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O que fazer para (tentar) fugir das doenças do carnaval

Maria Carolina Santos / 07/02/2024
foto noturna de multidão brincando carnaval, com dezenas de pessoas com braços para o alto e muito papel picado flutuando sobre a multidão.

Crédito: Wagner Ramos/PCR

Carnaval é época de festa, alegria, fantasias, exuberância. Mas também um prato cheio para infecções. É comum que ao fim da festa haja o aumento de pessoas com uma grande variedade de viroses nas emergências hospitalares.Há aquelas doenças que podem ser evitadas com atitudes simples – como o uso de preservativo para as Infecções Sexualmente Transmissíveis (ISTs) – e outras em que a redução de danos pode ajudar a diminuir os sintomas. A Marco Zero ouviu um médico clínico geral e uma médica infectologista para saber quais as infecções mais comuns nessa época e o que podemos fazer para não ficarmos muito doentes. .

Viroses respiratórias e gastrointestinais

O último boletim Infogripe, da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz, revela uma probabilidade de crescimento dos casos de Síndrome Respiratória Grave (SRAG) em 75% em Pernambuco. Os dados coletados até o dia 27 de janeiro apontam que Pernambuco já está em um risco muito alto para covid-19. Nacionalmente, 65% de todos os casos de SRAG que geralmente precisam de internação hospital são por conta da covid-19. 

Para quem vai para o carnaval, a primeira coisa a se fazer é garantir que a vacinação está em dia. “É a nossa principal forma de prevenção. Também é importante evitar sair de casa se você estiver gripado. E se manter longe de pessoas com sintomas gripais e evitar tocar no rosto. Sei que estamos falando de um momento em que as pessoas vão aglomerar e brincar, mas o que conseguir fazer nesse  sentido é o ideal”, afirma a infectologista Camila Martins.  

“Muita gente ainda não tomou a bivalente da covid-19. Apesar da ciência ter mostrado que as taxas de mortalidade despencaram com a vacinação, ainda há resistência por uma parte da população. Por isso é importante sempre lembrar a importância da vacinação”, diz ela.

A infectologista lembra que a maioria das viroses não têm tratamento específico, como antivirais, apenas medicação para os sintomas. “São doenças autolimitadas, que têm seu período de evolução. O que a gente precisa mesmo fazer é descansar, se hidratar bem e esperar passar. Mas ficar alerta aos sinais de alarme, como febre que não passa e sintomas mais intensos, para procurar atendimento médico”.

Viroses gastrointestinais costumam passar após 48h ou 72 horas de sintomas. Já as infecções respiratórias até o terceiro dia devem apresentar melhora. 

Mononucleose, a doença do beijo, também costuma aumentar no carnaval. “Uma dor de garganta importante com febre alta. E  algumas pessoas também têm dor abdominal. Como faz dor de garganta, às vezes há placas na garganta que se confundem com amigdalite bacteriana. E, se for prescrito antibióticos, é bem comum dar uma reação com manchas na pele, que pode ser confundida com uma reação ao medicamento mas é uma reação do vírus. Ou seja, mesmo com placas na garganta nem sempre é recomendável tomar antibiótico, ainda mais sem orientação médica”

Se mononucleose, não há tratamento específico, apenas sintomático. “Uma pessoa pode ter mononucleose várias vezes. É uma doença bastante incômoda e se pega de várias formas, não só pelo beijo, mas também por copo, saliva”.

 

Sintomas de infecções respiratórias devem desaparecer após três dias. Crédito: Dragen Zigic/Freepik

Alimentação, hidratação e mãos limpas

Para manter uma boa imunidade, a infectologista lembra que a vitamina C não tem respaldo científico e recomenda boa hidratação e alimentação. “E não se expor a qualquer comida de rua. Muitas diarréias se desencadeiam por contaminação oral. Então o melhor é evitar alimentos de origem duvidosa e manter as mãos limpas”, recomenda

Coordenador da Clínica Médica do Hospital Miguel Arraes, o médico Fábio Queiroga recomenda o uso de álcool em gel na rua, mas com atenção. “No carnaval é mais difícil lavar as mãos o tempo todo, mas se der para levar álcool em gel, é bom. Mas cuidado para não chegar perto de espetinhos, de qualquer fonte de fogo. Carnaval é sempre uma situação muito complicada, pela grande aglomeração”, diz. 

Outro problema de saúde no carnaval é o exagero na bebida alcóolica. A recomendação de Queiroga é beber uma garrafinha de água para cada dose de bebida (uma lata de cerveja ou um drink). “Porque aí você vai intercalando, se mantém hidratado e diminui o ritmo de bebida.

Tem gente que fica bebendo e esquece de comer. Isso é um risco muito grande porque diminui as defesas e aí aumenta os riscos de doenças pós carnaval”, diz Queiroga, que aconselha um café da manhã reforçado. “Comer bastante cuscuz, inhame e frutas que hidratam, como melancia. E também ter muito cuidado com enlatados, salsichões, que não se sabe a procedência. Porque não adianta estar no fogo, se for uma comida estragada, não adianta. É importante saber onde se está comendo”.

