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Agamenon Magalhães suspende cirurgias eletivas por falta de repasse de recursos

Inês Campelo / 05/10/2017

Desde segunda-feira, 2 de outubro, as cirurgias eletivas do Hospital Agamenon Magalhães, unidade de saúde referência de alta complexidade em cardiologia, otorrino, clínica e maternidade de alto risco, estão suspensas. Segundo a Secretaria Estadual de Saúde (SES), a paralização do serviço ocorreu por falta pontual de determinados insumos e o repasse de recursos para a unidade seria feito ainda essa semana, regularizando o funcionamento do hospital.

Apesar da gravidade da situação e dos impactos que a suspensão das cirurgias causam aos pacientes, o assunto vem sendo tratado de maneira informal e rotineira, tanto pelo HAM quanto pela própria Secretaria. A direção do hospital, por exemplo, sequer comunicou a paralização aos médicos oficialmente, através de algum documento. Segundo apurou a reportagem da Marco Zero – que visitou o hospital e ouviu médicos, enfermeiros e pacientes – tudo teria sido feito de “boca” ou através de grupos de Whatsapp.

“Na sexta-feira passada (29) fomos avisados de maneira informal, pelo WhatsApp, por nossas chefias diretas que todas as cirurgias eletivas tinham sido suspensas, sem previsão de volta dos agendamentos. A orientação que recebemos foi a de ligar para os pacientes que teriam suas cirurgias na semana de 2 a 6 de outubro e desmarcá-las. A orientação era que os mesmos aguardassem – sem prazo definido – os novos agendamentos”, explica um profissional do setor de Otorrino que preferiu não se identificar por medo de represálias.

Ainda segundo os médicos, muitos dos pacientes atendidos no HAM moram no interior do Estado. “Uma paciente que não conseguimos contato no sábado e que mora em Petrolina chegou aqui na segunda-feira para sua cirurgia. Em respeito à distância percorrida esse caso foi atendido e ela teve a sua cirurgia feita na tarde da terça-feira, mas todas as outras foram canceladas”.

A preocupação dos profissionais do HAM ouvidos pela Marco Zero é com o tempo. A fila de espera para procedimentos cirúrgicos pode chegar até a um ano. Nos casos de Estapedectomia, que é a implantação de prótese para restaurar audição, onde o HAM é a principal referência do estado, o procedimento pode ser realizado com cerca de um mês. Já para as Sinusectomias, cirurgias para portadores de sinusites avançadas, a fila de espera é bem longa, chegando a um ano para se conseguir uma vaga.

Na ginecologia, a situação não difere muito. “No sábado eu liguei para algumas pacientes para comunicar a suspensão das cirurgias. Quem precisa explicar a uma mulher que o procedimento que ela aguarda há meses não será realizado somos nós. E, para nós, os motivos dos cancelamentos não foram explicados”, desabafa um dos médicos que trabalha no setor.

Os impactos que os adiamentos, em cima da hora, de uma cirurgia causam ao paciente podem ser percebidos no depoimento de outro profissional entrevistado pela Marco Zero durante a visita ao Agamenon Magalhães: “Eu ouvi de uma paciente que ela precisou pagar do bolso com todo sacrifício o parecer cardiológico porque não tinha vaga e `agora a senhora me diz que a cirurgia vai ser desmarcada?`. Eu chorei junto com ela. Se para nós médicos é frustrante, para elas é um dano que não conseguimos dimensionar, é a saúde em jogo. As minhas pacientes não têm mais qualidade de vida, muitas delas convivem com sangramentos longos, com dores. Já tive paciente que perdeu o emprego pela quantidade de atestados apresentados no trabalho. E o que eu tenho pra dizer a elas nessas ligações? Nada. Porque nós não recebemos uma previsão de quando voltaremos a marcar cirurgias. Estamos às cegas”.

Segundo os médicos entrevistados, no Hospital Agamenon Magalhães são feitas cerca de 25 cirurgias de cabeça e pescoço por semana. Já na ginecologia são realizadas 20 cirurgias semanais. O setor de otorrino conta com 13 médicos e 6 médicos residentes, já a ginecologia e obstetrícia conta com 12 médicos e 14 médicos residentes.

Hospital Agamenon Magalhães

Agamenon Magalhães fachada__PQ

5 mil

pacientes/mês atendidos nas suas quatro emergências (Clínica, Cardiológica, Otorrinolaringologia e Maternidade de Alto Risco)

10 mil

consultas ambulatoriais/mês no ambulatório de especialidades.

400

leitos

É credenciado pelo Ministério da Saúde (MS) como Centro de Referência de Alta Complexidade em Cardiologia. Também é referência na maternidade de alto risco e credenciado pelo MS como de alta complexidade em saúde auditiva. O HAM faz parte da rede da SES sendo contratualizado pelos Ministérios da Saúde e Educação como hospital de ensino.

 

 Leia, na íntegra, a nota da Secretaria Estadual de Saúde:

 NOTA DE ESCLARECIMENTO//HAM

A Secretaria Estadual de Saúde (SES) informa que, devido à falta pontual de determinados insumos, alguns procedimentos não urgentes, considerados eletivos, foram reagendados no Hospital Agamenon Magalhães no início desta semana.

No entanto, a SES informa que já está realizando, nesta semana, o repasse para a unidade para, assim, regularizar o abastecimento do serviço. É importante esclarecer que todos os pacientes, que porventura tiveram o procedimento adiado, serão contactados pela unidade e terão suas cirurgias reagendadas.

O serviço está mantendo a programação dos procedimentos no Bloco Cirúrgico, com priorização para os casos mais graves e urgentes, onde a não realização da cirurgia poderia comprometer a saúde do paciente.

AUTOR
Foto Inês Campelo
Inês Campelo

Formada em Jornalismo pela Unicap. Apaixonada pela fotografia, campo que atua profissionalmente desde 1999. Atualmente é freelancer e editora de imagens do Marco Zero.