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Falta de público leva Bolsonaro a abrir campanha do PL em sinagoga

Inácio França / 07/08/2024
Foto de Jair Bolsonaro com semblante tenso e mão direita na cabeça. Ele está acima de uma multidão da qual só se vê mãos desfocadas e telefones celulares colocados acima das cabeças para fotografá-lo. Ao fundo, se vê as fachadas de prédios e antigos e algumas folhas de palmeiras desfocadas.

Crédito: Arnaldo Sete/Marco Zero

A falta que faz um cartão corporativo da Presidência. Esse poderia ser o resumo da primeira aparição pública do ex-presidente Jair Bolsonaro como cabo eleitoral dos candidatos do PL em Pernambuco. Sem a capacidade de mobilização que a máquina pública propicia, o evento que deveria acontecer no espaço amplo da praça da Independência – antiga pracinha do Diário – como informado pelo partido na véspera, acabou sendo transferido, de última hora, para a estreita rua do Bom Jesus, mais adequada para fazer algumas centenas de fanáticos parecerem uma multidão.

Depois de passarem pela praça, após sair do restaurante Leite, onde almoçaram, Bolsonaro e seus seguidores foram direto para o Recife Antigo.

Na Bom Jesus, a primeira atividade da campanha de Gilson Machado a prefeito do Recife começou em um lugar inusitado: a sinagoga Kahal Zur Israel, famosa por ser o mais antigo templo da religião judaica nas Américas. De acordo com dados do Censo 2022, em todo o estado de Pernambuco vivem 2.477 judeus, contingente insuficiente até para eleger um vereador do Recife. Apesar do improviso, a escolha teve valor simbólico para a direita evangélica, que mantêm Israel como um lugar mítico em seu imaginário.

Quando Bolsonaro chegou ao Recife Antigo, o lugar estava fechado para a visitação, mas os políticos do PL conseguiram que ele fosse recebido. Depois de 20 minutos lá dentro, o ex-presidente e |o candidarto apareceram numa janela do 1º andar usando um quipá, a touca tradicional dos judeus. Das janelas dos prédios vizinhos, ocupados em sua maioria por empresas de tecnologia, rapazes e moças faziam o “L” e enviavam dedadas para o séquito da extrema-direita, que revidava com gestos simulando revólveres, fuzis ou metralhadoras.

Apesar das atividades de rua só estarem liberadas a partir do dia 16 de agosto, da sinagoga ele seguiu para Olinda, onde participou de evento ao lado da candidata bolsonarista na cidade, Isabel Urquiza.

Carne barata e mau cheiro

Trinta e sete motoqueiros – sim, este repórter contou um a um – passaram pela praça do Arssenal escoltando a comitiva.

No final da fileira de veículos 4×4 dos parlamentares e candidatos que acompanhavam a SUV que levava Bolsonaro, as poderosas caixas de som em um carro ecoavam um jingle de campanha cuja letra pedia a volta de Bolsonaro, que “tá tudo complicado” e “caro demais”. Na esquina da Bom Jesus com a praça, um sorveteiro reagiu na hora: “Ôxi, ontem mesmo eu comprei carne para fazer bife a 22 reais o quilo”.

No lado oposto da praça do Arsenal, o comerciante Carlos Moura, proprietário de um bar e um restaurante no local, debochava do público que Bolsonaro atraiu para o bairro: “Sabe o que isso me lembrou? De um navio que ficou ancorado muitos dias bem aí na frente,cheio de búfalos importados. Foi um fedor danado, juntou mosca no bairro todo por causa do estrume e da carniça dos animais que morreram”.

AUTOR
Foto Inácio França
Inácio França

Jornalista e escritor. É o diretor de Conteúdo da MZ.