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A cidade é passada pelo rio
como uma rua
é passada por um cachorro;
uma fruta
por uma espada.
O rio ora lembrava
a língua mansa de um cão,
ora o ventre triste de um cão,
ora o outro rio
de aquoso pano sujo
dos olhos de um cão
(O cão sem plumas, João Cabral de Melo Neto)
Esta reportagem é a primeira parte do projetoO NORDESTE E O FIM DO MUNDO, que será formado por duas investigações longas, documentário, ensaio fotográfico, podcast e debates. Desenvolvido pelo Observatório da Vida Agreste (OVA/UFPE), o material foca em uma das cidades centrais da indústria têxtil nacional, Toritama, agreste de Pernambuco. O fabrico de jeans e outras confecções é o motor que sustenta a economia do município e das cidades vizinhas (em especial Caruaru e Santa Cruz do Capibaribe). Mas ele é também uma das razões do alto nível de destruição do Rio Capibaribe, que corta o município e serve para abrigar rejeitos de toda sorte. Essa questão se agrava justamente por Toritama ser uma das cidades pernambucanas mais impactadas pela falta de água — quer dizer, pela falta que atinge a maioria da população empobrecida, mas não as lavanderias que podem custear carros-pipa, perfurar poços e construir barragens.
Toritama: entre o fim do mundo e a chance de sobrevivênciajoga luz sobre a emergência climática no Nordeste, uma das regiões que será mais afetada pelas mudanças ambientais. O projeto foi contemplado no edital nacional do Instituto ClimaInfo com apoio financeiro do Instrumento de Parceria da União Europeia (com Ministério Federal Alemão para o Meio Ambiente, Conservação da Natureza e Segurança Nuclear e Iniciativa Climática Internacional). Nesta reportagem, você vai conhecer as memórias de quem já teve o Rio Capibaribe como um local de lazer, diversão e sobrevivência; vai saber como a falta de água impacta o cotidiano de quem passa até dois meses sem ver o recurso chegar às torneiras; entender como as lavanderias estão fazendo para lidar com os efeitos da crise hídrica e quais soluções estão sendo praticadas para poupar a água. Vai saber um pouco mais sobre as razões pelas quais a Adutora do Agreste, que prometia solucionar a falta de água na região, praticamente ainda não saiu do papel apesar de ter sido iniciada em 2015. Finalmente, você ainda poderá ouvir as canções do cantador João do Cavaquinho sobre o Capibaribe e conferir o mini documentário realizado por nossa equipe.
O especial foi desenvolvido pelas repórteres Maria Souza, Maíra Welma Silva, Maryane Martins e Maria Júlia Vieira, as duas últimas responsáveis também pelo documentário que você assiste aqui. Também na equipe, Layane Lima (artes e redes sociais) e Márcio Correia (artes, redes sociais e site). A reportagem especial é também fruto de uma parceria entre o laboratório OVA e a Marco Zero Conteúdo. A equipe também contou com cursos de formação sobre mudanças climáticas oferecidos pelo ClimaInfo, com excelentes mentorias realizadas pelos jornalistas Maristela Crispim, Cristina Amorim e Marco Schaeffer. A reportagem tem coordenação e edição da jornalista e professora da UFPE Fabiana Moraes.
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Nesta viagem ao agreste, seremos também acompanhadas por João Cabral de Melo Neto e seu poemaO cão sem plumas, que fala sobre o Capibaribe, da sua nascente até seu desaguar no mar de Recife, e as pessoas às suas margens.
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LEIA MAIS:
1. “O rio era a vida da gente”
2. Água: um bem para quem pode pagar
3. Propostas para adiar o fim de um mundo agreste
4. Capibaribe: na luta por oxigênio e espaço
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