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Último grito da moda: o lucro em cima das máscaras

Inês Campelo / 07/05/2020

Em
casa há cerca de 60 dias, um privilégio de poucos, noticiários de
TV, sites de jornalismo e redes sociais, além da janela, são a
única forma de acompanhar o mundo.

Nesta
loucura que virou a política e a politicagem brasileira e o
presidente fala de aquecedor de piscina desligado e do seu 04
pegador, no momento em que seu ex-juiz de estimação pulou fora do
“Titanic Bolsonariano” e Regina Duarte vira mote de entrevistas,
debates e notícias de zap, no meu planeta Recife as pessoas se
preocupam em lavar as mãos, usar máscara, torcer para não precisar
de um respirador e saber se vai mesmo ter lockdown.

Por
algumas linhas, meus queridos, quero só falar de máscaras. Aquelas
que até dias atrás eram usadas apenas por profissionais de saúde e
que agora fazem parte do nosso look diário.

Na
quarta (6), a Osklen resolveu lançar sua coleção Inverno/Corona de
máscaras com estampas icônicas. Nascida em 89, segundo a Wikipedia,
é uma marca de lifestyle.
Nem sei te explicar direito isso. Na minha opinião é uma loja de
roupas bonitas, caras e para pessoas magras. Pois bem, a dupla das
maravilhosas máscaras saía por apenas R$ 147. Afinal o que são 147
contos para andar na moda? O merchan dizia que, a cada kit comprado,
uma, UMA, 1 cesta básica seria doada. Pegou mal! Repercutiu, crítica
em cima de crítica e apagaram os posts das redes. Mas tenho as fotos
delas, calma aí!

Print de Instagram com todos os dados da máscaras Osklen

Com
gosto eclético sigo desde marcas famosas como a citada, passando por
um orfanato de rinocerontes na África, blogueirinhas e até perfil
de lingerie. Vem aí a segunda observação. Pasmem, por favor! Tem
um monte de loja de calcinha e sutiãs que entrou para o ramo das
máscaras. Fico daqui só fantasiando como será isso e, claro, que
comento para que vocês também se deparem com esse mundo paralelo
que estamos vivendo. Com todo respeito às vaidosas e vaidosos, venho
aqui julgar e questionar o que passa nas cabeças fantásticas das
colegagens?

Para
não ser chata até o fim desse relato, também vejo, na pequena
bolha que me alimenta de questionamentos, redes de solidariedade das
máscaras. Tem artista plástico pintando máscaras com a patinha da
cachorra famosa no Instagram para arrecadar dinheiro para ração ser
doada em abrigos, porque eles permanecem aí. Tem gente na periferia
costurando de graça, e esse periferia não é desmerecendo o
território, é para que fique claro para mim e para você que tem
gente com menos dinheiro no bolso no fim do mês que tá doando sua
força de trabalho.

Tem
grupo de dentistas fazendo faceshield, aqueles capacetes de acetato,
para doar aos profissionais de saúde. Tem a mãe de uma amiga que
está vendendo para sustentar a família. Tem clube de futebol
oferecendo máscaras estilizadas para pagar as contas e prometendo
distribuir parte delas para a comunidade ao redor do estádio. Tem
muita gente boa construindo um fio de esperança. E a crítica não é
à venda das máscaras, antes que algum desatento pense isso.

Campanha do artista plástico Zaca Oliveira para arrecadar fundos para compra de ração

Então,
pra que esse bla bla bla? O uso das máscaras de tecido não é uma
moda legal, é uma necessidade. Estamos vivendo uma pandemia mundial
e ainda tem muita gente em negação. E vem acompanhada de um monte
de coisa complicada. Precisamos, antes de entrar na modinha, saber
usar a máscara, ensinar ao companheiro como usar. Entender
principalmente que máscara não é escudo do Capitão América ou
vacina. Que a obrigatoriedade do uso para quando sair de casa não
quer dizer que, estando de máscara, você deve sair de casa, muito
menos que podemos relaxar com o distanciamento mínimo de 1,5m, nem
que isso dispensa o banho, a mão lavada ou uso do álcool em gel…

Ainda
tem o papo da multa para quem não usar o acessório. Pois, pois…
Nem sei direito como resumir os pensamentos sobre essa ideia de…
Imagina só a população carente esperando receber o auxílio
emergencial para investir R$ 147 na compra do seu kit Osklen e ainda
correr o risco de ser multada? Sendo ainda mais debochada, o que me
vem a mente é que se essa moda da “máscara fashion” (faça esta
busca no Google e se delicie com o resultado…) pegar mesmo e alguém
ainda inventar de sair de casa para adquirir a sua deveria ser
obrigado a reverter o valor que gastaria em uma voltinha no RioMar em
cestas básicas para quem não tem de onde tirar o sustento da
família desde que o Corona deu a volta ao mundo e chegou até aqui.

