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Preso injustamente, recifense André Arcanjo é inocentado pela Justiça

Raíssa Ebrahim / 03/04/2023
André Arcanjo: homem negro, de cabelos curtos despenteados, barba rala e cavanhaque, usa camiseta de cinza azulada, com óculos escuro pendurado na gola da camisa. Foto ao ar livre, com fachadas de prédios históricos do centro do Recife, com destaque para cúpula do Tribunal de Justilça.

Crédito: Reprodução Instagram @liberdadepara andre

“Meu nome é André Arcanjo, eu sou negro e sou inocente”. Preso em 2021 por um crime de latrocínio que não cometeu, o recifense André Arcanjo, 42 anos, morador do bairro de Areias, na zona oeste, foi inocentado pela Justiça. A sentença concluiu não haver provas contra o auxiliar de farmácia.

Ele passou exatos seis meses, 24 dias, 17 horas e 43 minutos atrás das grades, no Centro de Observação Criminológica e Triagem Prof. Everardo Luna (Cotel), apontado como participante da morte de um vizinho de quem era amigo. Respondendo fora do presídio desde junho do ano passado, André conseguiu provar sua inocência. A sentença saiu no dia 31 de março.

Familiares, amigos, companheiros de igreja e colegas de trabalho negaram as acusações desde o início e montaram uma campanha na internet para ajudar a provar a inocência de André.

A Marco Zero acompanhou o caso desde o início. Numa entrevista presencial, quando ele passou a responder em liberdade, André questionou “Por que tanta injustiça? Por que eu sou negro e pobre?”. “Eu só quero que a verdade prevaleça. Porque eu perdi muita coisa. Ganhei muitos amigos que eu nem imaginava e também perdi. Perdi tempo, perdi um pedaço muito valioso na minha vida”, lamentou na época.

Na internet neste último fim de semana, André agradeceu os apoios que recebeu e enfatizou: “Não termina aqui porque há muita luta e preconceito a ser vencido”.

Relembre o caso

André frequentava a casa da vítima, Edvaldo Oliveira Carvalho, conhecido na comunidade como Valdo, por ter uma relação de amizade com esse senhor de 71 anos e ajudá-lo nas tarefas de cuidado e higiene de sua esposa, que sofre de Mal de Alzheimer. Por ser auxiliar de farmácia e trabalhar em unidades de saúde, André ajudava até mesmo a dar banho na agora viúva.

O crime aconteceu em julho de 2021. No dia, André foi convidado por Valdo para tomar um café, um convite até então rotineiro. Porém, ao entrar, foi surpreendido por dois homens que saíram de um carro HB20 estacionado próximo e, já dentro do imóvel, anunciaram o assalto. André, segundo depoimento, foi rendido e isolado num cômodo da casa junto com outros dois vizinhos que estavam prestando serviço na residência.

Com seus conhecimentos na área de saúde, André conta que pediu socorro e chegou a tentar reanimar Valdo quando os bandidos foram embora. Mas, sem sucesso, o idoso faleceu no local, onde André permaneceu até a chegada da equipe do Instituto de Medicina Legal (IML).

Depois, para cooperar com a polícia, foi de livre e espontânea vontade à delegacia, sem advogados, para prestar depoimento e até forneceu o próprio celular na ideia de contribuir com as investigações.

Três meses depois do ocorrido, o susto. André foi preso pela Polícia Civil de Pernambuco como um dos acusados pela morte do amigo e vizinho Valdo. O inquérito ficou a cargo do delegado Vitor Meira Toscano Pereira, da 4ª Delegacia de Polícia de Homicídios do Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP).

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AUTOR
Foto Raíssa Ebrahim
Raíssa Ebrahim

Vencedora do Prêmio Cristina Tavares com a cobertura do vazamento do petróleo, é jornalista profissional há 12 anos, com foco nos temas de economia, direitos humanos e questões socioambientais. Formada pela UFPE, foi trainee no Estadão, repórter no Jornal do Commercio e editora do PorAqui (startup de jornalismo hiperlocal do Porto Digital). Também foi fellowship da Thomson Reuters Foundation e bolsista do Instituto ClimaInfo. Já colaborou com Agência Pública, Le Monde Diplomatique Brasil, Gênero e Número e Trovão Mídia (podcast). Vamos conversar? raissa.ebrahim@gmail.com