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Crédito: Arquimedes Santos / PMO
A poucos dias da abertura oficial do Carnaval de Olinda (sexta, 1º) e depois de cinco licitações vazias, a prefeitura não conseguiu fechar a cota de patrocínio master da festa, que, desde o início dos anos 2000, vinha sendo assinada pela Ambev. Enquanto isso, a Arosuco, subsidiária da gigante de cervejas, está aportando cerca de R$ 16,1 milhões no Carnaval de São Paulo este ano, o maior recurso privado que a cidade já teve.
Além do enxugamento dos polos e da adaptação da programação em Olinda, o poder municipal deu, nesta segunda (25), sua última cartada lançando uma licitação, do tipo pregão presencial, em 17 cotas e sem a histórica exclusividade de comercialização de bebidas. O resultado será conhecido somente na quinta (28) pela manhã, aos 45 do segundo tempo. Na prática, significa que os ambulantes ficarão livres para comercializar qualquer marca, e o folião terá, como não acontecia há quase duas décadas, o direito de consumir a marca que quiser.
Até o momento, a Prefeitura de Olinda conseguiu verba do Governo do Estado, da Uber, da Pitú e do Patteo Olinda Shopping, mas a soma é somente a metade do valor esperado para a festa deste ano, de R$ 6,5 milhões, segundo informações da administração municipal. O que mais pesa nessa conta é a parte cultural: cachê e logística de artistas e estrutura de palco e som. O dinheiro não chegando, o poder executivo terá que abrir os cofres do município para bancar o Carnaval 2019.
“Algumas cervejarias declararam que estão sem dinheiro e outras disseram que não tinham condições de produzir suficientemente para o Carnaval”, justifica o secretário de Patrimônio, Cultura e Turismo da cidade, João Luiz. Questionado sobre o direcionamento de verba para o Sudeste, ele comenta que apenas a Ambev pode responder sobre suas próprias estratégias, mas reconhece que é uma forte concorrência mercadológica.
Nos bastidores, acredita-se que a questão da fiscalização e da visibilidade também dificultaram a atração das cervejarias. Comenta-se que, por ter um forte esquema de distribuição, a Ambev já é líder de venda no Carnaval de Olinda, independentemente da exclusividade adquirida via patrocínio. Procurada pela Marco Zero Conteúdo, a empresa disse que não iria comentar o assunto.
A abertura das propostas será feita na quinta (28), às 9h, na sede da Central de Licitações, no Varadouro. Os valores estão distribuídos em 17 cotas da seguinte forma: três cotas de R$ 1 milhão para patrocinador, cinco cotas de R$ 200 mil para Apoio I e nove cotas de R$ 100 mil para Apoio II, totalizando quase R$ 5 milhões.
Por conta da falta de interesse do patrocinador master, a Prefeitura de Olinda precisou fazer uma série de mudanças. Por exemplo, não haverá a montagem do Palco Erasto Vasconcelos, no Fortim do Queijo. As atrações foram remanejadas para o palco da Praça do Carmo, onde acontecerá também a abertura da festa. O polo do samba, no Alto da Sé, contará este ano apenas com os cortejos, e não mais com as atrações culturais em cima de palco. Em 2018, o Carnaval olindense contou com 12 palcos, este ano são oito, uma redução já anunciada anteriormente.
“Na praça 12 de Março, perto da sorveteria Bacana, tínhamos, em média, uma frequência de 100 pessoas por noite. A praça agora será um binário de controle de acesso a trânsito”, detalha o secretário sobre outras medidas de enxugamento, pontuando também que as pesquisas quantitativas e qualitativas realizadas em 2017 e 2018 apontaram que o folião prefere a festa de rua de dia do que dos polos noturnos.
“O Carnaval vai acontecer de todo jeito. Se vierem os patrocínios, nós diminuiremos o investimento de recursos do município”, afirma o gestor da pasta de Patrimônio, Cultura e Turismo, garantindo que as agremiações tradicionais não serão prejudicadas e haverá também as orquestras itinerantes durante o dia, bancadas pela prefeitura. Segundo os cálculos do secretário, o retorno do investimento deve vir em no máximo seis meses por conta do alto consumo que a festa gera e da tributação antecipada de bebidas.
A respeito do tempo recorde para sinalização de publicidade, João Luiz detalha que, no processo de concorrência, os espaços de ocupação já estão delimitados. Os patrocinadores poderão levar materiais prontos, como balões, e aplicar adesivos e materiais gráficos em alguns lugares.
Vencedora do Prêmio Cristina Tavares com a cobertura do vazamento do petróleo, é jornalista profissional há 12 anos, com foco nos temas de economia, direitos humanos e questões socioambientais. Formada pela UFPE, foi trainee no Estadão, repórter no Jornal do Commercio e editora do PorAqui (startup de jornalismo hiperlocal do Porto Digital). Também foi fellowship da Thomson Reuters Foundation e bolsista do Instituto ClimaInfo. Já colaborou com Agência Pública, Le Monde Diplomatique Brasil, Gênero e Número e Trovão Mídia (podcast). Vamos conversar? raissa.ebrahim@gmail.com