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Fotos: Inês Campelo/MZ Conteúdo
Por Débora Britto e Maria Carolina Santos
Era um entra e sai sem fim de deputados e deputadas antes da posse no plenário da Assembleia Legislativa de Pernambuco (Alepe). Cleiton Collins (PP) entrou, olhou, saiu. Fabíola Cabral (PP), filha de Lula Cabral (PSB), fez o mesmo pelo menos duas vezes. Faltava ainda mais de meia hora para o início da cerimônia de posse, que, na verdade, só começaria às 15h40, com quarenta minutos de atraso. Nesta nova legislatura, dos 49 deputados e deputadas, 22 conseguiram ser reeleitos e 27 estão chegando em um novo mandato. Há um recorde: dez cadeiras são ocupadas por mulheres na Alepe.
Na Avenida Conde da Boa Vista, centro do comércio informal do Recife onde até meses atrás Jô Cavalcanti, das Juntas (Psol), vendia capinhas de celular, algumas dezenas de pessoas se reuniram e saíram em marcha em direção à Alepe.
Ao longo do percurso de aproximadamente um quilômetro, mais gente se juntou à caminhada das Juntas e um grupo de cerca de 200 pessoas, dois bonecos gigantes, com bandeiras de movimentos sociais e gritos de guerra pararam em frente à Assembleia para reivindicar a ocupação da casa pelo povo.
Eleitora das Juntas, a historiadora e técnica da UFRPE Luisa Ximenes chegou cedo na concentração porque quis demonstrar apoio às codeputadas. “É preciso demonstrar que estamos realmente juntas para todo mundo que está lá [na Alepe] saber que elas não andam só. Vai ter muita luta e é importante elas terem nosso apoio. Isso é representação”, disse.
Como era esperado, a cerimônia de posse foi tediosa. No discurso de abertura, o deputado Eriberto Medeiros (PP), em um chamativo terno todo branco, falou sobre “lealdade” e “patriotismo”. Ao fim, clamou pela reação contra “destruidores de biografias de homens e mulheres de bem”. Vez ou outra, enquanto chamava, um a um os novos deputados, deslizava em um nome, numa sigla, numa palavra. Disse, por exemplo, que Tony Gel (MDB) era do PMD.
Outra gafe aconteceu ao chamar a delegada Gleide Angelo (PSB) para assinar o termo. Chamou de “delegado”. Gleide levantou as mãos ao ar e ele se corrigiu. À colega Jô Cavalcanti (Juntas-Psol) reclamou rapidamente do erro.
Os deputados eram chamados em ordem alfabética e podiam subir com um acompanhante – geralmente, familiares – e não falavam nada. A exceção foi o grito de “Lula livre” da deputada Teresa Leitão (PT), em seu quinto mandato na Alepe. Foi aplaudida. Outra mulher, na plateia do plenário, também deu o mesmo grito. Foi aplaudida e um pouco vaiada. No final da posse, logo após o hino de Pernambuco, um homem, também na plateia, gritou “Bolsonaro”. Foi amplamente ignorado e levemente vaiado.
“Eu não abro mão de deputada que faz ocupação”, entoaram os manifestantes para a escadaria lotada de pessoas que, surpreendidas, pareciam não entender o sentido da manifestação, antes da posse. Uma assessora de um deputado estadual reeleito pela quarta vez chegou a comentar, do alto da escadaria, que “já estava suficiente, deveriam fazer aquilo em outro local”.
Outro assessor do mesmo deputado desconhecia como funcionará a “mandata coletiva” das Juntas. Um rapaz com farda de empresa terceirizada passou na hora e explicou que as cinco codeputadas vão dividir o salário entre si e uma responderá administrativamente.
Entre as bandeiras que ocupavam a rua estavam as de movimentos tradicionais, como a Fetape (Federação dos Trabalhadores Rurais de Pernambuco) – que elegeu seu ex-presidente Doriel Barros para o primeiro mandato de deputado estadual – e dos Movimentos dos Trabalhadores Sem Teto (MTST). Também do Sintraci (Sindicato dos Trabalhadores do Comércio Informal), o colorido das bandeiras LGBT e do movimento de mulheres negras. Pelo telão instalado no antigo prédio da Alepe acompanharam a cerimônia dezenas de trabalhadores rurais, ativistas, eleitores das Juntas, familiares, assessores e outros curiosos.