Se você conseguir ler até aqui esse desabafo é uma necessidade pensar mais no próximo, esquecer das aparências e de fato, ajudar. É para cobrar de mim mesma um tempinho para pensar em como posso conscientizar as pessoas. O que eu, eu e você, ou nós podemos fazer para quem é cabra do Sertão, onde mais dia menos dia o vírus vai chegar, ou uma comunidade da rua vizinha possa ter e saber usar uma máscara para se proteger. É para proteger a nós mesmos da tanta ignorância e tão pouca solidariedade.

Máscaras de alta costura. Com bordados e tecido em renda que dificulta a higienização em caso reutilização

Informações importantes sobre a composição dos tecidos:

A máscara deve ser feita nas medidas corretas, devendo cobrir totalmente a boca e nariz, sem deixar espaços nas laterais. Também é importante que a máscara seja utilizada corretamente, não devendo ser manipulada durante o uso e deve-se lavar as mãos antes de sua colocação e após sua retirada.

Tecido 100% algodão devem ser usados. Exemplo de tecidos: usados comumente para fazer lençóis de meia malha 100% algodão; para fazer forro para lingerie; usado para fabricação de camisetas.

É recomendável que cada pessoa tenha entorno de 5 (cinco) máscaras de uso individual. Antes de colocar a máscara no rosto deve-se assegurar que a máscara está em condições de uso: limpa e sem furos.

Fazer a adequada higienização da mão com água e sabonete ou com preparação alcoólica a 70%, cubra todas as superfícies de suas mãos e esfregue-as juntas até que se sintam secas; tomar cuidado para não tocar na máscara, se tocar a máscara, deve executar imediatamente a higiene das mãos; cobrir totalmente a boca e nariz, sem deixar espaços nas laterais; manter o conforto e espaço para a respiração; evitar uso de batom ou outra maquiagem ou base durante o uso da máscara.

Não utilizar a máscara por longo tempo (máximo de 3 horas); trocar após esse período e sempre que tiver úmida, com sujeira aparente, danificada ou se houver dificuldade para respirar; higienizar as mãos com água e sabonete ou preparação alcoólica a 70% ao chegar em casa; retire a máscara e coloque para lavar. Repita os procedimentos de higienização das mãos após a retirada da máscara. Não compartilhe a sua máscara, ainda que ela esteja lavada.

Como fazer para limpar a máscara de tecido

Ao
contrário das máscaras descartáveis, as máscaras de tecido podem
ser lavadas e reutilizadas regularmente, entretanto, recomenda-se
evitar mais que 30 (trinta) lavagens.

A máscara deve ser lavada separadamente de outras roupas. Lavar previamente com água corrente e sabão neutro e deixar de molho em uma solução de água com água sanitária* ou outro desinfetante equivalente de 20 a 30 minutos. Enxaguar bem em água corrente, para remover qualquer resíduo de desinfetante. Evite torcer a máscara com força e deixe-a secar; passar com ferro quente; observar para garantir que a máscara não apresenta danos (menos ajuste, deformação, desgaste, etc.), ou você precisará substituí-la; e por fim, guardar em um recipiente fechado.

* Para preparar uma solução de água sanitária ( 2,5%) com água, por exemplo, você pode diluir de 2 colheres de sopa de água sanitária em 1 litro de água. Caso você possua máquina de lavar, pode programar o ciclo completo de lavagem (lavagem, enxague, secagem) de pelo menos 30 minutos com uma temperatura de lavagem de 60ºC.

Como descartar a máscara de tecido

Descarte a máscara a de pano ao observar perda de elasticidade das hastes de fixação, ou deformidade no tecido que possam causar prejuízos à barreira. As máscaras de TNT não podem ser lavadas, devem ser descartáveis após o uso.

Para removê-la, manuseie o elástico ao redor das orelhas, não toque não a parte frontal da máscara e jogue fora imediatamente em um saco de papel ou plástico fechado ou em uma lixeira com tampa. Evite tocar a superfície do saco de papel ou plástico após o descarte da máscara, não toque no rosto ou em superfície, lave imediatamente as mãos com água e sabonete novamente ou proceda a higienização com preparação alcoólica a 70% .

* Dados da Agência Nacional de Vigilância Sanitária

AUTOR
Foto Inês Campelo
Inês Campelo

Formada em Jornalismo pela Unicap. Apaixonada pela fotografia, campo que atua profissionalmente desde 1999. Atualmente é freelancer e editora de imagens do Marco Zero.