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Era golpe: após matéria da Marco Zero, empresário é preso em São Paulo

Mariama Correia / 04/02/2019

Foi preso nesta segunda-feira (4), em São Paulo, Willams da Silva Hardman, sócio da Midas Incorporadora, denunciada pela Marco Zero Conteúdo na semana passada por suspeita de fraude. Em Pernambuco, a empresa anunciou um suposto processo seletivo com 600 vagas para construção de um shopping, em Miami, nos Estados Unidos. Os candidatos precisavam pagar uma taxa de R$ 180 para cobrir exames. O valor seria reembolsado ao término do recrutamento, caso o participante não fosse selecionado.

A reportagem revelou que Hardman, que é sócio da Midas Incorporadora, estava foragido da Justiça do Rio Grande do Norte desde 2017, quando teve sua prisão preventiva decretada por crime de estelionato. Ele e mais sete funcionários da empresa foram detidos pela Polícia Militar de São Paulo enquanto realizavam um recrutamento de trabalhadores no bairro de Granja Julieta, no distrito de Santo Amaro. De acordo com informações do portal Suzano Hoje, 230 candidatos estavam aguardando a realização do exame psicossocial, pelo qual seria cobrada a tal taxa de R$ 180, no momento das prisões. Com Willams Hardman, a PM apreendeu R$ 15.701 em espécie, além de documentos. Os detidos foram conduzidos à 11º Delegacia de Polícia de São Paulo.

A PM de São Paulo foi acionada por um  dos trabalhadores que participou das seleções da Midas Incorporadora no município de Suzano, em São Paulo. Por lá, o recrutamento foi realizado entre os dias 7 e 11 de janeiro, no prédio da prefeitura local. Até o momento, entretanto nenhum dos moradores selecionados em Suzano recebeu o reembolso da taxa cobrada durante a seleção.

No Recife, a Midas Incorporadora atraiu centenas de desempregados oferecendo vagas de emprego no exterior pelo Whatsapp. A empresa prometia cobrir todas as despesas, incluindo passagens, hospedagens, alimentação, vistos e ainda cursos de idiomas. As vagas para atividades da construção civil, como pedreiro e pintor, tinham salários iniciais de R$ 6 mil pagos em dólar. No entanto, não se fazia referência alguma a vistos nem à necessidade de passaportes.

Empresa de Willams Hardman cobrava taxa para trabalhadores que participavam de seleção

Empresa de Willams Hardman cobrava taxa para trabalhadores que participavam de seleção

A Midas realizou as primeiras entrevistas com os trabalhadores pernambucanos nos dias 29 e 30 do mês passado. Os exames pagos estavam marcados para o dia 31. No dia 30, a reportagem da Marco Zero Conteúdo foi até o local dos testes e tentou, sem sucesso, falar com representantes da incorporadora. No dia seguinte, quinta-feira (31), a empresa anunciou a mudança do local das seleções, realizadas inicialmente no bairro do Espinheiro, para um hotel em Boa Viagem.

Na sexta-feira (1), os participantes receberam, por Whatsapp, um comunicado da empresa informando a suspensão do processo seletivo na capital pernambucana. O comunicado, contudo, não fala sobre o reembolso das taxas pagas pelos trabalhadores. Pelo menos 150 pessoas teriam pago R$ 180 à Midas, em Pernambuco. Em São Paulo, o golpe teria prejudicado outras 1,4 mil pessoas. Além do Recife e de Suzano, a Midas Incorporadora teria realizado seleções em Fortaleza, no Ceará. Recrutamentos na Bahia também estavam programados.

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Mariama Correia

Jornalista formada pela Universidade Católica de Pernambuco (Unicap) e pós-graduada pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). Foi repórter de Economia do jornal Folha de Pernambuco e assinou matérias no The Intercept Brasil, na Agência Pública, em publicações da Editora Abril e em outros veículos. Contribuiu com o projeto de Fact-Checking "Truco nos Estados" durante as eleições de 2018. É pesquisadora Nordeste do Atlas da Notícia, uma iniciativa de mapeamento do jornalismo no Brasil. Tem curso de Jornalismo de Dados pela Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji) e de Mídias Digitais, na Kings (UK).