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X Encontro Nacional da ASA promove debate sobre justiça socioambiental no semiárido

Giovanna Carneiro / 18/11/2024
A imagem mostra um evento em um local coberto com um palco ao fundo exibindo X Encontro ASA em uma tela colorida. O público está sentado em cadeiras brancas, e algumas pessoas usam bonés e camisetas com mensagens. Há bandeiras roxas e decoração com plantas tropicais ao redor do palco.

Crédito: Giovanna Carneiro / MZ Conteúdo

As cidades de Piranhas, em Alagoas, e Canindé de São Francisco, em Sergipe, berços do “Velho Chico”, acolhem o X Encontro Nacional da Articulação Semiárido Brasileiro (EnconASA). O evento, que acontece de 18 a 22 de novembro, celebra os 25 anos da Articulação Semiárido Brasileiro (ASA) com o tema “Semiárido Vivo: por justiça socioambiental e democracia participativa”. A Marco Zero acompanhará o evento a convite da ASA.

Pela primeira vez realizado em dois territórios simultaneamente, o EnconASA marca um momento importante para a região do semiárido, como destaca Maria José Santos, coordenadora executiva da ASA em Sergipe: “O EnconASA chega no momento de comemoração pela volta de um governo democrata que compreende a importância de projetos sociais para o Brasil, especialmente para o nosso semiárido”.

O evento ocorre oito anos após a última edição, realizada em Mossoró, no Rio Grande do Norte, em 2016. Nesse intervalo, os agricultores do semiárido enfrentaram grandes desafios como o desmonte de políticas públicas iniciado no governo de Michel Temer, crises prolongadas de estiagem, o impacto da pandemia de Covid-19 e a expansão de megaprojetos predatórios.

Evento deve reunir mais de 700 pessoas

Crédito: ASA

A edição deste ano reunirá cerca de 700 participantes, sendo 500 deles delegados eleitos de nove estados do Nordeste e de Minas Gerais. Destes, 70% são agricultores familiares, que se somam a acadêmicos, técnicos, gestores públicos e outros parceiros para debater políticas públicas e compartilhar experiências.

Entre os destaques do encontro está o lançamento de um programa de produção descentralizada de energia solar, além de propostas para saneamento rural e reúso de água. A ASA também divulgará durante o evento uma carta política que reflete as prioridades da rede, composta atualmente por mais de 3 mil organizações sociais.

Além das iniciativas positivas, o evento busca chamar atenção para as ameaças que comprometem o desenvolvimento sustentável do semiárido. “Temos, por exemplo, a chegada de empresas de energias renováveis com um modelo predatório. Outra ameaça é o avanço dos transgênicos e do uso descontrolado de agrotóxicos, que têm impactado a produção de alimentos orgânicos e colocado em risco a segurança alimentar das famílias”, alerta Mardônio Alves, coordenador executivo da ASA em Alagoas.

A expectativa é que o X EnconASA fortaleça o diálogo em torno da convivência sustentável com o semiárido, reafirmando a importância de políticas que promovam justiça socioambiental e o protagonismo dos povos que habitam a região. “Queremos celebrar e trocar saberes, mas também alertar para os desafios que ainda enfrentamos”, conclui Maria José.

Diversidade e inclusão no semiárido

A programação do X Encontro Nacional da Articulação Semiárido Brasileiro (EnconASA) teve início nesta segunda-feira (18), às 10h, com a realização de cinco plenárias autogestionadas que aconteceram simultaneamente no centro histórico de Piranhas. Os debates abordaram temas como mulheres, juventudes, pessoas idosas, comunicação e população LGBTQIAP+, destacando os desafios e perspectivas dessas populações no semiárido brasileiro.

Na tenda principal do encontro, a plenária sobre a presença feminina celebrou os dez anos da Campanha pela Divisão Justa do Trabalho Doméstico, promovida pela Rede Feminismo e Agroecologia do Nordeste. A iniciativa foi um marco na luta pela igualdade de gênero e no combate à violência doméstica, reforçando o papel das mulheres na construção de um semiárido mais justo e sustentável.

Já no Espaço Jurema de Saúde, a sabedoria dos agricultores idosos foi o tema central, reconhecendo sua importância no enfrentamento da desertificação e conservação da biodiversidade. Enquanto isso, no auditório Miguel Arcanjo, os jovens discutiram protagonismo e geração de renda, com destaque para iniciativas de resiliência climática e auto-organização lideradas por jovens agricultores e povos indígenas.

A comunicação também ganhou espaço de destaque no Terreiro de Inovações Camponesas, com uma plenária que refletiu sobre os desafios da desinformação e o papel da mídia popular na valorização do Semiárido. Paralelamente, a Tenda de Apoio recebeu a plenária “Povos LGBTQIAP+ do Semiárido”, que abordou as estratégias de resistência e demandas por políticas públicas inclusivas.

Ainda nesta segunda-feira, acontecerá a abertura oficial do evento com a reunião de todos os delegados para uma celebração mística inspirada no Rio São Francisco a fim de fortalecer a união dos povos do semiárido. O momento deve contar com a presença do governador de Alagoas, Paulo Dantas, e da secretária de Diálogos Sociais da Presidência da República, Kenarik Boujikian.

A programação do primeiro dia encerra com apresentações culturais de Jorge de Zion, Agamenon e Otávio Augusto. Além da abertura da Feira de Saberes e Sabores e o Terreiro de Inovações Camponesas, que reunirá diversos produtos agroecológicos da região do semiárido. A programação completa do EconASA está disponível no site da ASA. O encontro tem o apoio do Ministério do Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate à Fome (MDS), da Prefeitura Municipal de Piranhas, da Cáritas Francesa e patrocínio da Fundação Banco do Brasil.

AUTOR
Foto Giovanna Carneiro
Giovanna Carneiro

Jornalista e mestra em Comunicação pela Universidade Federal de Pernambuco.