Infecções Sexualmente Transmissíveis (ISTs)

Para a grande maioria das infecções sexualmente transmissíveis, o uso de preservativo é eficiente. Mas, caso haja relação desprotegida, há hoje profilaxias – tratamentos pós exposição – que podem minimizar, e muito, os riscos. “As profilaxias pós exposição estão disponíveis para qualquer pessoa que quiser. Além do HIV, há medicação pós exposição para hepatites e clamídia. Para sífilis e gonorreia não há, então é importante fazer o teste e, se der positivo, fazer o tratamento”, explica Camila Martins. 

O ideal é que a pessoa procure atendimento médico 72 horas após a relação desprotegida. “Isso pensando no HIV. Quanto mais rápido, melhor. E é importante frisar que independe de ser uma exposição consentida ou não consentida. Há também, para a prevenção do HIV, a PrEP (profilaxia pré exposição). Já temos disponível no SUS. Mas o paciente precisa fazer o cadastro no ambulatório especializado e fazer os exames prévios e o acompanhamento, para poder receber a medicação”, explica a infectologista

Quando procurar atendimento médico
“Geralmente os sinais de viroses são febre, náusea, dor de cabeça. Vomitar uma ou duas vezes e ter febre é normal. Não é nesses primeiros sintomas que vamos para o hospital. Mas uma febre que não cede, que só aumenta, que se toma remédio e não melhora depois de dois dias. Ou se a pessoa não para de vomitar é um sinal de alerta. Se a pessoa está com diarreia e não consegue sair do banheiro. O que foge do comum do processo viral é sinal de que se deve procurar o pronto socorro. Mas na grande maioria das vezes é as viroses são simples e se resolvem por si só. Se piorar depois de 48 horas é que deve procurar atendimento médico”, diz o médico Fábio Queiroga

Hemope Recife funcionará normalmente no carnaval

Segundo o Ministério da Saúde, no período de carnaval, ocorre uma baixa de até 20% nos estoques disponíveis para transfusões. Para tentar diminuir essa queda, o Hemope Recife funcionará normalmente no sábado (10/02, das 7h15 às 18h30), na segunda-feira (12/02, das 7h15 às 17h), na terça-feira (13/02, das 7h15 às 17h) e também na Quarta-Feira de Cinzas (14/02, das 7h15 às 18h30). Caso a pessoa queira agendar a doação, basta ligar para o Disque Doação: 0800 081 1535.

Para doar sangue, é necessário estar em boas condições de saúde, ter entre 18 e 69 anos -nesta última faixa etária, desde que a primeira doação no Hemope tenha sido feita até os 60 anos. Pesar, no mínimo, mais de 50kg, estar descansado (ter dormido pelo menos 6 horas nas últimas 24 horas), alimentado e apresentar documento original, com foto, emitido por órgão oficial (carteira de identidade, cartão de identidade de profissional liberal ou carteira de trabalho). O Hemope fica na rua Joaquim Nabuco, 171, Graças

Serviço de apoio à mulher vítima de violência funciona 24 horas

O Serviço de Apoio à Mulher Wilma Lessa (SAMWL), sediado no Hospital Agamenon Magalhães (HAM), permanece aberto nos quatro dias de Carnaval para atendimento a mulheres vítimas de violência.

A equipe multiprofissional do Wilma Lessa é formada por assistentes sociais, médicas(os), enfermeiras(os) e psicólogas(os). O serviço funciona 24 horas por dia, sete dias por semana para atender e acolher as pessoas com útero/vagina (mulheres cis e homens trans) vítimas de violência, principalmente sexual, acima de 12 anos de idade. O acesso ao atendimento pode ser de forma espontânea ou por meio de encaminhamento de unidade de saúde ou serviço de proteção.

Além do Wilma Lessa, há outras unidades de referência que realizam o atendimento integral às vítimas de violência sexual:

  • Centro Integrado de Saúde Amaury de Medeiros (Cisam – Pró-Marias) – Recife;
  • Instituto de Medicina Integral Professor Fernando Figueira (Imip) – Recife;
  • Hospital da Mulher do Recife (Centro de Atenção à Mulher Vítima de Violência Sony Santos) – Recife;
  • Policlínica e Maternidade Arnaldo Marques  – Recife;
  • Maternidade Bandeira Filho – Recife; Unidade Mista Professor Barros Lima – Recife;
  • Hospital Geral de Camaragibe Aristeu Chaves – Camaragibe.
  • Hospital Jesus Nazareno – Caruaru.
  • Hospital Regional Inácio de Sá – Salgueiro.
  • Hospital Dom Malan – Petrolina.
  • Hospital Professor Agamenon Magalhães – Serra Talhada

Serviço do Hospital Agamenon Magalhães é referência para violência contra mulher. Crédito: Miva Filho/SES-PE

AUTOR
Foto Maria Carolina Santos
Maria Carolina Santos

Jornalista pela UFPE. Fez carreira no Diario de Pernambuco, onde foi de estagiária a editora do site, com passagem pelo caderno de cultura. Contribuiu para veículos como Correio Braziliense, O Globo e Revista Continente. Ávida leitora de romances, gosta de escrever sobre tecnologia, política e cultura. Contato: carolsantos@gmail.com