechar o jornal e “ir à Justiça buscar os direitos”, como propuseram os donos da empresa, não é uma alternativa viável, segundo o sindicato.

De acordo com o diretor do Sindicato dos Jornalistas Profissionais de Pernambuco (Sinjope), Osnaldo Moraes, caso os jornalistas optassem por uma cooperativa, jamais escolheriam o modelo proposto pelos proprietários do jornal. “A possibilidade de estabelecer uma cooperativa não depende da decisão dos atuais proprietários. Colocamos claramente que a categoria junto à sociedade poderá discutir várias alternativas, entre elas a possibilidade da cooperativa, mas jamais estaremos discutindo o fato dos trabalhadores incorporarem para si as dívidas que os gestores criaram. A responsabilidade é deles.”, esclareceu.

Os jornalistas do Diario, que se veem encurralados entre as duas opções dadas pelos Rands, ainda dizem ter um fio de esperança de que apareçam compradores do ramo de comunicação que salvem o jornal. Na última quarta-feira, o sindicato realizou uma reunião que contou com a presença de alguns editores do Diario e representantes do Porto Digital  para discutir possíveis soluções. Grupos de trabalho foram formados com a missão de pensar saídas para os trabalhadores e para a marca, mas nada está delimitado ainda.

O sindicato deve se reunir com o MPT-PE na próxima semana para tratar das dívidas trabalhistas que já se arrastam há cerca de um ano. Um documento solicitando um cronograma de pagamento do 13º salário, posicionamentos sobre os pagamentos dos próximos salários, plano de demissão voluntária e um calendário de pagamento de férias pendentes foi entregue à direção do jornal.

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Helena Dias

Jornalista atenta e forte. Repórter que gosta muito de gente e de ouvir histórias. Formou-se pela Unicap em 2016, estagiou nas editorias de política do jornal impresso Folha de Pernambuco e no portal Pernambuco.com do Diario. Atua como freelancer e faz parte da reportagem da Marco Zero há quase dois anos. Contato: helenadiaas@gmail.com