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(crédito: Antônio Cruz/Agência Brasil)
No primeiro dia da Campanha Nacional de Vacinação contra a Gripe, faltou vacina e informação em algumas unidades no Grande Recife. Foi preciso esperar na fila ou voltar para casa sem imunização. Mas a campanha segue até o dia 16 de abril. O que mais vem fazendo falta neste momento é a credibilidade das autoridades federais.
Muitos idosos, público-alvo desta primeira etapa, juntamente com profissionais de saúde, ainda estão em dúvida se devem ou não sair de casa para se vacinar. Afinal, a ordem é ficar de quarentena.
“As autoridades de saúde dizem uma coisa e depois dizem outra. O Ministério da Saúde agora tirou dos boletins os casos suspeitos de coronavírus, só publica os confirmados e os óbitos. E não temos teste. Para dizer que está tudo bem, você começa a manipular os dados. E aí qual a credibilidade dessa autoridade sanitária em dizer para os idosos que é para ir se vacinar?”, provoca Ana Brito, médica infectologista e pesquisadora da Fiocruz Pernambuco.
Ana frisa que, numa população cada vez mais idosa, a imunização é essencial. Depois dos 60 anos a resposta imune fica reduzida, é uma questão biológica. Mas ela é suficientemente efetiva para prevenir doenças graves para os mais velhos, como uma gripe.
A exceção é para extremos de idade, pessoas de 90, 100 anos que não podem se expor. “Mas essas questões individuais têm que ser tratadas como exceção, e não como regra”, pondera a médica, para quem não há outra forma de combater a pandemia, a não ser aumentando a participação do estado através de medidas de proteção coletiva.
Um casal de idosos leitor da Marco Zero relatou que, diante de tantas informações, já não sabia mais qual era a recomendação, se tomar ou não tomar a vacina. Mas Ana alerta que os idosos devem sim se vacinar, contrariando as várias correntes, críticas e informações falsas que estão circulando na internet.
Isso porque a imunização ajuda os profissionais de saúde na exclusão do diagnóstico para Covid-19, já que os sintomas são parecidos. Além disso, diminui as internações por H1N1 e outras gripes, o que ocuparia ainda mais leitos, e evita casos de “co-infecção”, o que poderia potencializar os perigos para quem é do grupo de risco.
O epidemiologista Djalma Agripino, do Núcleo de Saúde Pública e Desenvolvimento Social (Nusp) da UFPE, reforça: “A gripe é outra doença respiratória que pode acometer os mais velhos, então é importante estar protegido. Isso dá segurança contra duas infecções concomitantes”.
“Nunca me senti tão angustiada porque não temos um canal de credibilidade. Cada governador e prefeito está fazendo o que pode. A gente sabe como começa uma pandemia como essa, mas não sabemos como termina”, reforça Ana.
Para evitar que os mais velhos se dirijam a postos de saúde e se exponham à contaminação pelo coronavírus, prefeituras disponibilizaram locais alternativos como escolas, creches, clubes e shoppings.
São espaços que, naturalmente, não contam com câmara de refrigeração. Então as vacinas precisam ser respostas a todo momento, já que não é possível armazenar uma grande quantidade, explicou a assessoria de comunicação da Secretaria de Saúde do Recife.
Este primeiro dia gerou uma corrida às unidades de vacinação, mas a Prefeitura da Cidade do Recife (PCR) reforça que a campanha segue até o dia 16 de abril. A informação que circula no WhatsApp sobre uma ordem alfabética de atendimento é falsa.
Muitos recifenses pediram explicações no canal oficial da PCR no Instagram sobre a gestão não ter disponibilizado opções drive thru para a vacina, como fez, por exemplo, a Prefeitura de Olinda.
A comunicação da saúde da capital explicou à reportagem que cada município tem sua estratégia e que a do Recife, por ora, não inclui a opção. Porém, a equipe não forneceu mais detalhes.
Em Paulista, no Grande Recife, as 16 mil doses de vacina enviadas pelo Ministério da Saúde não foram suficientes e a campanha teve que ser suspensa. A prefeitura informou que irá aguardar mais envios para poder retomar a vacinação.
Idosos acamados ou com dificuldade de locomoção estão sendo vacinados em casa, segundo a lista já existente nas unidades de saúde por conta das campanhas anuais de vacinação. Quem não estiver na lista é preciso que as famílias se dirijam à unidade de saúde mais próxima para fazer a solicitação.
Vencedora do Prêmio Cristina Tavares com a cobertura do vazamento do petróleo, é jornalista profissional há 12 anos, com foco nos temas de economia, direitos humanos e questões socioambientais. Formada pela UFPE, foi trainee no Estadão, repórter no Jornal do Commercio e editora do PorAqui (startup de jornalismo hiperlocal do Porto Digital). Também foi fellowship da Thomson Reuters Foundation e bolsista do Instituto ClimaInfo. Já colaborou com Agência Pública, Le Monde Diplomatique Brasil, Gênero e Número e Trovão Mídia (podcast). Vamos conversar? raissa.ebrahim@gmail.com