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Pioneira, a física Sonia Guimarães abriu portas e quer ver mais mulheres negras na ciência

Débora Britto / 27/07/2020

A física Sonia Guimarães conta com orgulho sua trajetória marcada por conquistas e abertura de caminhos no universo da ciência brasileira. Negra e nascida em uma família que não negava a negritude, seu relato é similar aos de muitas mulheres negras, marcado por racismo e machismo.

Ainda assim, é com uma crítica afiada e um sorriso no rosto que ela fala do que viveu. Aos 64 anos, é a sabedoria que fala mais alto. 

“A pergunta, sempre que eu começo a falar dos meus desafios, é se eu sou discriminada por ser mulher ou por ser negra. A maioria acabou decidindo que é pelo dois. Com tudo que aconteceu comigo, eu estou tendo oportunidade de falar há anos. E tenho falado. Eles me odeiam por causa disso. Agora eu conto a minha história e as pessoas decidem”, afirma a cientista e professora. O “eles” aos quais ela se refere, são alguns professores de perfil conservador do próprio ITA.

Em 1970, Sonia prestou vestibular e foi aprovada na Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), em São Paulo. Antes, sonhava ser engenheira, mas se apaixonou pela física no segundo ano da faculdade. Concluiu o curso superior em Física em 1979 e, pouco tempo depois, foi a primeira negra brasileira doutora em Física pela University of Manchester Institute of Science and Technology, na Inglaterra.

Há 27 anos compõe, não sem desafios enormes, o corpo docente do Instituto Tecnológico da Aeronáutica (ITA). Por anos, ela foi afastada do ensino por causa do racismo, como conta na entrevista abaixo. 

Atualmente, a especialista em Propriedade Eletróticas de Ligas Semicondutoras Crescidas Epitaxialmente, um campo que possibilitou o desenvolvimento de tecnologia para celulares, questiona e reinventa diariamente o imaginário de quem pode ser cientista. 

Apesar de todas as tentativas de sufocar seu trabalho e competência intelectual ao longo de quase 40 anos, Sonia prova que não há volta para os avanços que uma mulher negra representa na ciência. Não que ela fique confortável de ter sido a primeira a ocupar vários lugares, pelo contrário, ela se engaja ativamente, e cada vez mais, na abertura de oportunidades para jovens que desejem trilhar caminhos nas ciências exatas. “A negada está se unindo em coletivos porque sozinho não vai longe. Na minha vida, eu sempre fui muito só. Primeiro, não tinha negro nenhum, agora não, estão se unindo, agindo em cima disso”, comemora.

Por dentro de iniciativas da educação e organização de cientistas negras brasileiras, seu desejo é trazer mais pessoas negras para a ciência. “Eu sou uma pessoa extremamente otimista. Tem muita gente fazendo coisas e as mulheres negras estão na frente de projetos de formação de professores, de jovens. Além de tudo, isso está elevando a autoestima. A molecada acredita que vai ter um futuro. Porque tem nego que não tem esperança. Uma criança pequena sem sonho é o fim do mundo”, diz. 

Confira a entrevista com Sonia sobre sua formação, os desafios de ser uma mulher negra cientista, consciente da sua negritude e engajado no enfrentamento ao racismo. 


MZ: Como foi sua trajetória para se tornar uma física? Você sempre esteve consciente do fato de ser uma mulher negra no universo da ciência, tão embranquecido e masculino? Você tinha ideia dos desafios que enfrentaria?

Eu sempre fui negra, apesar de ter a pela mais clarinha e minha primas terem pelo mais escura, elas tinham cabelo liso natural e não precisam alisar. Mas eu e minha Irmã sempre tivemos que alisar nosso cabelo, a vida inteira. Então nós éramos as negrinhas. Entre as mulheres negras, se você tem cabelo liso sem alisar você é menos negra. A irmã do meu pai tinha olhos cor de mel. Das minhas outras primas, todas precisavam alisar o cabelo. Eu e minha irmã sempre fomos as chamadas cabelinho ruim, então eu sempre fui negra. 

