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Pesquisa prevê efeitos das mudanças climáticas na Caatinga

Marco Zero Conteúdo / 08/04/2023
paisagem do semiárido nordestino, com contornos de árvores de galhos secos e sem folhas em primeiro plano, emoldurando o resto da imagem, onde aparece à direita, um grande cacto, árvores e arbustos secos, em tom de cinza, dispersos, próximos a duas construções térreas com aparência de abandono.

Crédito: Inês Campelo/MZ Conteúdo

por Alice Sales, publicado originalmente na Agência Eco Nordeste

Com a realidade das mudanças climáticas é necessário prever os efeitos das alterações do clima em florestas tropicais secas a fim de pensar em estratégias que diminuam os impactos negativos e previnam a desertificação. Um estudo que aponta indicadores ecológicos para monitorar estes impactos na Caatinga, fruto da tese de doutorado de Ana Cláudia Oliveira, ganhou o Prémio Científico Mário Quartin Graça 2022. O trabalho é resultado da parceria entre o Núcleo de Ecologia e Monitoramento Ambiental (Nema) da Universidade Federal do Vale do São Francisco (Univasf) e a Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa (ULisboa).

Durante sua pesquisa de doutorado, Ana Cláudia Oliveira desenvolveu um projeto com o objetivo de utilizar indicadores ecológicos (diversidade taxonômica e funcional), como ferramenta para monitorizar e prever precocemente os impactos climáticos sobre o bioma Caatinga.  O estudo surgiu a partir da ambição da pesquisadora em compreender e ampliar o conhecimento das plantas nativas do Brasil, desde indivíduos a comunidades, e agora, do ponto de vista do ecossistêmico.

“Iniciei minha graduação com o exercício da identificação das plantas, passando pela avaliação da composição e da diversidade taxonômica em florestas brasileiras. No mestrado, incorporei as questões estruturais (fitossociologia) e biogeográficas. Finalmente, no doutorado escolhi explorar o entendimento funcional de comunidades vegetais associado à crise climática”, detalha a cientista sobre sua trajetória de pesquisas.

Os resultados do estudo destacam que o aumento da aridez, provocado pelas alterações climáticas, poderá prejudicar nossa biodiversidade e suas funções ecossistêmicas. Isso porque o aumento da aridez irá reduzir a diversidade de espécies de plantas que exercem funções únicas ou com baixa redundância funcional entre elas, o que aumenta as chances de perda de funções chaves do ecossistema. “Considerando esses resultados, podemos adotar medidas preventivas oportunas como por exemplo, a conservação de florestas remanescentes e ações de restauração ecológica, como a introdução de espécies com características funcionais específicas tal como dispersão de frutos via animais”, destaca.

Para a realização do trabalho, foi utilizado o banco de dados do Nema, composto por informações obtidas a partir de levantamentos de plantas realizados no âmbito das ações de avaliação e mitigação de impacto do Projeto de Integração do Rio São Francisco (Pisf). A pesquisa abrange uma área total de 700 quilômetros, incluindo os estados do Ceará, Paraíba, Pernambuco e Rio Grande do Norte.

Durante a pesquisa, o índice de aridez foi considerado uma variável adequada para avaliar os efeitos das alterações climáticas na vegetação. Foi utilizado um banco de dados muito rico com informações sobre a ocorrência de cerca de 1.000 espécies de plantas neste ecossistema. Aplicando uma metodologia de reamostragem, a abundância de espécies de plantas foi estimada ao longo de um gradiente espacial de clima. Foram estudadas 13 características funcionais das plantas, que determinam as respostas das espécies ao meio ambiente e permitem avaliar a resposta das métricas ao clima.

De acordo com a pesquisadora Ana Oliveira, a Caatinga é um dos ecossistemas mais biodiversos das florestas tropicais secas e um dos mais vulneráveis a estas alterações, e  vem sofrendo modificações intensas na sua paisagem. “Dessa parceria e tese poderemos ainda colher muitas inovações tecnológicas para a Caatinga, em especial, a questão de restauração ecológica, conservação e agricultura familiar face às alterações climáticas”, ressalta.

Os indicadores ecológicos e métricas de diversidade (taxonômicas e funcionais) identificados na pesquisa podem ser utilizados de forma universal. Agora, o desafio é testar para outros tipos de ecossistemas e propor em escala global. “Este prêmio é um aditivo para seguirmos com o desafio de produzir conhecimento para conservação e preservação da Caatinga por meio das ações de licenciamento ambiental do Pisf, além de demonstrar a importância de dar continuidade a este trabalho”, afirma o professor Renato Garcia, coordenador do Nema.

O prêmio

Intitulada “Ecological indicators as tools to monitor the effects of climate change on Tropical dry forest”, a tese foi premiada na categoria de Tecnologias e Ciências Naturais do Prémio Científico Mário Quartin Graça. A honraria é concedida anualmente pela Casa da América Latina e pelo Banco Santander para as melhores teses realizadas por pesquisadores portugueses ou latino-americanos, em temas de interesse comum ou resultantes da colaboração entre universidades de Portugal e da América Latina. A premiação ocorreu em dezembro passado, em Lisboa, Portugal.

“Este prêmio representa o reconhecimento de um trabalho que sempre quis fazer, associado à minha terra, e me sinto muito grata, pois contou com a ajuda de muitas pessoas”, expressou a pesquisadora premiada. O estudo foi orientado pela professora do Departamento de Biologia Vegetal da ULisboa, Cristina Branquinho, e coorientada pelo professor do Colegiado de Ciências Biológicas da Univasf, Renato Garcia Rodrigues.

A pesquisa recebeu suporte financeiro do Ministério da Integração e do Desenvolvimento Regional (MIDR), por meio das ações do Nema/Univasf no âmbito do Pisf, do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e da Fundação para a Ciência e a Tecnologia (FCT)/Ministério da Educação e Ciência (MEC) de Portugal.

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