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Crédito: Prefeitura do Recife
Era para ser um dia de lazer e reconexão com o Centro da cidade. Pelo menos era isso que prometia a propaganda do projeto “Viva Guararapes”, apresentado pela Prefeitura do Recife desde o início do ano e que vem realizando atividades de lazer e cultura na Avenida Guararapes, localizada no bairro de Santo Antônio. Porém, um relato de racismo ocorrido durante o evento no último domingo, 7 de agosto, movimentou as redes sociais e trouxe à tona a seguinte questão: “quem pode ocupar o Centro?”.
A nota de repúdio, publicada no perfil do restaurante Vegostices, é contundente e narra com detalhes a abordagem policial violenta sofrida por Nathalia Salusi, sócia do estabelecimento, e seu companheiro conhecido como Rasta. “Infelizmente seguimos mais um dia sendo pretos desrespeitados nesta sociedade, independente de o quanto sejamos honestos, trabalhadores e graduados”, afirma um trecho da nota que enfatiza o racismo presente na abordagem dos policiais.
De acordo com Nathalia, ela e Rasta estavam dançando no polo musical do Viva Guararapes, de forma pacífica, natural e sem nenhuma atitude suspeita, quando os policiais chegaram e “puxaram a camisa do Rasta pra cima do nada”. “O policial então com a arma em uma mão veio e deu um gancho entre as pernas do Rasta suspendendo ele do chão”, afirmou a empreendedora na nota divulgada no Instagram. Nathalia relatou ainda que ficou paralisada e em choque com o que estava acontecendo e temeu pela sua vida e de seu companheiro: “só pensava se a arma iria ser disparada ‘acidentalmente’ contra nós”.
A reportagem procurou Nathalia Salusi para conversar sobre o ocorrido. Abalada e com medo de represálias, a empreendedora preferiu não se pronunciar, mas afirmou que representantes da Prefeitura do Recife entraram em contato com o casal a fim de marcar uma reunião.
Na legenda da publicação do Instagram, Nathalia afirmou que “o Viva Guararapes não é para todos não!”. Uma declaração que foi enfatizada e defendida por outras pessoas que comentaram na postagem, uma delas reitera que: “não é para a gente esse evento, lembrem-se”. O comentário foi feito por uma pessoa negra.
Outra denúncia contra o evento foi realizada no dia 22 de maio, data em que ocorreu a segunda edição do Viva Guararapes. Em uma postagem no perfil do Instagram do Seborreia Recife, que reúne publicações de livreiros do sebo responsáveis pela troca e venda de livros, um vendedor acusa funcionários da prefeitura de retirar de forma forçada o seu ponto de venda na Avenida Guararapes.
“Não cabe todo mundo, a verdade é essa. Não cabe todo mundo e a gente ‘tá’ aqui para mostrar que é a prefeitura que tem que rever, os livreiros não precisam sair daqui para deixar essa festa bonita não”, afirma o vendedor no vídeo publicado. Na gravação é possível ver funcionários da PCR cercando o livreiro, que está sentado em uma calçada da Avenida Guararapes.
Assim como a nota de repúdio publicada pela Vegostices, a postagem do livreiro recebeu diversos comentários que questionam o direito de ocupar o Centro e participar do evento Viva Guararapes.
“A Prefeitura do Recife e seus projetos higienistas! Como pensar em algo na Guararapes e não incluir os livreiros tradicionais e novos como nós? Não aproveitar as marquises? A ideia é essa, só fazer a coisa ficar ‘bonitinha’ uma vez por mês e pronto, nada pensado com profundidade nem a longo prazo! São cinquenta anos já de história nessas marquises, de uma gente sofrida levando livros para vender todo dia e domingos inclusive”, denuncia um dos comentários.
Procuramos a Prefeitura do Recife para saber o posicionamento da gestão sobre os ocorridos. Por nota, a PCR se pronunciou apenas sobre o caso do último domingo, 7 de agosto, mas se prontificou a apurar os demais fatos e tomar providências, que não ficaram evidentes quais seriam.
Leia a nota enviada pela prefeitura à Marco Zero:
“A Prefeitura do Recife repudia o crime de racismo e qualquer tipo de preconceito e violência, tendo sua atuação pautada pelo respeito e promoção de ações voltadas à pluralidade, igualdade e diversidade em todas as dimensões e políticas públicas. O evento do Viva a Guararapes – que vem ocorrendo mensalmente na Avenida Guararapes, no bairro de Santo Antônio, e sendo replicado em outros bairros da cidade – é movido pelo conceito de levar a população a reocupar o centro do Recife e descobrir a beleza e os atrativos, oferecendo uma série de atrações culturais e de lazer, de forma gratuita. O objetivo é mobilizar as famílias e as pessoas para um domingo especial, ao ar livre, com programação para todas as idades. Por fim, a Prefeitura informa que vai acompanhar a apuração dos fatos e cobrar as devidas providências”.
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Jornalista e mestra em Comunicação pela Universidade Federal de Pernambuco.