Eu era uma das melhores alunas do ginásio, portanto eu estudava de manhã. Mas uma pessoa filha branca da faxineira queria estudar de manhã e eles me tiraram. Eu fiquei muito chateada, pois quem estudava à tarde não eram as melhores. Indo para a tarde, me senti rebaixada. Nessa raiva, nessa tristeza, eu tirei uma nota muito baixa em física. Foi a primeira vez que eu tirei nota baixa e a professora disse que eu nunca aprenderia física.

No nível médio, eu cursei Técnica em Edificações e eu pensei, inicialmente, em ser engenheira civil. Eu sabia fazer planta, tudo. Portanto, no vestibular, eu coloquei engenharias em todas as universidades não pagas, gratuitas, porque eu não poderia pagar. No cursinho, eu me apaixonei por física. Tinha noite que a gente tinha todos as aulas de física. No nível médio, eu via pouquíssima ou nenhuma física. Então percebi que física era legal. Nas minhas três ultimas opções no vestibular, eu coloquei o curso de Física e entrei na federal de São Carlos. 

Na federal, no segundo ano, eu já me apaixonei por semicondutores, que é o que eu sou doutora hoje. Semicondutores  é o material do qual são feitos os celulares, toda essa revolução eletrônica que existe hoje é porque tem um semicondutor lá dentro, com todas as suas propriedades particulares.

No teu seio familiar, já tinha essa questão da negritude e das diferentes experiências de negritude. Como foi estar nesses locais, nas instituições pelas quais você passou? Havia outras pessoas negras na academia?

Quando entrei na UFSCar éramos 1.500 alunos, em toda a federal. Hoje são 20 mil. Quando entrei éramos 5 negros e eu era a única menina. Nessa turminha, eu chego toda de cabelo alisado. Eu tinha um rabo de cavalo e quando coloco meu pé na universidade com cinco negros alguém me diz “você sabe que você é negra, né?”. Logo depois que eu ouvi esse comentário sobre meu cabelo eu passei a usar ele natural, crespo, e voltei para casa. Meu pai disse: Soninha, você não vai mais cuidar dos cabelos? 

Eu participei de um grupo chamado Congada, participei até de um filme que passou em um dos congressos negros.

Na federal, foi super tranquilo. Mas na Física, quando tentei pedir uma bolsa de iniciação científica a pessoa responsável me disse que eu nunca iria usar Física para nada, para que iria me dar uma bolsa? Portanto, não tive uma bolsa de iniciação científica. Mas eu tinha uma bolsa do departamento de Humanas, que era a bolsa de danças folclóricas, e era o mesmo valor. A gente dançava por toda São Paulo, eu fui rainha do maracatu, aprendi a dançar carimbó, muitas outras danças africanas.

No mestrado, o meu orientador foi a pessoa que me deu a nota mais baixa. O que deveria me avaliar melhor, o que deveria me orientar, mas não fez. No doutorado, foi uma maravilha. É proibido ser racista naquele país (Inglaterra). Se acontecer alguma ação racista e eu denuncio, a pessoa está perdida. Mas uma das pessoas na minha banca de doutorado não gostava muito do meu orientador e, como não podia passar raiva com meu orientador, ele passava raiva para mim. Quando apresentei a tese para ele ler ele disse que eu jamais iria defender a minha tese de doutorado porque ela estava muito mal escrita.

Eu fiquei noites inteiras corrigindo a minha tese com uma professora de inglês aposentada e, no dia da minha defesa, o desgraçado não abriu a boca nem para fazer nenhuma pergunta. O avaliador externo disse que a minha tese era o trabalho mais bem escrito que ele já havia lido de uma pessoa que não tem o inglês como primeira língua. E eu tenho doutorado sim, apesar desse nojento me encher o saco.  

Depois do doutorado, no Brasil trabalhei em um local onde o diretor conseguiu um mundo de bolsas para o exterior. Do grupo de pessoas que poderiam ir, eu era a única com doutorado, fluente em inglês, em italiano. Eu era uma das mais qualificadas para essa bolsa, mas, quando pedi a bolsa, recebi como resposta que eu já tinha passeado muito Europa. Eles não me deram a bolsa. O meu dourado virou passeio pela Europa.

