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“Nossa sociedade tem um andar de baixo que sofre demais. Nós somos, em Recife, a cidade que mais mata por tuberculose entre as capitais brasileiras.”– Edilson Silva (PSOL), em debate de prefeituráveis no dia 29 de julho promovido pelo Grupo de Líderes Empresariais de Pernambuco, comlink para o YouTubepostado na página oficial do candidato no dia 15 de agosto.
A Organização Mundial da Saúde (ONU) coloca o Brasil no rol de 22 países de alta carga priorizados no combate à tuberculose no mundo. O Brasil ocupa a 18aposição no ranking internacional da doença, representando 0,9% dos casos estimados no mundo e 33% dos casos nas Américas.
Embora tenha havido uma redução gradual na incidência e morte nos últimos dez anos, entre 2004 e 2015 foram notificados uma média de 70 mil casos novos e 4.400 mortes por ano, segundo Boletim Epidemiológico da Secretaria de Vigilância Sanitária do Ministério da Saúde.
O candidato do Psol, Edilson Silva, afirmou que, dentre todas as capitais do país, Recife é a cidade que mais mata por tuberculose. Associada às más condições sanitárias e de moradia e à dificuldade de adesão dos pacientes ao tratamento (portanto à eficácia do acompanhamento pela rede de saúde), a declaração de Edilson Silva toca indiretamente na questão da desigualdade social da capital pernambucana.
Procurada peloTruco Eleições 2016– projeto defact-checkingdaAgência Públicaem parceria com aMarco Zero Conteúdono Recife –,a assessoria do candidato informou que os dados mencionados por ele haviam sido contabilizados no DATASUS, sistema de informatização de dados do SUS.
Checamos a declaração do candidato e verificamos que ela está correta, mas falta contexto, portanto recebe a carta “Tá Certo, Mas Peraí”. De fato, Recife é –proporcionalmente ao número de habitantes –a capital do Brasil que registra o maior número de mortes ocasionadas por tuberculose, segundo levantamento realizado pela Marco Zero Conteúdo no Sistema de Informações sobre Mortalidade (SIM) do DATASUS, mas fica em terceiro no ranking nacional de casos absolutos de óbitos e no de incidência da doença.
Essa distinção entre mortes por 100 mil habitantes (proporcional) e número de mortes absolutas é importante para não gerar mal entendidos na opinião pública.
Pelos dados levantados pela Marco Zero foram 117 mortes por tuberculose de pessoas residentes em Recife em 2014, para uma população estimada pelo IBGE em 1.608.468. Média de 7,27 mortes por 100 mil/habitantes. Em segundo lugar no levantamento proporcional fica o Rio de Janeiro, com uma média de 7,06 mortes por 100 mil/habitantes. E em terceiro lugar Maceió com 5,96 mortes por 100 mil/habitantes.
Acompanhando a série histórica de 2010 até 2014, verifica-se a alternância entre Recife e Rio entre as capitais com maior número proporcional de mortes por tuberculose, seguidas por Belém e, mais recentemente, Maceió e Cuiabá, conforme pode ser verificado no quadro abaixo:
Os dados proporcionais mostram uma queda no percentual de mortes por tuberculose em Recife de 2012 (último ano da gestão petista de João da Costa) para 2013 (primeiro ano da gestão de Geraldo Júlio), mas registram um novo aumento em 2014. Os números de 2015 ainda não estão disponíveis no sistema.
No ranking de mortes absolutas, de 2014, o Recife ocupa a terceira colocação, perdendo para o Rio de Janeiro com 456 óbitos ocasionados pela tuberculose e para São Paulo com um total de 336 mortes, como pode ser acompanhado pelo gráfico 2.
Neste caso, o Recife tem a companhia de Salvador e Fortaleza logo atrás, com 100 e 85 mortes respectivamente.
Se contabilizarmos os dados proporcionais de incidência da doença registrados para o ano de 2015 no DATASUS, Recife fica em terceiro lugar. Quem lidera o ranking de registros de casos novos de tuberculose por ano é a capital do Amazonas, Manaus, com 98,60 casos para cada 100 mil/hab, em segundo lugar vem Porto Alegre com 90,73 casos, seguida por Recife (84,90), Rio de Janeiro (75,48) e Porto Velho (57,48).
(Laércio Portela e Thayná Campos)
Co-autor do livro e da série de TV Vulneráveis e dos documentários Bora Ocupar e Território Suape, foi editor de política do Diário de Pernambuco, assessor de comunicação do Ministério da Saúde e secretário-adjunto de imprensa da Presidência da República