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Em artigo publicado simultaneamente no Marco Zero e no jornal carioca ‘O Dia’, o jornalista e militante do PSOL, Cid Benjamim, defende a formação de uma frente de esquerda independente do governo Dilma e de oposição ao projeto neoliberal, hegemônico em seu interior, no entanto aberta a petistas e governistas descontentes.
Essa frente, no entender de Cid, “não pode se confundir com o movimento em torno da chamada Frente Brasil, que mais parece uma tentativa de socorrer o governo (…) A necessária denúncia do golpismo da extrema-direita não pode levar ao imobilismo da esquerda diante do quadro atual. Seria um erro imperdoável.
Cid Benjamim e autor do livro ‘Gracias a La vida – memórias de um militante’, onde conta histórias da clandestinidade e da luta armada. Ele foi militante do MR-8 e participou do sequestro do embaixador americano Charles Elbrick em 1969. A ação, considerada o maior golpe contra a ditadura militar, resultou na libertação de 15 presos políticos e na leitura de um manifesto em rede nacional assinado pelo MR-8 e ALN, organizações que planejaram e executaram o sequestro.
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Cid Benjamin*
O segundo governo Dilma Roussef envelheceu precocemente. Descumpriu promessas de campanha e aplica um duro ajuste fiscal, que retira direitos dos trabalhadores e faz cortes profundos nos investimentos sociais. Joga nas costas dos assalariados os sacrifícios para a saída da crise.
Esperar que o governo modifique seus rumos como resultado de disputas na sua base é ilusão. Só a pressão popular conseguirá reverter o quadro. A manifestação da Quinta-Feira Vermelha, em São Paulo no último dia 25, com mais de 30 mil pessoas, mostrou o caminho: a ocupação das ruas, exigindo que a crise seja enfrentada com medidas que não penalizem ainda mais os pobres.
Essas medidas são conhecidas: imediata redução dos juros; reforma tributária que corrija as gritantes injustiças; aumento de impostos para bancos e taxação dos movimentos do capital financeiro; criação do imposto sobre grandes fortunas; e fim da isenção fiscal para exportações de commodities e da isenção tributária na distribuição de lucros e dividendos, que, na prática, isenta os grandes executivos do pagamento de impostos.
É necessário, ainda, proibir o financiamento de campanhas e candidatos por empresas e barrar a pauta conservadora imposta ao Congresso, seja por Eduardo Cunha e Renan Calheiros, seja pelo próprio governo.
Para tal, é preciso ampla unidade, com a conformação de uma frente que seja voltada para a sociedade, mesmo que construa uma representação política com partidos, setores e personalidades de esquerda.
Essa frente deve ter como objetivo estimular um novo ascenso de massas, condição para alterar a correlação de forças, e não pode ser vista como instrumento para pressionar ou disputar os rumos do governo Dilma.
Ela deve ser independente do governo Dilma e de oposição ao projeto neoliberal, hegemônico em seu interior, mas aberta a petistas e governistas descontentes.
E não pode se confundir com o movimento em torno da chamada Frente Brasil, que mais parece uma tentativa de socorrer o governo.
Não pode, também, ter qualquer conotação eleitoral, seja para 2016, seja para 2018.
A necessária denúncia do golpismo da extrema-direita não pode levar ao imobilismo da esquerda diante do quadro atual. Seria um erro imperdoável.
Que os ricos paguem a conta da crise.
*jornalista
É um coletivo de jornalismo investigativo que aposta em matérias aprofundadas, independentes e de interesse público.