No meu terceiro ano no ITA, em 1996, entrou na minha sala um dos meus colegas de trabalho. Eu dava aula para 120 alunos. Essa pessoa veio com avaliação de 12 alunos e disse que os alunos não gostavam de mim, que eu era a pior professora que eles tiveram na vida e que minha roupa chama muita atenção para o corpo. Por isso, eu fui transferida para o Instituto Tecnológico da Aeronáutica e Espaço. Eu, concursada, no meu terceiro ano dando aula, fui expulsa para outro instituto. Tentei falar com todo mundo e ninguém me recebeu. Quem me recebeu disse que não podia fazer nada por mim. O reitor não me recebeu.

“Se eu não participo do congresso, meu trabalho não é publicado. Se não é publicado, eu não tenho direito a promoção profissional. O objetivo é bem claro: me congelar num ponto até que eu morra congelada.”

No Instituto Tecnológico da Aeronáutica e Espaço eu desenvolvi um dispositivo e com esse dispositivo eu tenho até um pedido de patente. Voltando para o ITA, em 2008, um professor da divisão de Engenharia e Eletrônica teve um problema sério de saúde na família e precisaria ser afastado, aí me colocaram no lugar dele, mas não na Física, para onde eu fiz concurso. 

Eu fiquei dois anos na eletrônica. Quando a pessoa que não me queria no ITA se aposentou, eu voltei para lá e fui parar bem na sala do desgraçado. Nesse meu primeiro ano de ITA, eu tive três trabalhos aceitos em três congressos, mas disseram que não tinha recursos para eu ir para Mogi das Cruzes, pertíssimo. Eu tinha que ir com recursos meus. 

A coisa é assim: se eu não participo do congresso, meu trabalho não é publicado. Se não é publicado, eu não tenho direito a promoção profissional. O objetivo é bem claro: me congelar num ponto até que eu morra congelada.

Isso não é só com os meninos. Em março desse ano houve uma reunião de cientistas do Brasil todo, aqui no ITA, só mulheres. Não me convidaram nem para a comissão organizadora, quem dirá para uma palestra. Eu abri o mesmo congresso em Recife, Fortaleza, na Bahia, na Escola Politécnica, na Unicamp, na Física de São Paulo. A pergunta, sempre que eu começo a falar dos meus desafios, é se eu sou discriminada por ser mulher ou por ser negra. A maioria acabou decidindo que é pelo dois, porque até as meninas me segregam, então realmente eu estou perdida.

O que você conta da sua trajetória chama atenção para a tentativa de desqualificar sua competência e inteligência. Por outro lado, às vezes isso é colocado no campo da meritocracia. Como você enxerga os discursos da meritocracia quando são reproduzidos por pessoas negras? Como você lida com isso no diálogo com outras mulheres negras no campo da ciência?

Se fosse por mérito, teríamos que ter negros nessas posições porque a brancaiada tem uma dívida imensa para conosco. Esse é meu discurso.

Quando a meritocracia está baseada na raça e dizem que os negros não alcançam certos lugares porque são burros, eu lembro toda a glória que foi o continente africano. A matemática começou lá, a química começou lá. Os africanos tinham tecnologia – vou colocar a palavra tecnologia e africanos na mesma sentença – para trabalhar com o ferro. Sendo que os europeus antes de invadir a África ainda trabalhavam com o bronze, só porque ele já sai da terra pronto. Os africanos tinham que trabalhar com o ferro, com altíssima temperatura, coisa que os europeus nem sabiam fazer. É uma tecnologia que estava milhares de anos mais avançada. Em questão de inteligência, os negros são muito mais inteligentes. 

“Lembro toda a glória que foi o continente africano. A matemática começou lá, a química começou lá. Os africanos tinham tecnologia – vou colocar a palavra tecnologia e africanos na mesma sentença – para trabalhar com o ferro. Os europeus ainda trabalhavam com o bronze.”

Portanto, o que acontece é que fomos roubados. A população negra é inteligente, é capaz e só não tem o mesmo tanto de dinheiro porque tivemos 388 anos de escravidão e mais 100 anos de uma mentira de abolição. Porque você não precisa andar nem muito longe, aqui no meu bairro encontraram uma escrava. Uma mulher branca mantinha uma negra dentro de casa, não tinham nem como sair de dentro do apartamento. Isso aconteceu aqui em São José dos Campos, alguns meses atrás. A escravidão ainda existe, mas os brancos acham que está tudo certo.  

