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Lideranças negras e indígenas debatem equidade racial na gestão pública em evento no Recife

Giovanna Carneiro / 30/10/2023
auditório lotado, em sua maioria com pessoas negras, acompanham palaestras de mulher negra, com chapéu cobrindo a cabeça e parcialmente o rosto - a fotografia foi feita de lado - vestindo blusa de cor creme

Crédito: Mateus Lima/Divulgação

Para desenvolver estratégias para promover a equidade racial no setor público, o Instituto Gesto e o Vetor Brasil realizaram um encontro no Cais do Sertão, no último sábado, 28 de outubro. A atividade reuniu mais de 100 lideranças negras e indígenas que participaram de um dia de debates sobre o tema “Gestão Pública e Equidade Racial”.

O encontro contou com as participações da secretária de Gestão do Sistema Nacional de Promoção da Igualdade Racial do Governo Federal, Ieda Leal, da secretária de Direitos Humanos e Justiça de Pernambuco, Lucinha Mota, e da advogada e vice-presidente da comissão da verdade sobre a escravidão da Ordem dos Advogados de Pernambuco (OAB-PE), Robeyoncé Lima.

“A gente vive hoje uma realidade brasileira em que temos a raça como um marcador social de opressão. Então, a primeira pergunta a ser feita é: a gestão pública tem interesse em combater o racismo? Primeiro a branquitude tem que entender a problemática do racismo, internalizar isso, para se dispor a utilizar a gestão para eliminá-lo”, enfatizou Robeyoncé.

“Como a gestão pública pode reduzir essas desigualdades? A gente não tem encontrado outro caminho que não seja trabalhar as ações afirmativas. A incidência das ações afirmativas na gestão pública é uma tentativa de transformar a sociedade na perspectiva de reparação tendo como base a raça, e elas seriam apenas um pontapé inicial para essa reparação urgente, porque são trinta e cinto anos de constituição que não reparam 350 de escravidão”, concluiu a primeira advogada trans negra de Pernambuco.

Robeyoncé Lima participou de mesa de debate sobre antirracismo na gestão pública. Crédito: Mateus Lima

O evento marcou o encerramento da segunda turma de lideranças a participar do programa Ubuntu, responsável por apoia o desenvolvimento de profissionais públicos negros e indígenas que trabalham com gestão de equipes e buscam desenvolver ações antirracistas em seus negócios. Para isso, a iniciativa realiza uma seleção com base na teoria da burocracia representativa e aplica metodologias de aprendizagem focada na experiência prática dos profissionais.

Ao final da formação, os participantes do Ubuntu elaboram programas de intervenções com foco na equidade racial no setor público. Durante o encontro de sábado, os profissionais apresentaram os projetos desenvolvidos, que foram divididos nos eixos de Educação, Lazer e Cultura, Saúde, Trabalho e Renda, e Gestão de pessoas. As propostas estão reunidas em um e-book disponível para consulta.   

“Participar desse programa foi uma grande honra e oportunidade de mergulhar na filosofia do Ubuntu para pensar nas possibilidades de ações na prática. Nessa perspectiva, eu propus um programa antirracista para o Mamam, que irá fazer parte do plano museológico, e minha proposta é levar esse projeto para outras instituições de Pernambuco e do Brasil”, declarou Rebeka Monita, vice-diretora do Museu de Arte Moderna Aloisio Magalhães (Mamam) e uma das participantes da iniciativa.

Durante a sua fala no evento, Ieda leal expôs os desafios que enfrentou em sua vida profissional marcada pelo racismo e reiterou a importância de projetos que viabilizem a integração de pessoas negras e indígenas no setor público. “Estou num lugar que não é um lugar solitário. A responsabilidade de tocar o barco não pode ser só de uma pessoa, precisamos ter pessoas que fazem a diferença, nós estamos na máquina dos governos porque eles precisam que nós estejamos nesses lugares. A cor do poder precisa necessariamente passar por pessoas e que elas ocupem esses espaços”, disse a secretária.

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AUTOR
Foto Giovanna Carneiro
Giovanna Carneiro

Jornalista e mestra em Comunicação pela Universidade Federal de Pernambuco.