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Por que EAD não se resume a professor e alunos conectados à internet

Marco Zero Conteúdo / 02/10/2020

Professora Alice diz que desigualdade social ficou ainda mais evidente com as aulas online.

Cobertura especial sobre a educação nas cidades do Interior de Pernambuco em tempos de pandemia. Produzida por alunos do projeto de extensão Reportagens Especiais do curso de Comunicação Social do campus Caruaru (UFPE). Parceria da Marco Zero Conteúdo com o Observatório da Vida Agreste (OVA).

Cladisson Rafael e Maria Souza

Dificuldades de concentração, crises de ansiedade, desistências, malabarismos para manter estudantes motivadas. Alunas e professoras do ensino fundamental do interior de Pernambuco relatam que o ensino à distância, modalidade que é a menina do olhos do governo federal na educação e terminou sendo imposta ao cotidiano nacional por conta da pandemia, guarda questões que precisam ser extensamente debatidas. Educação à distância (EAD), como a pandemia mostra, não se resume a aluno ouvindo professor através da internet.

Para Alice Correia, 25 anos, professora há cinco anos da Escola Instituto Presbiteriano de Heliópolis, em Garanhuns, cidade do Agreste pernambucano a 230 quilômetros de Recife, o principal desafio é manter os alunos interessados nas aulas online. “Além disso, a falta de estímulos pelos familiares para os estudos gera uma crescente desistência dos alunos pelas aulas”, conta. Alice ainda aponta outra questão: a desigualdade social. “O que sempre existiu, em meio à pandemia, ficou mais evidente. Muitos alunos começaram a passar por apertos financeiros e começaram a trabalhar e outros nem tiveram a chance de tentar participar da modalidade à distância, por não terem acesso”, comenta.

Miriã Porto, 17, aluna de Alice, diz que sua maior dificuldade com as aulas remotas é a manutenção do foco. “Ficou extremamente difícil me concentrar nas aulas através da internet, principalmente por ser em casa, em isolamento com toda a família. Nem sempre tem silêncio, nem sempre está tudo bem. Isso dificulta bastante.” A estudante conta que vários colegas desistiram dos estudos pois estavam passando por dificuldades financeiras e precisaram trabalhar.

A 178 quilômetros de Miriã, está Isabely Costa, 18, estudante da Escola Estadual Ana Faustina, em Surubim. Para ela, a maior dificuldade é manter a disciplina nos estudos com as aulas online. “Sinto mais falta de recursos tecnológicos e o ambiente não é tão viável para a aprendizagem. Os fatores psicológicostambém atrapalham muito”.

Escola Estadual Ana Faustina, em Surubim: retorno presencial é questionado por professores estaduais.

Professor de Matemática em Surubim, Geraldo Lima, 24, está sentindo na pele as problemáticas do ensino à distância. Alguns dos seus alunos não possuem acesso aos recursos tecnológicos, mesmo os mais básicos. Para ele, faltam políticas públicas para tornar a educação mais inclusiva para alunos e professores. “A tecnologia avançou bastante, mas os cursos de licenciatura ainda deixam a desejar”.

Na cidade situada a 118 quilômetros de Recife, as aulas presenciais das escolas estaduais foram paralisadas dia 18 de março. De acordo com Edjane Ribeiro, da Gerência Regional de Educação Vale do Capibaribe, 1.871 alunos estão regularmente matriculados nas cinco escolas estaduais do município. Até o momento, não há dados exatos sobre a evasão de alunos que eram regularmente matriculados no ensino presencial e migraram para o ensino remoto devido à pandemia. “Isso porque alguns estudantes podem não estar acessando os conteúdos todos os dias, mas, caso ele acesse um dia, oficialmente não será evasão”, explica.

Ester, aluna da rede privada: horário integral antes da pandemia foi mantido mesmo com aulas online. Crédito: Arquivo Pessoal

Adaptação na rede privada

Enquanto a rede pública de ensino luta para que estudantes tenham acesso à educação remota de qualidade, o ensino na rede privada também passa por um processo de adaptação. A rotina de Ester Falcão, 17, estudante do terceiro ano do ensino médio de uma escola privada em Caruaru, é um exemplo.

Desde o início do isolamento social, ela está no processo de adaptação para aprender de forma online. A escola na qual estuda dispõe de salas de aula virtuais e encontros por videoconferência com os professores nos turnos da manhã e da tarde.

Os horários são diferentes de acordo com os dias da semana. Na segunda-feira, ela tem ensino integral remoto que começa às 7h15 e termina às 18h10. No restante da semana são semi-integrais. “Exceto a segunda-feira, consigo lidar bem e ter uma rotina de estudos”.

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