Esse pensamento é baseado no racismo. A meritocracia é uma estupidez. Se fosse abrir a boca para falar em meritocracia, eu teria vergonha.  

Você dá muitos relatos do racismo estrutural e institucional, por dentro das instituições pelas quais você passou. Você falou que é odiada por pessoas que estão nas instituições. Já sofreu ataques racistas e como foi para você rebater isso no momento que aconteceu?

A vida inteira sempre fui atacada. Eu nunca tive oportunidade de rebater. Tudo somado, se você perceber bem, o meu colega de trabalho entrou na sala e não falou que eu estava sendo expulsa porque era uma “neguinha, nojenta, que tinha que ir para o inferno”. Não, ele falou que fui expulso porque sou péssima professora. Eu fui contratada para ser professora, se a qualidade do ensino é ruim, tenho que ser expulsa. E também porque eu era a única professora mulher da Física naquela época e a minha roupa chamava atenção.

Então não era culpa deles, não era machismo, não era racismo. Era porque eu sou ruim, incapaz, não sou inteligente suficiente. Não sou uma professora à altura do ITA. Percebe a diferença? Não tem racismo aí. Esse discurso não é racista. Eu fui afastada pela minha “incompetência”.

Eu rodo o Brasil dando palestra, tem lugar que eu chego pela primeira vez, mas as meninas já me conhecem, dizem que vão fazer Física por minha causa.”

Só que com tudo que aconteceu comigo eu estou tendo oportunidade de falar há anos. E tenho falado. Eles me odeiam por causa disso. Agora eu conto a minha história e as pessoas decidem. Em momento nenhum, eu não fiz estardalhaço. Quando me expulsaram eu tentei reverter a expulsão e eles nem me receberam. Eles não me receberam porque todos concordavam que eu era incompetente, então ninguém fez nada para impedir. 

Me trouxeram de volta e o objetivo era para me enterrar. Me jogaram no poço para me enterrar, quando me colocaram de volta para o ITA. Não tem recursos para mim, não posso dar aula na pós graduação, não tem nenhum recurso de pesquisa, nenhum grupo de pesquisa me aceitou. Era para eu me afundar no retorno para o ITA, no entanto, olha o que aconteceu, você está conversando comigo, não com nenhum outro professor do ITA. 

A cientista Sonia Guimarães, em entrevista à Marco Zero Conteúdo.

Você está há 27 anos no ITA, foi a primeira professora de física mulher negra no ITA e primeira mulher negra na física. Nesse tempo, você observou mudanças significativas para ocupação de mulheres negras nos últimos anos? Onde estão as mulheres negras na ciência hoje, no Brasil? 

Eu sempre fui de primeiras. Eu sou muito velhinha, então não tinha mulher, nem tinha preto. 

Tem melhorado sim. Hoje, no ITA, temos uma mulher negra chefe da divisão de Humanas.  Ela não sai gritando por aí, mas a cor da pele dela está aí, não nega. No ITA, os alunos adoram essa professora. Isso é eleição, ela ganhou votos. Tem mais outras duas professora negras no ITA, mas que também não se afirmam negras. Já no ITA alguma coisa está mudando. 

Eu rodo o Brasil dando palestra, tem lugar que eu chego pela primeira vez, mas as meninas já me conhecem, dizem que vão fazer Física por minha causa. Eu dei uma palestra na Unicamp e, depois de um tempo, quando já tinham começado as cotas, voltei. No primeiro ano, não tinha nenhuma pessoa negra e saí com seis autodeclarações. Voltei no ano seguinte, com as cotas sociais na Unicamp e tinha uma negaiada enorme na palestra.  

Nos últimos tempos houve a ebulição do debate em torno do antirracismo, com o caso de George Floyd, nos Estados Unidos, e manifestações pelo mundo e aqui no Brasil. Como o debate do antirracismo chegou no campo da ciência e tecnologia?

