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Em uma postagem do instagram que ultrapassa 130 mil visualizações, Jaqueline Patrícia, faz um apelo por uma vaga na UTI para a filha recém-nascida, com apenas um mês de vida, que está há dois dias internada na UPA da Caxangá com bronquiolite. Na legenda a mulher reforça o apelo à governadora do estado, “então peço a senhora, Governadora Raquel Lyra, que cuide das nossas crianças que estão agonizando amontoadas dentro das emergências dos hospitais”.
O caso de Jaqueline Patrícia não é isolado nem uma exceção.
Quem tem acompanhado os noticiários do estado tem visto os constantes casos de crianças e bebês em fila de espera por uma vaga nas UTIs pediátricas e neonatais, a maioria devido a complicações por doenças respiratórias. Segundo a Secretaria Estadual de Saúde de Pernambuco (SES-PE), nas 12 Gerências Regionais de Saúde, de janeiro até o último dia 17 foram solicitados 2.190 leito. Entre elas, o maior número foi solicitado pela I Regional de Saúde, na Região Metropolitana do Recife (RMR).
No dia 15 de maio, o estado bateu o recorde de números diários na fila, com 144 solicitações. Hoje, de acordo com a SES, 97 crianças com Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG) estão à espera de leitos na fila das UTIs, sendo 73 que aguardam vagas de UTI Pediátrica e 24 para UTI Neonatal.
Nesse cenário, o Sindicato dos Enfermeiros de Pernambuco (Seepe), tem recebido um número significativo de denúncias sobre as condições de trabalho dentro dos hospitais. Uma das unidades mais afetadas é o Hospital Barão de Lucena, localizado no bairro da Iputinga, zona oeste do Recife. As principais queixas são de escassez de materiais adequados, falta de leitos e sobrecarga no sistema.
“Não tem vaga de enfermaria, não tem vaga de UTI, que também é um dos grandes problemas. E aí a emergência fica sobrecarregada, porque esses pacientes ficam na emergência aguardando o leito”, afirma a presidente do Sindicato dos enfermeiros de Pernambuco, Ludmila Outtes.
Com isso, as denúncias têm sido levadas aos órgãos de instâncias maiores. “A gente sempre faz as denúncias ao Ministério Público e à Secretaria de Saúde. A gente teve uma reunião no último dia 16 e levamos, de uma maneira geral, as superlotações dos hospitais. O que eles dizem é que estão estudando e vendo como podem ajudar a resolver essa situação, mas nada de concreto”, completa. O MPPE não informou os dados relativos à quantidade de denúncias e solicitações para vagas de UTI pediátricas e neonatais, mas detalhou sua atuação em mais essa crise na saúde pernambucana.
“…a audiência da sexta-feira (17) foi a terceira feita pelo MPPE neste mês (ou seja, uma por semana) sobre a temática dos leitos de UTI pediátrica.
Nessa audiência, os representantes da Secretaria Estadual de Saúde informaram que 10 novos leitos estavam previstos para serem abertos em Goiana. Também foi proposta a abertura de outros 10 leitos de UTI pediátrica no Hospital do Tricentenário, em Olinda.
Com relação à possibilidade de abertura de 10 leitos adicionais no Hospital Barão de Lucena, no Recife, a Secretaria de Saúde informou que o principal empecilho é falta de pediatras.
Para suplantar essa dificuldade, o Governo do Estado encaminhou projeto de lei para autorizar o aumento da gratificação do plantão extra, a fim de aproximar o valor ao que é pago na rede privada. A perspectiva é de que a lei seja apreciada pelos deputados estaduais ainda nesta semana e, uma vez aprovada, viabilize a contratação desses médicos e abertura dos 10 leitos adicionais, totalizando 30 a mais.
Por fim, a última alternativa apontada na audiência foi a conversão de 10 leitos de UTI adulto para UTI pediátrica no Hospital Brites de Albuquerque, em Olinda.
Reforçamos que as Promotorias de Justiça de Defesa da Saúde da Capital fazem o monitoramento diário da lista de UTI do Sistema Único de Saúde (SUS), não da rede privada”
A SES informou por meio de nota que “vem trabalhando na abertura de novos leitos assistenciais, principalmente os de terapia intensiva, voltados para o acompanhamento de casos da Síndrome Respiratória Aguda Grave. Apenas neste ano, 158 leitos foram colocados em funcionamento com esta finalidade. Também serão abertos novos 10 leitos em Goiana e outros 30 serão abertos nas próximas semanas”.
Mas, essa conta não fecha. Se abertos hoje, os novos leitos atenderiam pouco mais de 40% da demanda em espera. Deixando quase 60 crianças aguardando por uma vaga.
Sobre a falta de materiais, a secretaria afirmou que “que existem processos de aquisição em curso pelo Hospital Barão de Lucena (HBL), incluindo adesões e dispensas emergenciais. A unidade vem concentrando os esforços para normalização dos estoques de insumos, medicamentos e materiais diversos, e segue prestando assistência à população por meio de suas equipes multidisciplinares”.
Para solucionar a superlotação do Hospital Barão de Lucena, a SES informa “que estuda e avalia a possibilidade (do atendimento via regulação), sempre buscando a melhor estratégia e viabilidade técnica para assistência aos usuários dos serviços”. Ou seja, se efetivada, só vão dar entrada pacientes encaminhados, previamente atendidos pelas Unidades de Pronto Atendimento (UPAs) e policlínicas.
No entanto, para a presidente do Seepe a mudança não seria suficiente. “Só muda o cenário. Em vez de superlotar a emergência do hospital, vai superlotar as UPAs e policlínicas. Mas o problema permanece, porque o que precisa acontecer é o aumento de leitos. Enquanto não aumentarem os leitos de UTI e enfermaria, as emergências vão continuar lotadas, sejam elas de hospital, UPAs ou policlínica”, analisa Ludmila.
O nefrologista pediátrico do Hospital da Restauração e professor da Universidade Católica de Pernambuco (Unicap), Fernando Cabral, lida com o aumento de casos de crianças que precisam de seu acompanhamento a partir de complicações causadas por síndrome respiratória aguda grave (SRAG).
Mesmo não estando diretamente na emergência, pois tem uma atuação terciária, ou seja, é acionado quando a criança está na UTI e precisa de diálise ou algum procedimento ligado à nefrologia. O médico tem acompanhado o aumento de casos respiratórios graves. “No último ano, vi crianças com quadro de pneumonia aguda comunitária de forma muito grave”, afirma.
“A gente teve um período recente muito ruim na nossa história que foi o comprometimento das campanhas vacinais, inclusive patrocinado por um organismo federal que negava a realidade, na época do governo Bolsonaro, e isso contribuiu de forma assustadora. Penso que isso é um fator que faz com que, hoje, a gente tenha um índice de quadros respiratórios aberrantes”, completa.
Segundo a Sociedade Brasileira de Nefrologia, o médico nefrologista é o especialista que se dedica ao diagnóstico e tratamento clínico das doenças do sistema urinário, principalmente relacionadas ao rim.
Jornalista formada pelo Centro Universitário Aeso Barros Melo – UNIAESO. Contato: jeniffer@marcozero.org.