Cercado por repórteres, o líder da oposição Marco Aurélio (PRTB), que usa a alcunha de “Meu amigo”, não se importou com o aperto após a posse. “Faz de conta que é o Galo da Madrugada”. Apoiador de Bolsonaro, elogiou a união da oposição contra o governador Paulo Câmara (PSB). “Ninguém se rendeu”, afirmou, reclamando que um vereador foi assaltado ontem “em plena luz do dia” e que o “Detran virou uma indústria de multas”.
Perguntado sobre as comissões temáticas que a oposição pretende disputar, ele desconversou. “Conversei com o presidente Eriberto ontem e segunda-feira (04) ele vai nos dizer quais as comissões que a oposição terá direito. Pela conversa, eu imagino que a oposição terá um bom número de comissões, inclusive presidindo-as”, acredita. Segunda-feira, talvez, já saberemos.
Do lado de fora da Alepe, a Frente de Transportes Público de Pernambuco fez uma manifestação para reivindicar a criação de uma Frente Parlamentar do Transporte Público. O movimento protocolou a minuta para ser entregue aos deputados, com quem esperam dialogar um a um. Raissa Rabelo, da Frente, criticou a falta de diálogo com o governador e fez apelo aos parlamentares. “Faz dez anos que o aumento das passagens está acima da inflação, nós precisamos de transparência desse processo para a população entender o que está pagando”, afirmou.
Quando Gleide Angelo entrou na Alepe já era perto das 15h30. Quase que imediatamente foi cercada por repórteres. Com mais de 500 mil seguidores nas redes sociais, como ela mesma enfatizou, Gleide é um fenômeno de popularidade. Até com ela mesma: durante a posse, tirou selfies enquanto os colegas subiam ao palco.
Gleide falou que vai lutar pela presidência da Comissão da Mulher. “Esse é meu objetivo. Tem tudo a ver com o que venho trabalhando ao longo desses anos”, disse. “Quando vejo dez mulheres aqui, é muito pouco. Deveria ser no mínimo metade. Esse aqui (a Alepe) não é um espaço masculino. É um espaço para o povo, homens e mulheres”, falou Gleide.
Priscila Krause (DEM) prevê uma articulação entre as dez mulheres da Alepe, para pautas conjuntas. Diz que já há conversas informais – e que houve um almoço, que ela levou falta. “Temos toda a chance de fazer uma agenda para a questão de gênero, da política voltada para a mulher, do combate da violência, da saúde pública. E com uma maior participação política. Temos a oportunidade de que uma legislatura com dez mulheres não seja uma exceção, seja um piso. Para que a gente possa chegar mais perto do que é a sociedade brasileira”, diz, afirmando que vai se unir eventualmente com as outras mulheres da oposição.
O mandato coletivo Juntas está na disputa pela presidência da Comissão de Direitos Humanos e Participação Popular, que deve ser pleiteada também pela deputada Clarissa Tércio (PSC), segundo informações de bastidores.
Carol Vergolino, das Juntas, comemorou a abertura da casa para o diálogo e confirmou que as codeputadas vêm se encontrando com outros deputados para discutir a questão. “Estamos falando com todo mundo que está procurando a gente e sempre dizendo o que a gente quer, que queremos a comissão de Direitos Humanos. E vamos mobilizar para garantir”, respondeu a codeputada sem titubear.
Depois da posse, houve um intervalo de mais de 2 horas para a inscrição dos deputados que quisessem participar da votação para os cargos da Mesa Diretora – as candidaturas respeitam o tamanho das bancadas. As articulações estavam sendo feitas há semanas, mas existiram reuniões neste intervalo de alguns partidos para definir votos. Para a presidência, só um candidato: Eriberto Medeiros, que foi reconduzido.
Os votos foram secretos, em cédulas de papel. Era quase meia-noite quando os vencedores foram anunciados. Para a primeira vice-presidência, concorreram Simone Santana (PSB) e o novato Aglailson Victor (PSB), deputado mais jovem desta legislatura. Ela levou o cargo. Para a segunda vice-presidência, concorreram Alberto Feitosa (SD), Romário Dias (PSD) e Guilherme Uchôa Jr (PSC). Deu o esperado e Uchôa Jr foi eleito.
Na primeira secretária, também nenhuma novidade. Clodoaldo Magalhães (PSB) levou o cargo, depois que Isaltino Nascimento (PSB), que também concorria, praticamente ter desistido da vaga. Para as demais secretarias, foram candidatos únicos: Claudiano Martins Filho (PP) na segunda secretaria, Teresa Leitão (PT), na terceira, e Álvaro Porto (PTB), na quarta. Os eleitos ficam dois anos nos cargos.
Atualizada às 7h30 do dia 02/02 para incluir a votação da mesa diretora
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