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Hoje (10), dia dos 70 anos da Declaração Universal dos Direitos Humanos, a Av. Norte amanheceu fechada na altura do bairro do Rosarinho, Zona Norte do Recife, em protesto por atraso de promessas de habitacionais e auxílio-moradia. Através do Movimento Revolucionário Cidadão, que agrega movimentos sociais de luta por moradia e cidadania, 65 famílias aguardam há três anos a entrega de um habitacional no Jordão, na Zona Sul, e dizem estar há dois meses sem receber o auxílio-moradia de R$ 200.
Outras 120 famílias esperam há dois anos pela finalização das obras do habitacional Vila Brasil, em Joana Bezerra, área central da capital, segundo relato de Eraldo Lira, líder do Movimento Revolucionário Cidadão.
O grupo ateou fogo em pneus e entulhos fechando os dois lados da avenida entre 7h15 e 8h40. “Chegou o nosso dia da fúria. Tivemos que deixar a população em maus lençóis perdendo médico, escola, chegando atrasada nos compromissos porque não deu mais para aguentar”, justifica Eraldo. “Já moramos em situação precária, e agora podemos ser colocados para fora de onde estamos atualmente porque não temos dinheiro para pagar o aluguel. O que falta é decisão política.”
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Moradores ocupam o antigo depósito de veículos do Detran, na Rua Salvador de Sá, no Rosarinho.
“A gente estava pagando R$ 150, R$ 200 de aluguel com esse local parado. Foi quando as famílias resolveram se reunir e ocupar”, lembra Eraldo.
A polícia coloca as famílias para fora, mas elas voltam a ocupar o depósito e a melhor se organizar. A ocupação passa a vingar. A Companhia Estadual de Habitação e Obras (Cehab) fecha um um acordo garantindo auxílio-moradia.
“Mas queríamos uma solução, e não um auxílio”, explica Eraldo.
Então acerta-se um documento garantindo que as 65 famílias iriam, em no máximo dois anos, para um habitacional no Canal do Jordão.
>> 2015
As famílias então aceitam sair pacificamente da ocupação do depósito do antigo Detran e passam, somente em 2015, a receber um auxílio-moradia de R$ 200 por mês.
“Passamos um ano esperando um cadastro ser atualizado para só então começar a receber o dinheiro”, diz Eraldo.
O problema é que o habitacional prometido nunca ficou pronto. E agora as famílias estão há dois meses sem receber o dinheiro. Ainda em 2015, outras famílias se juntam à luta por moradia e o Movimento Revolucionário Cidadão é criado. Uma nova ocupação é constituída, dessa vez no Vila Brasil, próximo ao Joana Bezerra, uma construção de 2010, já prometida para outras famílias, mas que foi abandonada no meio do caminho.
“Antes de tudo é pela desmoralização política, gastam milhões de impostos e não conseguem concretizar aquilo lá, um espaço da prefeitura desocupado, abandonado”, contesta Eraldo.
A ocupação passa a se chamar Solange Souza, líder comunitária do Rosarinho. A prefeitura vai ao local e garante como solução, em troca da saída pacífica, a construção de um habitacional no local para as 120 famílias.
>> 2016
Em janeiro, as famílias são cadastradas e voltam a morar em casa de parentes, vizinhos, de favor ou de aluguel em locais precários.
“Passamos um ano negociando com a Secretaria de Habitação. Passamos pelo entra e sai de secretários. Cada um que entrava chegava com uma história para começar tudo de novo”, afirma Eraldo.
A Marco Zero Conteúdo entrou em contato com a Cehab, que enviou apenas uma curta nota informando que a Secretaria de Habitação do estado iniciou o pagamento dos auxílios-moradia na última sexta-feira (7) e, até o fim desta segunda-feira (10), o restante dos beneficiados estarão com o valor disponível na conta.
Já a Secretaria Executiva de Habitação do Recife informou, também apenas através de nota, que o Conjunto Habitacional Vila Brasil, destina-se aos moradores anteriormente cadastrados na própria comunidade Vila Brasil, em Joana Bezerra. Quantos à ocupação Solange Souza, no dia 28 de novembro houve uma reunião com as famílias em que foram discutidos alguns pontos. E garantiu que as famílias estão recebendo auxílio-moradia e aguardando a liberação de novos recursos federais para construção de habitacionais.
SAIBA MAIS
Ouça o programa Fora da Curva: Quem tem direito à moradia no Brasil?
Atualizado em 11/12/18, às 14h45
Vencedora do Prêmio Cristina Tavares com a cobertura do vazamento do petróleo, é jornalista profissional há 12 anos, com foco nos temas de economia, direitos humanos e questões socioambientais. Formada pela UFPE, foi trainee no Estadão, repórter no Jornal do Commercio e editora do PorAqui (startup de jornalismo hiperlocal do Porto Digital). Também foi fellowship da Thomson Reuters Foundation e bolsista do Instituto ClimaInfo. Já colaborou com Agência Pública, Le Monde Diplomatique Brasil, Gênero e Número e Trovão Mídia (podcast). Vamos conversar? raissa.ebrahim@gmail.com