Esse debate chegou, infelizmente pelo que acontece com o George Floyd, mas é exatamente como a filha dele disse, que o pai dela mudou o mundo. A Katemari, da UFBA, estava escrevendo um livro sobre cientistas negras, e estava com o material pronto, mas o CNPq questionou a colocação do meu nome como pioneira da Física, disseram que eu não estava morta e era muito jovem. Depois do que aconteceu com George e com toda a comoção, o CNPq ligou para ela e disse que iriam publicar o livro.

Nós temos um grupo que se chamava antigamente Minorias da Física, da Sociedade Brasileira de Física (SBF), e um dos coordenadores queria criar um prêmio para cientistas negras. Decidimos um nome, mas a SBF ficou enrolando e um dia mandou um e-mail perguntando se teria alguém para dar o prêmio. Na semana seguinte, também, a SBF disse que poderíamos dar o prêmio. Aí já viemos com um nome novo para o grupo: Equidade Racial na Física. Estão ainda pensando, mas nós estamos agora rejeitando o nome minoria, porque nós somos maioria. Podemos ser a minoria na Física, mas não porque a gente quer. A gente não quer coadunar, queremos mudar.

Uma das grandes preocupações do movimento negro, de pessoas negras, é que essa ebulição do debate não fique restrito ao caso de George Floyd, que amanhã as pessoas já esqueçam. O que você acha que, no campo da ciência e da Física, o que precisa ser feito hoje para combater o racismo? O que é ser antirracista no seu campo de atuação?

Precisamos de ações afirmativas.  A Lei 10.639, que prevê o ensino obrigatório da história e cultura afro-brasileira e africana em escolas, públicas e particulares deveria ser colocada em prática para todos os níveis. Para a molecadinha saber desde pequena a glória que foi África, que ela só não está como já foi há muitos anos porque a Europa roubou todas as riquezas, roubou as pessoas e rouba até hoje. É engraçado porque eles ficaram ricos por causa do tráfico de pessoas escravizadas. hoje, quando neguinho chega em Paris, é tratado como se fosse bicho. Eles só têm tudo que eles têm por causa da exploração dos negros.

É importante falar isso para as crianças pequenas para elas não crescerem achando que são inferiores, burros, que África era uma porcaria. Precisa saber que a inteligência que ele tem naturalmente é dele, da pele dele, do sangue dele. Não é sorte a inteligência das pessoas negras,

As ações afirmativas precisam ser levadas a sério. Quando tivemos as ações sociais quem veio primeiro foram os brancos pobres. E quando tivemos as cotas raciais, teve pessoas brancas se passando por negras. Precisa ter fiscalização. Aqui no ITA, 20% deveriam ser negros. Vem aqui no ITA e veja quantos negros têm. No primeiro ano, teve um fraudulento que foi expulso e colocaram um branco no lugar. As cotas e ações afirmativas precisam ser fiscalizadas para que o negro tenha chance.

Pensando a partir do campo ciência e da contribuição que pessoas negras deram para o conhecimento humano, qual é o seu sonho ou projeto para mulheres negras cientistas?

O Prêmio Nobel. Ter 20% de professoras negras nas universidades, dando aula em todos os níveis de ensino. Eu nunca tive uma professora negra na minha vida. Se a negada ver uma professora negra no ensino fundamental, no médio, se isso vai aumentando e vendo mais pessoas negras, a criança vai ver que também pode ser igual a ela.

Eu quero que ações afirmativas permita que mulheres negras ocupem cargos de educação e ensino e traga mais meninas negras para serem cientistas, astronautas, presidentes, vereadores, prefeitas. Porque, além de tudo, só a escola vai dar oportunidade de chegar nesses lugares. Precisa ser pela educação. 

AUTOR
Foto Débora Britto
Débora Britto

Mulher negra e jornalista antirracista. Formada pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), também tem formação em Direitos Humanos pelo Instituto de Direitos Humanos da Catalunha. Trabalhou no Centro de Cultura Luiz Freire - ONG de defesa dos direitos humanos - e é integrante do Terral Coletivo de Comunicação Popular, grupo que atua na formação de comunicadoras/es populares e na defesa do Direito à Comunicação.